por Zé Roberto Padilha
Se você, jogador de futebol do Fluminense, for trocado um dia por um do Flamengo, mesmo sendo um tricolor apaixonado, abaixe a cabeça e vida de gado, povo feliz, não reclame. Siga em frente. E sorria.
Quando fui trocado pelo Doval, era titular absoluto da Máquina Tricolor. Didi, o treinador, não abria mão de minha aplicação tática para cobrir os avanços do lado esquerdo de Rivelino, Edinho e Marco Antonio.
Ze Mário cobria o direito, pois subiam Toninho, Paulo Cezar, Cléber e Pintinho.
Disse aos repórteres: não quero sair do Fluminense. Eles estamparam na capa: Zé Roberto não quer ir para o Flamengo.
Diferente não?
Acabei trocado pelo Doval.
E indo para um clube em que os seus dirigentes não mais me queriam. E saí de outro que ficou ressentido porque fui reforçar seu maior adversário.
Fiquei mal dos dois lados.
Deixei o Fluminense após jogar sete anos, ajudar a levantar duas Taças Guanabara (73 e 75) três Estaduais (71, 73 e 75,), um estadual Juvenil (70) e vários torneios.
De vez em quando perguntam: quem, afinal, levou vantagem no primeiro troca troca do futebol brasileiro? Eu mesmo respondo: o Fluminense, pois foi bicampeão estadual e o Doval fez o gol do titulo.
Futebol é momento.
Mas nunca perguntaram ao Wikipédia qual dos dois merecia, pelo conjunto da obra, ter sua foto estampada junto a um mural onde ficariam expostos os maiores guerreiros tricolores em sua sala de troféus.
Esta semana fui visitar o clube. E levei o meu filho. Se fosse o contrário, e o Doval, já falecido, levasse o seu filho para visitar a Gávea, por onde jogou uma eternidade, ele passaria o constrangimento que passei.
Bruno pensou, muito ético, não disse: pai tem certeza que seus álbuns, medalhas e faixas são verdadeiros?
Depois daquele quadro, acho que minha vida foi mesmo toda uma ilusão.
Pois colocaram a foto do Doval. E omitiram a minha e de tantos que por lá foram guerreiros. Guerreiros na concepção de luta, entrega, amor à camisa.
Não seus maiores artilheiros. Ou craques passageiros.
Moral da história: vocês, pais, têm certeza que querem que seus filhos joguem bola? Para depois eles levarem seus Brunos e… esquecem. Coloque-os para estudar.
Essa guerra em que participei quem venceu foi a ingratidão.
0 comentários