por Elso Venâncio
Vendo o desespero dos clubes, contratando essa enxurrada de portugueses, e observando a dificuldade do Paulo Souza em arrumar o Flamengo, o que é preocupante, me lembrei do Carlinhos. De repente, Everton Ribeiro, sem cacoete para a posição, vira ala. Filipe Luís na zaga? Bruno Henrique joga pelo meio e Gabigol, longe da área. E o que é pior: ninguém sabe quem é titular.
Essa febre dos lusos surge após o surpreendente sucesso do Jorge Jesus. Aliás, performance que ele jamais repetirá em outro clube. Mas não podemos negar seus méritos: definia o time, jogava no ataque e se mostrou um líder rigoroso e ideal para um trabalho de tiro curto.
Imagina se o Carlinhos tem esse grupo atual à disposição? Ele entrava sempre na podre. Tá ruim? Chama o ‘Violino’. E resolvia, apostando na garotada. Tempo em que craque o Flamengo fazia em casa. Lembra da demissão do Carlinhos após o título da Mercosul, em 1999? Como é que pode? Decisão do dirigente Gilmar Rinaldi, o mesmo que afastou Romário.
Acompanhei muitos treinadores, mas poucos influíam diretamente no jogo. Diz a lenda que Vicente Feola cochilava no banco da seleção. E o Santos, de Pelé? Sim, Lula dirigiu aquele esquadrão entre 1954 e 1966. Mas era discreto. Como Carlinhos e como Antoninho, que o substituiu.
Telê, Zagallo e Didi foram os grandes treinadores que acompanhei de perto. Cito outros dois, Carlinhos e Wanderlei Luxemburgo – este, quando se preocupava somente com campo e bola.
O técnico não pode ser a estrela. Esse papel é do craque. O árbitro também. Tinha o ditado que ‘juiz bom é aquele que passava despercebido no jogo’. Com as câmeras de TV, os treinadores viraram verdadeiros atores à beira do campo. E os árbitros? Têm também o seu momento de glória, quando sinalizam o VAR.
Tostão escreveu em seu livro “Tempos Vividos, Sonhados e Perdidos” que, numa excursão à Europa, Gerson, o inesquecível ‘Canhotinha de Ouro’, reuniu certa vez os jogadores no meio do campo e trocou de forma radical alguns posicionamentos. A seleção deu show e goleou. Zagallo, na coletiva, explicava sem passar recibo a novidade tática. O Velho Lobo, após o jantar no hotel, foi à recepção e ficou conversando com Gerson, que tinha dificuldades para dormir, até de madrugada…
Então, pergunto. Até onde vai a importância e a influência do treinador?
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