OS CANHÕES DE SAMARONE
vídeo e reportagem: André Fernandes | texto: André Mendonça | edição: Daniel Planel
André Fernandes, fundador da Agência de Notícias das Favelas, arrumava as malas para visitar a filha Kauanne, em Cascavel, no Paraná, quando a equipe do Museu da Pelada lançou o famoso “já que…”. André pensou “lá vem bomba!” e franziu a testa quando soube do pedido: entrevistar Samarone, ídolo tricolor. Rubro-negro de fé, André safou-se com uma observação relevante: “Topo porque ele jogou no Mengão!”. Ufa!!! Para André, missão dada é missão cumprida. E, nesse caso, comprida, afinal foram 1.300 quilômetros até o Sul do país, região para onde o craque mudou-se há muitos anos e trabalha como engenheiro do DNER (Fundação Departamento Nacional de Estradas de Rodagens). Mas valeu porque teve uma aula de futebol com Wilson Gomes, o menino, que chute após chute, ouvia a expressão “Os Canhões de Samarone” numa divertida comparação com o filme britânico, que fazia sucesso na época, “Os Canhões de Navarone”, com Anthony Queen e Gregory Peck.
Desde moleque Samarone se destacava nas peladas e arrebentava no Flamenguinho, do bairro Campo Grande, em Santos, até ser convidado para integrar a equipe de divisões de base da Portuguesa Santista. Foi nessa época que o amigo Zé Cabeça lançou o apelido que o acompanha até hoje.
– Só os familiares me chamam de Wilson Gomes, até estranho!
Na nova equipe, participou de dois Campeonatos Paulistas, com o intuito de conseguir o acesso do clube para a elite do futebol estadual. Se não teve êxito na primeira tentativa, a segunda não poderia ser melhor. Em 1964, na final contra a Ponte-Preta, em Campinas, o meia fez o gol da vitória e classificou a Portuguesa para a Primeira Divisão. De acordo com Samarone, foi o lance mais importante de sua carreira.
– Além de ter sido importante para a Portuguesa, aquele gol me deu muita visibilidade! Vários clubes demonstraram interesse, mas eu acabei indo para o Fluminense.
A transferência para o tricolor carioca ocorreu em 1965, aos 18 anos. Se por um lado o craque dava um grande salto na carreira, por outro teve que abandonar as peladas na várzea paulista, onde costumava jogar aos domingos, quando estava de folga.
No Fluminense, Samarone fez mais de 200 partidas, se tornando ídolo do clube. Prova disso foi a homenagem recente que o tricolor fez, presenteando o craque com uma camisa personalizada.
Em 70, o meia teve participação decisiva na conquista do Campeonato Brasileiro. Diante de grandes times como Cruzeiro, de Tostão e Dirceu Lopes, e Palmeiras, o Fluminense não tomou conhecimento e se sagrou campeão do torneio.
– Aquele título foi muito marcante! O Brasil havia acabado de ser tricampeão do mundo. As equipes eram muito fortes. Ganhar aquele torneio mostrou a força daquele grupo do Fluminense.
Depois do Flu, o meia se transferiu para o Corinthians, em 71. Na equipe paulista, não repetiu o sucesso do Rio, mas teve grande atuação no clássico contra o Santos, na Vila Belmiro, onde marcou um gol e ajudou a equipe a vencer por 4 a 2. A partida marcou também o reencontro de Samarone com os amigos que eram seus companheiros de pelada na infância.
Entre os grandes clubes, o meia ainda teve uma passagem pelo Flamengo em 73. No rubro-negro, mais um gol contra o Santos ficaria marcado em sua memória.
– Foi um gol memorável, pois o presidente Médici estava na Tribuna de Honra do Maracanã! Vencemos por 1 a 0!
Com o coração dividido entre Santos e Fluminense, Samarone não sabe dizer qual é seu time favorito. De acordo com ele, nos dias atuais, torce mais para um futebol bonito, com dribles e jogadas trabalhadas, do que para o resultado em si.
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