Escolha uma Página
Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors

ROMÁRIO RAIZ

1 / setembro / 2024

por Rubens Lemos

Em 1986, quando estourou de vez no Vasco, Romário recebeu jornalistas da Revista Placar na Vila da Penha, área pobre do Rio de Janeiro, onde morava com a família. Mostrou a cozinha do casebre onde se apertava com os irmãos, apresentou amigos de infância, caminhou pelas vielas e se despediu para sair ao treino em São Januário.

Romário seguiu em seu carro e a equipe de Placar atrás. Com menos de um quilômetro de trajeto, policiais militares fecharam o veículo do ainda cabeludo atacante, fizeram-no descer e revistaram suas roupas e o automóvel.

Um deles, ao reconhecê-lo, pediu e recebeu um autógrafo daquele que viria a ser o maior homem ofensivo do futebol. Palavra de Tostão e de Cruijff. O PM, morto de vergonha, foi sincero:

– Pô, Romário, desculpa aí, mas um mulato dirigindo um Monza novinho por essa área, a gente tem que desconfiar.

Hoje sucata, o Monza, da GM, era carro de luxo da época. O fotógrafo da Placar registrou a cena e o repórter – por sinal Tim Lopes, barbarizado por traficantes sádicos -, escreveu indignado seu texto.

Romário tem toda a razão em ser do jeito que é, desconfiado e enojado de hipocrisias. Romário em 1994, quando carregou sozinho nas costas, nas arrancadas e golaços a seleção brasileira do tetracampeonato, fez o asqueroso presidente da CBF, Ricardo Teixeira mandar de volta ao Brasil um sobrinho, que menosprezara o irmão do craque durante um treino.

– Ou ele volta ou eu não piso mais em campo!

O sobrinho mimado recebeu bilhete internacional da Varig. De retorno.

Passado na casca da malandragem, Romário sabia que o homem vale aquilo que pode oferecer e os salamaleques a ele dirigidos nos Estados Unidos significavam apenas a dependência de sua genialidade, engolida a seco pelo técnico Parreira e o coordenador e avô da retranca, Zagallo, que lhe pediram socorro para classificar o Brasil nas Eliminatórias quando a vaga esteve sob risco. Romário deu show sobre os uruguaios e bananas para os falsos.

Quando candidato e depois eleito deputado federal, foi tratado com ironia grosseira e comparado a personagens picarescos, do tipo do Cacique Juruna de antanho. Fez um bom mandato, enfrentou a Bancada da Bola, denunciou a corrupção na Copa do Mundo e dela foi banido, como sua bela página histórica pudesse ser arrancada.

Tão competente deputado federal, Romário consagrou-se Senador da República e, por aclamação, foi eleito presidente da Comissão de Educação, Cultura e Esportes. Preconceituosos saíram da toca e passaram a estocar nas redes antissociais a sua escolha, a sentenciá-la de ridícula.

Poucos são mais brasileiros do que Romário. Seus amigos, são os seus amigos do tempo de favela, dirigentes escroques, sempre tratou na merecida insolência. Romário na Comissão de Educação merece aplauso. Ele será a figura política, o mandato é fruto do dono e de uma assessoria competente.

Romário, por sinal, não figura em listagens sujas de desvios de dinheiro, lotadas de notáveis com diplomas e pós-graduações acadêmicas. Que nunca vão moldar um caráter. Tampouco educação. Ou uma personalidade capaz de orgulhar seu povo.

TAGS:

0 comentários

Enviar um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *