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SAUDADES DE UM FANÁTICO TORCEDOR

22 / agosto / 2023

por Zé Roberto Padilha

Se por um lado o futebol me proporcionou uma desafiadora e encantadora profissão, por outro, ao viver a realidade de ser dirigido por cartolas, despreparados e amadores, oriundos do quadro social, não da Fundação Getúlio Vargas, vi escorregar aos poucos, pelos dedos que conduziam minha bandeira, a emoção passional, única e irrefletida de ser um fanático torcedor.

Ao deixar as arquibancadas e ocupar os vestiários, são as gestões que o dirigem, não mais os jogadores, que irão conduzir os rumos de sua idolatria.

Para cada Escurinho, Gilson Nunes, Lula que me encantavam em campo, surgiram nos gabinetes presidentes Arnaldos Santiagos que me desencantaram. Francisco Hortas que me trocaram quando mais reunia méritos e alcançava a titularidade para defendê-lo.

Acreditem, nada é mais sem graça depois de discutir, em bares e botequins, que se tornar um torcedor racional. Deixar de ficar nervoso com um corner contra sua meta e não saber de cabeça um só grito uníssono de guerra.

Deixar de pedir pênalti com a bola que você mesmo viu que bateu no peito do zagueiro adversário. E contestar depois as próprias imagens do VAR.

Pedir a saída do treinador, que perdeu o cargo porque seu atacante perdeu o gol. Pior, ir ao aeroporto receber nos braços o mesmo Cuca que na competição passada deixou o clube debaixo de seus protestos e vaias.

Nada é mais cruel que assistir o jogo ao lado de quem preservou valores que você deixou escapar. E preservou sua paixão. Mesmo sendo sua paixão. “Foi na bola. O Felipe Melo entrou na bola!”, ela protestou. E mesmo com o adversário saindo de maca, você precisa concordar.

Caso não queira dormir na sala. Ou na maca.

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