por Leymir Moraes
Pode ser até que ame o BFR, e se o amo, o faço por linhas tortas. Não as linhas tortas que nos legou Deus nosso Senhor, e sim as linhas tortas dos dedos tortos, da muralha denominada Manga.
Manga o ágil, o milagroso, o membro de um esquadrão que juntava além de si, Zagallo, Garrincha, Nilton Santos, Quarentinha, Amarildo e Didi.
Dedos tortos de suicidas defesas, e sacolas de feira às custas do CRF de Dida, Carlinhos e Gerson.
O Flamengo que amo com linhas retas, retas sim, mas de arquitetos ébrios como Wilson Batista, Perácio e Vevé. Devoto ao Mengo um amor retilíneo como os desarmes limpos de Domingos.
Amar um rival é mais complexo, é quase um descuido, um drible que você não percebeu e te deixa espatifado diante de um Maracanã inteiro. O Maracanã verdadeiro, não este.
O Maracanã de 158.994 súditos que obrigou todo Flamengo a amar o anjo das pernas tortas, Mané Garrincha, em 15 de dezembro de 1962.
O homem, com a Copa embaixo dos braços, entortou sem piedade e empáfia o retíssimo e nobre Jordan, e seu então fiel escudeiro, Gerson, o Canhota, dono dos lançamentos mais retos da história do futebol.
Engraçado, amar Garrincha mesmo apanhando de três e com três gols seus (um deles generosamente dividido com Vanderlei), não me é difícil, difícil seria não amá-lo.
Tire o Sorriso do rosto torcedor Vascaíno, pois vocês em perjúrio também amaram e ainda amam Rivelino, que imortalizou o fidelíssimo Alcir Portela com seu elástico perfeito. Tal qual o torcedor alvinegro agradece entre os lábios ao “moço que mora em Caxias” que recebeu no peito, chapelou Osmar e fuzilou o arco de Wendel! Salve, salve Roberto Dinamite e Vitorino Vieira!
“E eu sei, meninos eu sei”, tricolores amaram em Fevereiro 1986 e ainda amam o “jogador de Maracanã”, o “pipoqueiro”, o “bichado” Zico, que é o Messias do meu amor mais reto e de mais 42 milhões de apaixonados que o proclamam Rei! Assim mesmo, sem aspas.
Ciente de vossas infidelidades eu sou, pois partilho do mesmo andor. Porque amo Queixada, o maior artilheiro brasileiro de todas as Copas, e lamento não poder abraçar e pedir perdão ao brioso e destemido Bigode, e ao craque campeoníssimo Barbosa.
O amor em nosso mundo é um Maraca dividido entre retidão e sinuosidade, os dedos tortos de Manga e as faltas perfeitas de Zico, o mesmo drible que finge dividir vencedor e vencidos, agrega na eternidade os honestos Vanderlei, Alcir, Wendell, Osmar e Leomir , juntos a Deuses como Garrincha, Rivelino, Roberto e Zico.
Rivalidade é quase amor, e essa é a linha torta mais perfeita que traçou o Criador, o segredo mais íntimo de Geraldinos e Arquibaldos. Eu sei, é constrangedor, mas qual grande amor não é?
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