por Zé Roberto Padilha
Há pouco mais de oito meses, era comum passar pelo Júlio, meu vizinho, e ele reclamar: “Não vamos subir de jeito nenhum com esse time!”. Pela campanha, tinha razão, seu time se arrastava na competição ao lado do Vasco.
Como num passe de mágica, o time se encontrou. Sem o Julio perceber, acabei lhe contando depois, o Botafogo engatou uma serie de bons resultados. E não apenas retornou à primeira divisão, como foi o Campeão da Série B.
Havia uma unanimidade diante desse milagre: o treinador Enderson Moreira. Recolheu os cacos que encontrou, os colou e apresentou um time sólido e unido. Na última partida, foi ovacionado pelos torcedores. E deu uma volta olimpica inédita no Engenhão, cena que jamais fora concedida a um treinador.
Já de volta à elite, apareceu, claro, um investidor interessado: John Textor. Se o time cai, nem daria as caras. E logo na terceira rodada do estadual, demite o principal responsável pelo investimento que adquiriu.
Pior foi a desculpa: “Em nome da transição de um novo modelo de gestão, mudanças são necessárias e naturais ao projeto!”.
Partindo de um empresário, frio e calculista, que se torna da noite para o dia um cartola, tudo bem. Seria demais exigir que conhecesse a importância da estrela solitária dentro do futebol brasileiro.
Mas e quanto à torcida que o reverenciou? Não protestou? Por que não invadiram o treino para defender aquele indefeso cidadão que sempre perseguem após uma derrota?
O silêncio e a omissão dos torcedores do Botafogo, em relação a quem lhes trouxe a mais recente conquista, tem sido uma das maiores provas de ingratidão que já presenciei no futebol.
Pior do que isso é trazer outro apóstolo de Jesus, como se milagres fossem alcançado por qualquer Luiz Castro.
A memória do torcedor é apenas superior a razão que sobrou do seu fanatismo. É fraca, mas como dói.
Ao Enderson Moreira, nosso apoio, respeito e solidariedade.
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