:::: por Paulo Cezar Caju ::::::::
Na Índia, a vaca é considerado um animal sagrado, mas por aqui ela também tem feito milagres. Falo sobre a vaquinha, tradicional forma de arrecadação de grana. Se não fosse a vaquinha talvez Gilson Gênio ainda não tivesse sido enterrado. O Fluminense pulou fora dessa responsabilidade e o presidente (nem sei o nome) não ajudou com os dois mil reais necessários.
Quanto custou mesmo o passe do menino Gerson que o Flu vendeu para a Roma, mas parece que já está voltando? Alguns milhõeszinhos? Não daria para pagar o enterro, presidente?
Tem uns dois dias estava assistindo ao jogo de despedida do Totti, na Itália, e me emocionou a festa preparada para ele. O Mendonça, ídolo do Botafogo, vive lamentando que não teve jogo de despedida. Ninguém imagina o que o Mendoncinha sofreu por não ter conquistado um título por seu time de coração. Por anos encheu a cara e, agora, está internado num hospital de Acari, o mesmo em que morreu, sem plano de saúde, o rubro-negro Paulo Henrique, ex-jogador e técnico campeão da Copinha pelo Flamengo. Antes de ser internado, Mendonça rodou por vários hospitais.
Os clubes se esquivam e ajudam só no limite do limite do limite, principalmente se for render alguma matéria em tevê. Os dirigentes canastrões precisam de visibilidade, se consideram sérios administrando multinacionais. Imagina se formos ajudar todos os jogadores, argumentam. Tem que ajudar, sim! Se organizem para isso, os empreguem nas categorias de base, invistam em sua educação, montem times másters e ofereçam estrutura para que eles próprios façam seu pé de meia com jogos de exibição. Alguns clubes grandes sequer dão uniformes e os ex-jogadores precisam fazer o que? Vaquinha, claro.
Se não fosse essa vaquinha já teríamos ido para o brejo há tempos. Recentemente, Amarildo foi barrado no Maracanã. Vários campeões do mundo já foram barrados porque não existe respeito nem memória nesse país. Há algum tempo o governo federal estipulou uma pensão para os campeões do mundo, que não recebem nada da CBF, mas alguns procuradores suspenderam. Amarildo, com dificuldades financeiras, briga na justiça. Eu também.
Talvez fosse o caso de montarmos o Retiro dos Jogadores, como o dos Artistas. Aí, poderemos morrer em paz. Mas, peraí, acabei de ouvir que roubaram os restos mortais de Garrincha!!!! É, não está fácil para ninguém e nem morrer em paz estamos podendo mais.
– texto publicado originalmente no jornal O Globo, em 3 de junho de 2017.
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