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ROMÁRIO: “MEU NEGÓCIO É FAZER GOL”

23 / agosto / 2022

por Elso Venâncio

Elso Venâncio entrevista Romário antes de um jogo na Gávea

Fui setorista do Vasco, na Rádio Globo, durante o bicampeonato carioca de 1987/88. O senador, hoje com poucos cabelos, a maioria brancos, tinha na época uma cabeleira encaracolada e o apelido de Toddynho.

A imprensa, com acesso direto aos jogadores, ficava ao lado do campo nos treinos e com facilidade escutava o promissor talento cruzmaltino:

– Meu negócio é fazer gol! – repetia sempre.

Foi o único atacante que acompanhei que era verdadeiramente obcecado em marcar gols.

O coletivo começava e era comum os titulares entrarem com somente 10 em campo. O “Baixinho”, aos 22 anos, preferia ficar atrás do gol, onde hoje está a estátua do artilheiro Roberto Dinamite, treinando e se aperfeiçoando nas finalizações. Ademar Braga, o preparador físico, era quem o auxiliava. Trave móvel, sem goleiro, o atacante dominava de costas, virava e batia. Pelo menos, por 30 minutos. Mas diariamente.

Chutes frontais e laterais, cabeceios, piques em diagonal sempre com a bola aos pés. Batia fraco, às vezes forte, vez ou outra colocado, dava fintas com gingas de corpo, enfim, a gente percebia sua satisfação pessoal. Treinamento físico? Arrumava um jeito de escapulir, sair dessa para ficar na sua, apenas batendo para o gol.

O garoto que havia saído do Jacarezinho e morava na Vila da Penha já era folgado. Em um coletivo, o lateral-esquerdo Lira reclamou aos gritos do treinador Sebastião Lazaroni e deu um bico na bola para a arquibancada. O técnico expulsou de imediato o lateral. Romário, amigo de Lira – e que já liderava a artilharia do Carioca –, pegou outra e igualmente a isolou com força:

– Me tira também!

Lazaroni levou todos os jogadores para uma longa conversa no vestiário.

O humorista Tom Cavalcante, logo após o “Tetra” conquistado na Copa dos Estados Unidos, em 1994, lançou uma música que viralizou. O nome, ‘Treinar pra quê?’:

“Treinar pra quê, se eu já sei o que fazer…”

Nos times em que atuou desde que retornou ao Brasil, Romário sempre deixou claro aos presidentes dos clubes:

– Não bebo, mas gosto da noite. Por isso, só treino à tarde.

Os técnicos, porém, não sabiam do combinado:

– Onde está o Romário?

À tarde, assim que o craque surgia era imediatamente abordado pelo supervisor. De bate-pronto, respondia:

– Pergunta ao presidente…

Muitas vezes, nem à tarde o goleador aparecia. Júlio Leitão, diretor de futebol do Flamengo, cansou de ir até o quiosque Viajandão, na Barra da Tijuca, implorar para que ele voltasse para a Gávea:

– Estou treinando! – argumentava, bem-humorado. Na verdade, jogava futevôlei com alegria, e a cada ponto marcado parecia se lembrar das finalizações que matava todo e qualquer goleiro na área adversária.

Ah… falei sobre o tema porque ainda tento apagar da memória o chute na trave do Gabigol, após passe de Pedro, diante do Athletico Paranaense. Gol enorme! Escancarado! Se praticasse forte esse fundamento, não teria como errar…

*Elso Venancio foi setorista do Flamengo por 11 anos seguidos (de outubro de 1988 a dezembro de 1999) e cobriu a seleção brasileira em 3 Copas do Mundo (1990, 1994 e 1998)

1 Comentário

  1. Tadeu cunha

    Fico com comentário do GENIAL CRUYFF sobre o baixinho,dentro da área foi o melhor do mundo.

    Responder

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