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SAF E SAFADEZA

12 / janeiro / 2022

por Ricardo Dias


O mundo da bola anda alvoroçado. Surge no horizonte a salvação, a estrela-guia, a solução: as SAFs, Sociedades Anônimas do Futebol. Ronaldo chega ao Cruzeiro com ares de salvador, ovacionado pela torcida – até a hora em que Fabio, o grande ídolo, foi bicado. E nesse caso, independentemente das versões divulgadas, reside o grande problema da novidade – e é disso que vou falar.

Todo presidente de clube se elege prometendo títulos. Todo presidente de empresa é contratado prometendo lucro.

Clubes se mantém em situações onde empresas seriam fechadas. O amor da torcida o sustenta, impede seu fechamento (em parte… Temos exemplos de clubes que desapareceram ou que se arrastam tristemente). Mas no capitalismo o que conta é o lucro. O Deus dinheiro exige sangue, suor e lágrimas. E estarmos no Brasil é o diferencial que me preocupa.

Somos um país de terceiro mundo, e cada vez mais. Estamos num processo de desindustrialização, somos exportadores de commodities. Anos atrás exportávamos produtos, agora mandamos matéria prima para que outros os façam. E no futebol é EXATAMENTE a mesma coisa. Antes atletas passavam no Brasil toda a carreira, depois saíam já consagrados, mais à frente no começo da jornada, agora antes de amadurecerem. Garotos com 15, 16 anos, já são exportados. Se vingarem, ótimo; se não, são descartados e pronto. Os ídolos, sustentáculos da paixão, rareiam. No próximo parágrafo junto os pontos.

Quando um bilionário compra um clube, ele quer ou lavar dinheiro ou adquirir prestígio. Quando se cansar do brinquedo, revende e pronto. Quando um capitalista, um fundo de investimentos, assume um clube, quer lucro – PRECISA ter lucro, a lei da grana é soberana. Na Europa, onde o futebol é rentável, ele sabe que terá retorno, lento e seguro. Aqui, a única fonte rápida de lucro é com a venda de jogadores. Coisa, aliás, que já se faz há anos. Então não sei se as coisas vão de fato mudar. A diferença talvez seja que o lucro, ao invés de ir para o bolso de empresários ou atravessadores, ou desaparecer nos desvãos das conversas fora dos escritórios, irá para os investidores.

Então, amigos, honestamente não sei se isso será bom ou ruim para nosso futebol. Não vejo o futuro, embora o passado não me anime. Sempre achei que uma fiscalização mais séria sobre os clubes, federações e seus negócios poderia resolver nossos problemas. Nos oficializar como uma colônia de exploração me soa como se tivéssemos de novo Emils, Castores e Unimeds – mas sem paixão.

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