por Idel Halfen
Quando olhamos a indústria do esporte e a parametrizamos com outras já mais consolidadas na economia, nos deparamos com um longo caminho a ser percorrido em termos de gestão, embora já seja perceptível um considerável progresso. Se fizermos um corte em termos de departamento, notaremos também um certo desequilíbrio, ou seja, alguns deles estão mais avançados do que outros.
Aliás, uma das áreas que vejo com bastante potencial de crescimento é a de Recursos Humanos, fato que, evidentemente, traz reflexos nas demais, afinal, selecionar, recrutar, treinar, avaliar, definir política de cargos e salários, entre outras, afeta toda a organização.
Discutir as razões que levam a esse cenário demandaria tempo e um espaço maior, razão pela qual pularemos essa parte e passaremos para a descrição de um case, que deveria servir como benchmarking para muitas organizações, inclusive as que atuam fora do ambiente esportivo. Refiro-me à contratação do técnico que veio substituir o campeoníssimo Jurgen Klopp no Liverpool.
Ao contrário do que o mercado especulava, o time inglês optou por um técnico, digamos, sem muita “grife”: o holandês Arne Slot, que dirigia então o Feyenoord e nunca tinha trabalhado fora do seu país natal, portanto, sem grande popularidade fora de lá.
Trazendo para o universo corporativo, imaginem a Vale trazendo para ser seu CEO, um executivo que nunca tenha liderado nenhuma grande corporação.
O processo no Liverpool é exemplar porque teve como ponto inicial a definição dos objetivos e do que se queria de um treinador, no caso, manter uma filosofia de jogo similar á de Klopp. A partir daí, baseou-se em dados e métricas que permitissem a identificação dos melhores nomes, até chegarem a Slot.
Quantas empresas têm claramente delineados o que pretende de um executivo quando inicia um processo de contratação?
A análise em termos de números trouxe, entre outras informações, os seguintes dados: o Liverpool costuma ter 94 posses de bola por partida, o Feyenoord tinha 96, quando comandado por Slot. Os adversários do clube inglês completam 77% de seus passes, enquanto os do Feyenoord completavam 74%. O passe médio do Liverpool percorre 17,1 metros, enquanto o do Feyenoord percorre 17,2 metros. O Liverpool leva a bola ao ataque a uma velocidade acima da média de 1,26 metros por segundo, enquanto o Feyenoord vai ainda mais rápido, a 1,33 metros por segundo.
Evidentemente, olhar apenas para os números não é o suficiente, sendo necessário também considerar estilo de liderança, capacidade de resistir à pressão, habilidade no relacionamento, atenção ao desenvolvimento dos mais jovens, visão de logo prazo, além de inúmeras outras variáveis.
Vale também atentar que, no caso de performance esportiva, a coleta de dados fica mais fácil e disponível. O que quero dizer é que os indicadores corporativos sofrem influência de diversos fatores do mercado, seja a capacidade gerencial da própria empresa, sejam fatores macroeconômicos, além das ações da concorrência, o que torna difícil o exercício de expurgá-los, todavia, o exemplo que o Liverpool nos brinda, serve para mostrar a importância do planejamento e da utilização de métricas para qualquer tipo de decisão.
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