por Paulo-Roberto Andel
Na segunda-feira passada eu tive a agradável surpresa em assistir o amistoso São Cristóvão versus Rússia Sub23 em Figueira de Melo, um acontecimento marcante e que, por parte da imprensa esportiva, foi tratado até com certo deboche inconveniente – se pensassem no vocabulário pernóstico que ostentam, talvez fosse diferente. De toda forma, o amistoso em casa fez do time cadete um assunto nacional.
Neste domingo, mal acordei para trabalhar e ploft: dei com a cara no celular em carregamento. Ainda meio grogue de sono, peguei o smartphone e logo surgiu uma foto espetacular, publicada pelo Marcelão, que faz um trabalho fantástico de valorização dos times do passado nas redes sociais. Quando me dou conta, é ele de novo: o São Cristóvão, posando antes de uma partida válida pela Segunda Divisão carioca no ano de 1986.
Não reconheci o estádio com sua arquibancada deserta, mas a foto indicava a escalação. Ao lado do goleiro Toninho, estavam perfilados em pé Carlão, Índio, Galocha, T. Roma e Palito. Agachados, Romeiro, Tiganá, Peu, Marconi e Helinho.
Ultimamente, o que mais se ouve nas transmissões de futebol é a expressão “jogador histórico”, geralmente atribuída aos craques vencedores, um equívoco porque a história é o conjunto total, não apenas de quem triunfou. A história não se limita às conquistas, há muito mais do que isso. A história é tudo, tudo, e não está amarrada exclusivamente aos super vencedores e protagonistas.
Logo que me tornei um torcedor mirim, aos dez para onze anos de idade, o meu Fluminense aplicou algumas goleadas sobre o querido São Cricri. Mas também perdeu uma por 1 a 0. Nunca mais me esqueci.
O futebol brasileiro terá grandes jogos neste domingo na Série A, como sempre acontece, e também terá dezenas de partidas com pouco ou nenhum público nos quatro cantos do país. Em todas elas, a história deste apaixonante jogo de bola ganhará mais um capítulo, pouco importando se numa arena confortável e economicamente poderosa ou em campos humildes subestimados.
De algum jeito, aquela foto publicada pelo Marcelão, feita há quase quarenta anos, carrega consigo um monte de história, mesmo que nenhum de nós saiba ao certo quais exatamente são. Não importa. Mesmo massacrados pela cartolagem, desprezados pelos veículos de comunicação, às vezes sobrevivendo em condições precaríssimas, os times brasileiros de menor visibilidade e investimento persistem e sobrevivem. Aí está o belo e valoroso São Cristóvão, eterno bicampeão carioca – clube de coração de um dos maiores pesquisadores da história do nosso futebol, Raymundo Quadros – que não nos deixa mentir, seja num inesperado amistoso internacional em Figueira de Melo, seja na simples lembrança de uma postagem no Facebook.
@pauloandel
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