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UM PASSAGEIRO ENTRE OS GUERREIROS

20 / agosto / 2021

por Zé Roberto Padilha


Se você, jogador de futebol do Fluminense, for trocado um dia por um do Flamengo, mesmo sendo um tricolor apaixonado, abaixe a cabeça e vida de gado, povo feliz, não reclame. Siga em frente. E sorria.

Quando fui trocado pelo Doval, era titular absoluto da Máquina Tricolor. Didi, o treinador, não abria mão de minha aplicação tática para cobrir os avanços do lado esquerdo de Rivelino, Edinho e Marco Antonio.

Ze Mário cobria o direito, pois subiam Toninho, Paulo Cezar, Cléber e Pintinho.

Disse aos repórteres: não quero sair do Fluminense. Eles estamparam na capa: Zé Roberto não quer ir para o Flamengo.

Diferente não?

Acabei trocado pelo Doval.

E indo para um clube em que os seus dirigentes não mais me queriam. E saí de outro que ficou ressentido porque fui reforçar seu maior adversário.

Fiquei mal dos dois lados.


Deixei o Fluminense após jogar sete anos, ajudar a levantar duas Taças Guanabara (73 e 75) três Estaduais (71, 73 e 75,), um estadual Juvenil (70) e vários torneios.

De vez em quando perguntam: quem, afinal, levou vantagem no primeiro troca troca do futebol brasileiro? Eu mesmo respondo: o Fluminense, pois foi bicampeão estadual e o Doval fez o gol do titulo.

Futebol é momento.

Mas nunca perguntaram ao Wikipédia qual dos dois merecia, pelo conjunto da obra, ter sua foto estampada junto a um mural onde ficariam expostos os maiores guerreiros tricolores em sua sala de troféus.

Esta semana fui visitar o clube. E levei o meu filho. Se fosse o contrário, e o Doval, já falecido, levasse o seu filho para visitar a Gávea, por onde jogou uma eternidade, ele passaria o constrangimento que passei.

Bruno pensou, muito ético, não disse: pai tem certeza que seus álbuns, medalhas e faixas são verdadeiros?

Depois daquele quadro, acho que minha vida foi mesmo toda uma ilusão.


Pois colocaram a foto do Doval. E omitiram a minha e de tantos que por lá foram guerreiros. Guerreiros na concepção de luta, entrega, amor à camisa.

Não seus maiores artilheiros. Ou craques passageiros.

Moral da história: vocês, pais, têm certeza que querem que seus filhos joguem bola? Para depois eles levarem seus Brunos e… esquecem. Coloque-os para estudar.

Essa guerra em que participei quem venceu foi a ingratidão.

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