por Zé Roberto Padilha
Era, como a maioria, um torcedor apaixonado pela seleção de futebol do meu país. E jamais pensei que uma partida sua passaria ignorada por mim. Fui dormi e nem lembrei, no último domingo, que jogaríamos contra a Colômbia.
Não sei quando nos separamos, mas desconfio dos primeiros sintomas. Tinha 18 anos quando assisti, no auge da repressão militar, as mesmas mãos que decretaram o AI-5 e condenaram o Herzog, receberem dos nossos heróis, em Brasília, a Taça Julio Rimet.
Desceu queimando e fiquei desconfiado. Eles não tinham o direito de usar a nossa mais autêntica arte em prol de encobrir seus escusos objetivos.
Depois, quando todas as classes se envolveram na luta pela redemocratizacao do país, com a exceção da Democracia Corinthiana, não vi nenhum dos nossos selecionáveis subir num palanque pedindo a Anistia.
Muito menos, naquele célebre comício da Candelária pelas Diretas Já, nossa classe colocar sua idolatria na reta.
Depois, os jogadores se afastaram da nossa realidade. Se já não combatiam o aumento da gasolina e do gás de cozinha morando aqui, imaginem quando foram jogar na Euripa recebendo em euros e falando outra lingua?
Hoje, se limitam a desembarcar de jatinho com fones de ouvido, cercado de seguranças para ficar longe do assédio dos torcedores e nem autógrafos assinam. Mesmo porque ninguém quer o autógrafo do Gabriel Jesus.
Enfim, que pena constatar que no país do futebol sua maior expressão, a nossa seleção, pouco significa para sua gente. Não jogam por nós, não lutam por nós, correm pelos seus interesses e desconhecem os interesses daqueles que pagam ingressos para vê-los jogar.
E para quem viu Gerson, e seus lançamentos de 50 metros, Roberto Rivelino, e sua patada atômica, jogar, assistir as limitações da canhota de Lucas Paquetá é desanimador.
E esquecível. Como toda a seleção estrangeira formada por brasileiros que pensa que nos representam.
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