por Irineu Tamanini
Hoje, dia 26 de abril é celebrado o Dia do Goleiro, uma data criada em 1976 para homenagear uma posição no futebol que, em poucos segundos, pode ir do céu ao inferno com uma defesa importante ou uma falha vexatória. A data é, simplesmente, uma reverência a um dos principais goleiros da história do futebol brasileiro: Haílton Corrêa de Arruda, o Manga. Com histórico de Seleção Brasileira e passagem marcante por Botafogo, Inter e Grêmio, ele foi campeão por todos os clubes em que passou e, já que o dia 26 de abril é seu aniversário, tornou-se o momento de todos os goleiros serem lembrados.
A ideia de criar o Dia do Goleiro partiu de dois professores da Escola de Educação Física do Exército do Rio de Janeiro: o tenente Raul Carlesso e o capitão Reginaldo Pontes Bielinski. Carlesso, inclusive, foi um dos pioneiros no trabalho de preparação de goleiros no Brasil, tendo sido o primeiro treinador específico para a posição a atuar na comissão técnica da Seleção Brasileira em uma Copa do Mundo — durante o Mundial da Alemanha, em 1974. Inicialmente, a data era comemorada em 14 de abril. Isso porque naquele dia, em 1975, uma grande festa reuniu goleiros e ex-goleiros no Rio de Janeiro. Porém, a partir do ano seguinte, consolidou-se o dia 26 de abril.
Manga, à época, era goleiro do Inter. Havia sido campeão brasileiro em 1975 e seria, novamente, peça importante no bicampeonato em 1976. Antes disso, já havia conquistado inúmeros título com a camisa do Sport, do Botafogo e do Nacional-URU. Depois, viria a levantar taças também por Operário-MS, Coritiba, Grêmio e Barcelona-EQU. Além disso, disputou a Copa de 1966. Era reserva de Gilmar, mas foi titular na partida contra Portugal, vencida por 3 a 1 pelos europeus, que causou a eliminação do Brasil.
S.O.S goleiros
Paulo Roberto Xavier, de 61 anos é goleiro desde criança em Volta Redonda (RJ), onde nasceu. Filho e irmão de craques no futebol – seu pai, Xavier foi atacante e bicampeão no Atlético Mineiro e seu irmão, Wilton, ex-ponta-direita várias vezes campeão em supertimes do Fluminense, do Rio de Janeiro, na década de 1970. Para ele, que hoje tem uma empresa especializada em treinar jovens goleiros – a PRX Goalkeeper Academy – e divide sem tempo entre Porto Alegre e Garopaba (SC), “os goleiros estão sendo cada vez mais ridicularizados pela falta de responsabilidade e teimosia dos seus treinadores e preparadores de goleiros. Se é para os goleiros atuarem fora do gol, quem joga no gol?, pergunta Paulo Roberto Xavier que atuou durante muitos anos como goleiro em clubes dos Estados Unidos.
Para Xavier, os goleiros de hoje são bem treinados em relação ao treinamento técnico específico, porém pessimamente, e até levianamente, orientados. Parece que não existe diálogo entre preparador de goleiros e goleiros. Eu vejo goleiros mal posicionados no gol, com tempo de reação precário, sem noção de espaço ao sair em uma dividida com os atacantes, vez que outra abafa uma jogada, assim mesmo mais pela deficiência técnica do atacante que por sua habilidade de raciocínio… Dá uma forte impressão que evoluímos, mas a verdade é que nos castraram, tiraram a maior virtude do goleiro que é segurar bola, e defende a goleira como um fiel guardião. Assim como um todo, o goleiro ficou á Mercer do futebol tecnisista, o goleiro virou um robô pessimamente mal programado …
– Sequências de mal posicionamento por partes dos goleiros. No futebol atual os goleiros se destacam mais pela falta de qualidade dos jogadores que por suas virtudes. São poucos os Messis no futebol atual, e no Brasil não temos um jogador atualmente que possa deitar e rolar na debilidade técnica dos nossos goleiros, debilidade essa, imposta por seus treinadores. Se o Pelé estivesse jogando hoje no futebol brasileiro, faria um milhão de gols ao invés de mil – conclui Paulo Roberto Xavier.
Renato, também conhecido como “Aranha Negra”, ex-goleiro da Seleção Brasileira, do Flamengo, Fluminense, Atlético Mineiro e Bahia, aos 76 anos, morando em Uberlândia (MG), lembra que “se você acha que fazer gol é emocionante é porque nunca a fez uma defesa”. Essa frase – segundo ele – é exatamente o que penso sobre o goleiro. O zagueiro pode evitar um gol mas o goleiro está lá para evitar o gol mas fazendo uma defesa. A bola tem que morrer nele. Isso quando acontece o atacante faz o maior esforço, tenta dar o chute mais forte, procura o lugar para difícil mas se você pega essa bola e fica com ela, o atacante fica desmoralizado. O pensamento do goleiro não pode ser de outra maneira. Atualmente, vejo muito goleiro que é difícil fazer gol nele. Ele evita os gols. O goleiro tem que defender a bola, acabar com a jogada.
O goleiro é muito especial. A responsabilidade dele é enorme. Dificilmente um erro dele pode ser corrigido por algum companheiro. Toda a equipe tem que ter uma confiança enorme em suas qualidades, porque sabendo que o atacante adversário vai chutar mas a equipe sabe que tem um goleiro que vai pegar a bola, o time tem certeza que isso irá acontecer. Você tem que ter sempre a ajuda dos companheiros porque você tentar agarrar, não consegue e o companheiro precisa tirar a bola do alcance do adversário. Mas, repleto: o grande objetivo do goleiro é segurar a bola e acabar com a jogada do time adversário.
A partir daí, precisa iniciar a jogada de uma forma eficiente, boa e rápida. O goleiro é um ser completamente diferente. Ele treina separado, o treinamento dele é muito diferente do elenco. Ele se veste diferente. É o único que pode colocar as mãos na bola. Ele tem que ter muita eficiência. Na época que eu jogava aqui no Brasil nos goleiros enfrentamos os melhores atacantes do mundo. Diversas vezes fui jogar na Europa e a jogada do adversário é sempre a mesma, alçando a bola no segundo pau para o seu colega devolver de cabeça no meio da área. Na maioria das vezes podíamos cortar essa bola porque a jogada era sempre a mesma.
Aqui no Brasil era completamente diferente. Tinha um lateral-direito do Fluminense, já falecido, Oliveira que cruzava a bola de curva na área. Tinha também o Nelinho do Cruzeiro que todo cruzamento era difícil para o goleiro pegar. Felizmente o saudoso tenente Carlesso teve essa brilhante ideia de criar o Dia do Goleiro. Antigamente nos programas de televisão o goleiro somente aparecia na imagem pegando a bola no fundo da rede.
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