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O ÚLTIMO ROMÂNTICO

6 / agosto / 2021

por Zé Roberto Padilha


Se tem um clube que representa a fase mais romântica do nosso futebol, onde o patrocínio não chegou ao peito porque o coração era maior que tudo, esse era o América FC.

Ele foi o mais amador dos nossos clubes profissionais.

Foi desaparecendo em pé, orgulhoso e ferido, na medida em que insistia, diante do dinheiro que o futebol atraía, em ser fiel às suas origens.

Em sua lenta e comovida extinção, despencando de séries e divisões, não teve sócio torcedor, não virou clube empresa, muito menos lhe concederam uma TV América para transmitir seus derradeiros suspiros.

Apenas deixou a aristocracia de Campos Sales, em Vila Isabel, e comprou uma casa de campo, em Edson Passos. Foi seu mais ousado passo.

Era, porém, nobre e curto diante da gula do capital que exigia, no mínimo, um CT.

Seus torcedores, entre eles meu pai, foram diminuindo na medida em que os seus filhos buscavam torcer pelos outros, os chamados grandes, que lhes dessem títulos. Não vivessem da memória.

Uma pena. Quando entrava em campo, a força do vermelho realçava como nenhuma outra o verde do gramado. Era bonito ver essa transfusão de sangue ocorrer na abertura do espetáculo lá das arquibancadas.

Em campo, antes de deixar o quarto e ser levado ao CTI, o País era sua grande muralha. Alex, o guardião da zaga que Badeco protegia como ninguém. Bráulio dava brilho às jogadas e Eduzinho produzia a genialidade que cabia a todo camisa 10 da fase mais bonita do nosso futebol. E Luizinho balançava as redes adversárias.

Em 1974, ganhou do Fluminense a Taça Guanabara. Foi pouco, diante de uma federação que foi perdendo a vergonha, uma CBF sem escrúpulos e uma Fifa fria, corrupta e calculista.

O América, mesmo perdendo seu brilho no cenário esportivo nacional, jamais deixou de vestir seu terno de linho, colocar uma flor na lapela e sair a convidar sua amada, a bola, para jantar à luz de velas.

Sucumbiu de cabeça em pé, sem dar um só carrinho na sua impecavel história, deixando em todos nós, apaixonados pelo futebol, uma saudade danada dos tempos em que Dondon jogava no Andaraí.

A vida, e o futebol, era mais bonito de se ver.

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