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ROBERTO DINAMITE, QUIXOTESCO

3 / setembro / 2023

por Rubens Lemos

Uma data, entre tantas, desagradáveis em minha vida é o dia 8 de janeiro. Dia da morte de Roberto Dinamite, maior ídolo do Vasco, o espelho de um clube democrático, o primeiro a aceitar negros vestindo sua camisa. Há nove meses, reverso de uma gestação. 

Roberto Dinamite é uma ausência punitiva. Seu sorriso triste e a simplicidade de pureza natural, foram embora e o jeito é sair procurando fotos na galeria da internet e imagens definitivas no Youtube. 

Pelo menos duas vezes por semana, procuro rever gols de Roberto Dinamite, o ídolo semelhante ao humilde torcedor. 

Meu ritual, jamais repetitivo, é a homenagem que presto a quem tornava meu céu menos cinza, impondo o azul da felicidade a quem só tinha o futebol para se agasalhar das dores cotidianas. 

A infância, primavera quando chega, outono quando vai embora, me apresentou ao artilheiro do Vasco, único homem a contracenar com Zico nas tardes de clássico no Maracanã ocupado por 120, até 160 mil almas em tensão e delírio. 

Centurião da grande área, Roberto Dinamite me fez vibrar com o título estadual de 1977, primeira sensação de superioridade a mim consentida. O Vasco venceu o Flamengo nos pênaltis por 5×4 e um tabu de sete anos era jogado no lixo das aflições  impiedosas. 

A partir de 1978 e até 1982, Roberto Dinamite fazia de suas chuteiras, lanças para o desigual combate ao Flamengo, que começava a empolgar o país com um timaço que ganhou um título mundial, uma Libertadores, três brasileiros e quatro cariocas. 

Roberto Dinamite, quixotesco, construía vitórias que, de tão impossíveis, podem ser lembradas no medíocre texto ora em gestação. Em 1979, o Vasco enfiou 4×2 no Flamengo com três gols do Camisa 10 da Colina, como também era chamado pelos locutores da época. 

Em 1981, roubaram o Vasco como se a sina que agora é imposta nos dias atuais, fosse uma regra escrita em regulamentos ou estatutos. O Flamengo precisava empatar a primeira partida para ser campeão carioca. Roberto Dinamite não deixou, aqueceu o gelo do chope rubro-negro, fazendo os gols do 2×0. 

O segundo jogo foi debaixo de uma tromba d`água no Maracanã. O empate em 0x0 persistia, os 22 jogadores parecia campeões subaquáticos, quando, aos 42 minutos, uma bola espirra até Roberto Dinamite. Chute rasteiro, bola por baixo do excepcional goleiro Raul. Acabava a vantagem, taça sairia no pau a pau. 

O Flamengo deu um olé no Vasco no primeiro tempo. Um público de 161.989 fanáticos dividiu o Maracanã. Adílio abriu o placar aos 20 minutos, Nunes ampliaria para 2×0 quatro minutos depois. O Vasco reagiria na etapa final. Marcou um gol com o patético atacante Ticão aos 38 minutos do segundo tempo e pressionava o adversário que tinha a superioridade e o triunfalismo da diferença técnica. 

O Flamengo – que tinha um time que nunca precisaria de arbitragem, conteve a superioridade vascaína quando um ladrilheiro invadiu o gramado, fez baderna diante do policiamento apático e, congelado o Vasco, comemorou o campeonato.

Cercado por jogadores de bom nível – nenhum craque -, Roberto Dinamite comandou com raça e amor, o título que diminuiu a pose do Flamengo. O Vasco venceu de 1×0, gol do ponta-esquerda Marquinho, mas o fato é que Roberto Dinamite significava os 11 em campo. 

Na seleção brasileira, foi sacaneado pelo menos duas vezes. Em 1978, só foi à Copa da Argentina porque Nunes, o preferido do técnico Cláudio Coutinho, se machucou. Roberto Dinamite, paciência dos pássaros aprisionados, entrou no time contra a Áustria e fez o gol da vitória por 1×0. 

Telê Santana foi um carrasco de Roberto Dinamite. Convocou o melhor centroavante do Brasil no final de 1981, ele correspondeu. 

Roberto Dinamite foi esquecido e viajou a Espanha em 1982 para passear. Reserva de Serginho Chulapa foi castigo. Para penitência da seleção dita maravilhosa. Com Roberto Dinamite, não perderíamos para a Itália.  

Até 1992, aos 38 anos, o Vasco não se confundia, se agigantava na imagem emotiva de Roberto Dinamite. Dele, serei órfão até morrer. E depois.  Quer saber? Arrancaram de mim um pedaço. Ele se chama Roberto Dinamite. 

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