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ROMÁRIO, ESTETA DO GOL

23 / julho / 2024

por Rubens Lemos

Se alguém me acordasse de um sono profundo em meio a uma guerra e me pedisse uma pessoa para me salvar, não teria dúvidas em dizer: Romário. Se a Divisão Panzer alemã da Segunda Guerra Mundial me ameaçasse inteirinha, eu gritaria por Romário. Numa ilha, solitário, berraria por Romário para me livrar do destino e dos pesadelos.

A primeira Copa do Mundo que “ganhei” de corpo presente foi a de 1994 depois de ver a primeira, em 1978. Quando cenas fatalistas se transformam em imagens esparsas é porque estamos envelhecendo.

Pois se estivesse num abrigo, eu, 80 anos pediria por Romário para contar histórias do tetracampeonato dos Estados Unidos, que está completando três décadas este mês de julho.

Nunca gostei de Zagallo e sua mania de perseguição sobre Romário ampliou a antipatia. O Brasil começou a ganhar o quarto título do planeta em setembro de 1993, quando Parreira, aflito pela possibilidade de eliminação da fase classificatória, ouviu o Mundo e mandou chamar Romário em Barcelona.

Revejo diversas vezes aquele Brasil 2×0 Uruguai, que, senão tivesse Pelé ou Zico, eu diria que foi a maior exibição individual de um jogador diante de quase 200 mil pessoas entre a tensão e a catarse. O Uruguai foi um bom sparring, mas a bola, caprichosa, procurava seu amante.

Romário deu caneta, meia-lua, driblou três adversários e marcou os dois gols que deveriam ilustrar em VT gigante cada peleja no Maracanã dos ricos: seria para mostrar que o futebol acabou no Brasil e um dos motivos foi Romário ter deixado de pisar em campo. Com ele jogando, não tínhamos medo de nada e de ninguém.

Classificada, a seleção convocada foi a mais organizada de todos os tempos, mais até do que a de 1958, brilhante e sem discussões porque tinha Pelé, Garrincha e Didi.

Em 1990, o caricato Sebastião Lazaroni fez um time de compadres, perdeu o comando e nós fomos tragados pelas fintas de Maradona, ele próprio vítima de uma bola por entre as pernas no ano anterior, pelo camisa 11 de amarelo.

Me peçam e conto aqui como foi cada gol de Romário nos Estados Unidos. Na estreia, bateu rasteiro dentro da grande área uma bola vinda de escanteio e escolheu o pé de apoio do goleiro Dimitri Karin, que o havia desafiado dizendo não o conhecer. Quem não conhecia Romário foi vítima de sua fúria técnica.

No mesmo primeiro jogo contra os soviéticos, Romário foi derrubado e Raí, titubeando, bateu o pênalti do 2×0. Contra Camarões, Dunga meteu uma bola de curva, obra de Didi ou Zizinho e a bola caiu em pleno domínio de Romário que bateu na saída do goleiro. Contra a Suécia, ele apresentou ao mundo o toquinho no canto do goleiro Ravelli no empate em 1×1.

O jogo mais difícil do Brasil foi contra os Estados Unidos e Romário presenteou Bebeto com um passe de compasso. Bebetinho só tirou a bola do goleiro Meola. Contra a Holanda, há a batida esplêndida com o peito do pé abrindo o placar que Branco fechou com uma cobrança de falta perfeita. Romário, tão gênio, desviou a bunda da bola e ela entrou no cantinho.

Contra a Suécia, o suor tomou conta de todo brasileiro. Uma sequência de gols perdidos no primeiro tempo, Romário transformando zagueiros em peças caindo uma atrás da outra. Ravelli desejou pegar tudo e estava conseguindo.

A Suécia ameaçou ser a zebra até que no segundo tempo Jorginho, o terceiro maior lateral-direito do Brasil (só perde para Leandro e Carlos Alberto Torres) cruzou como se tivesse uma régua, na cabeça de Romário, que parecia saltar como acrobata das quatro linhas, marcando o gol da ida à final contra a Itália.

Romário perdeu um gol feito no segundo tempo e foi marcado em cima pelo monstro Baresi. Não treinou um pênalti sequer. Parreira olhou para ele. Romário bateu mal, a bola triscou na trave e entrou. O Brasil conquistou o tetracampeonato. Um ótimo time regido por ele, Romário, que também pode ser a melhor palavra a ser dita em vida.

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