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‘REI 80’: O MUNDO AGRADECE A GENIALIDADE DE PELÉ

22 / outubro / 2020

por André Luiz Pereira Nunes (Especial para o Museu da Pelada)


Lamento profundamente não ter visto Pelé em sua época áurea de jogador. Felizmente ainda tive o privilégio de acompanhar a geração seguinte composta por grandes nomes como Zico, Reinaldo, Sócrates, Leandro, Roberto Dinamite e Falcão. Por ser nascido em 1976, o máximo onde pude chegar foi vê-lo em ação durante a Copa batizada em seu nome e organizada por Luciano do Valle, em 1987. Naquela oportunidade fora criado o Mundialito de Sêniores, composto por astros veteranos das principais seleções do mundo. Pelé só atuaria na estreia contra a Itália. Me recordo que foi uma exibição discreta, sem brilho, no entanto bastante esperada. 

Uma outra vez foi durante um amistoso comemorativo da Seleção Brasileira contra o Resto do Mundo. O Rei jogou algum tempo, dando depois lugar a Neto, esse mesmo que hoje é comentarista da Rede Bandeirantes. Me recordo de um episódio bastante interessante. Pelo Brasil atuava um obscuro ponta, de talento muito discutível, chamado Rinaldo, que na época pertencia ao Fluminense. Em dado momento, esse jogador tinha a bola no ataque e havia a opção de tocar para o Rei, que estava livre de marcação para fazer o gol. O atleta tricolor, entretanto, deu vazão à sua total falta de qualidade. Não tocou para Pelé, não fez o gol e ainda se embolou completamente no lance. Perdeu talvez a chance de contar para os filhos e netos o que seria a apoteose de sua carreira. Preferiu se render ao individualismo e à mediocridade que, por sinal, permearam a sua trajetória. 

Obviamente não vi Pelé jogar em seu tempo de atleta, já o disse e repito, mas tive acesso a seus vídeos. Possuía uma fita VHS contendo seus principais lances e gols. Através do YouTube também tive a oportunidade de conferir tudo a respeito. Trata-se realmente de algo sobrenatural. Falar sobre o Atleta de Todos os Séculos é como falar sobre Deus. As arrancadas, os dribles, a impulsão, os lançamentos e os arremates são mesmo algo de uma outra dimensão.

Confesso que mesmo não tendo visto o Rei ao vivo, não sinto aquela sensação ufanista de que o seu talento pertence somente à Nação Brasileira. Como cidadão do mundo, tenho a percepção de que vivemos em um planeta sem fronteiras. As linhas que demarcam países, estados ou cidades são imaginárias. Vale ainda ressaltar que paixão futebolística não tem idade, sexo, país ou raça. Os astros pertencem a todos. Pelé não é brasileiro. É universal! Tanto que foi capaz de interromper uma guerra na África quando o Santos por lá excursionava. 


Evidentemente, Pelé era Deus em campo, mas humano fora dele. Causou muita tristeza o fato dele não ter reconhecido uma filha concebida fora do casamento. A moça faleceu de uma doença grave clamando em vão pelo contato paterno, mas o Rei não moveu uma palha. Diversos companheiros, como Rivellino, ficaram profundamente entristecidos. Sim, não há dúvida. Fora de campo o Rei era como todos somos: humanos!

Possivelmente jamais haverá um outro semelhante ou melhor. De tempos em tempos a imprensa esportiva tenta igualar algum craque ao nível de Pelé. Vejo isso como algo natural, pois os mitos precisam ser fabricados para que haja vendas e promoções. Já fizeram comparações inúteis com Maradona e, mais recentemente, com Messi e até Neymar. Além do talento inigualável, o Rei detém uma marca impressionante. Além do bicampeonato mundial conquistado com o Santos, ainda se sagrou tricampeão pela Seleção Brasileira. Maradona só ganhou uma Copa. Neymar e Messi tampouco. 

Talvez o único que tenha chegado perto seja Garrincha. Esse também era uma criatura sobrenatural, possivelmente outra divindade. Vencido pelo álcool, acabou pobre, mas não esquecido. Enquanto os dois jogaram juntos, o Brasil parecia realmente invencível. É por isso que não dá para compararmos uma Seleção Brasileira contendo esses dois astros com a de 82, por exemplo. Não existe comparação que resista a uma análise mais apurada.

Portanto, falar de Pelé é talvez falar sobre a perfeição. De alguém que foi feito para jogar futebol. Um modelo. Detentor de um futebol alegre, ofensivo, bonito. Não o frio, moderno, medíocre, esforçado, pragmático e de resultados. Pelé e sua geração representam a pura alegria. A irresponsabilidade. A irreverência. A pureza e a essência do desporto espontâneo e de amor à camisa.

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