por Paulo-Roberto Andel
Nas últimas semanas, por diversos motivos a Seleção Brasileira tem sido referência nos meios de comunicação. Não tem a ver propriamente com a medalha de ouro nas Olimpíadas de Tóquio, nossa conquista mais recente, mas sim com cenas maravilhosas de muito tempo atrás.
Seja para celebrar os aniversários de Pelé e Zagallo, para comemorar os aniversários das conquistas das cinco Copas do Mundo, documentários maravilhosos de Ernesto Rodrigues no SporTV ou outros motivos, o fato é que a Seleção tem aparecido bem na TV fechada, internet etc.
Ao mesmo tempo em que se pode esbaldar com cenas maravilhosas, gols inesquecíveis – no caso de 1970, até mesmo os gols que não aconteceram – e passes fantásticos, hoje a melhor imagem da Seleção Brasileira é uma lembrança distante. Sim, para muitos de nós aquele futebol maravilhoso está muito vivo à mente, mas 1970 tem mais de meio século, 1962 prestes a completar 60 anos e 1958 já tendo passado disso.
É importante respeitar e muito as grandes conquistas de 1994 e 2002, últimos momentos que o nosso futebol deu lampejos do que já foi um dia, mas quando se fala em uma constelação de craques, temos 1958-62-70 em vista. É inevitável.
Estamos a caminho dos 20 anos sem Copas. Quando isso aconteceu a partir de 1970, em 1990 o Brasil fracassou no Mundial da Itália, mas tinha jogadores que faziam pensar, dentro e fora da Seleção: Romário, Bebeto, Renato Gaúcho, Careca, Neto e ainda viriam à frente Djalminha, Edmundo, Marcelinho, Dener, Jorginho, Aldair, Branco, Leonardo, Mozer, Ricardo Gomes, Taffarel, Zetti, tantos nomes. E agora? O que realmente temos agora além da estrela solitaríssima de Neymar? Líder nas eliminatórias, o Brasil não empolga nem mostra nomes capazes de cativar os torcedores.
Enquanto por aqui vivemos um futebol anêmico, verdadeiro faquir do talento, numa sucessão de jogos brutos, feiosos e que não dizem o que é o verdadeiro Brasil em campo, não consigo parar de pensar numa fala do brilhante documentário “Maracana”, de Sebastián Bednarik e Andrés Varela. Feita com cenas belíssimas da trajetória uruguaia na Copa de 1950, a produção aborda uma perspectiva diferente do lugar comum que temos de tragédia nacional. No fim, o narrador em off conta a chegada dos jogadores uruguaios a Montevidéu, e nas cenas finais com o povo louvando os jogadores, algo como “a vitória do Uruguai fez o país parar no tempo, sendo seu último grande feito esportivo”.
Vejo as lindas cenas do passado do nosso futebol e temo que tenhamos parado no tempo, sem perceber.
@pauloandel
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