por Brenno Carnevale
No último dia 10 de novembro testemunhamos mais um episódio odioso de discriminação racial nos estádios de futebol.
Em Minas Gerais, um “torcedor” indignado com a atuação dos agentes de segurança que supostamente fecharam uma saída de emergência disparou a seguinte frase contra um deles: “olha a sua cor”.
Discriminação racial escancarada e afrontosa, mas, infelizmente, não surpreendente.
Na verdade, a fase oral do racismo, isto é, quando as palavras de ódio e discriminação são efetivamente proferidas, revela-se apenas a ponta do iceberg.
Muito antes do grito repugnante, o racismo e a discriminação já se encontram consolidados na estrutura mental e comportamental daquele que se julga mais puro.
Conclui-se, então, lamentavelmente, que os racistas existem em muito maior quantidade do que somos capazes de ouvir.
Em outras palavras: existem muitos racistas que nunca xingaram um negro de macaco (para usar um triste e corriqueiro exemplo de racismo escancarado), mas que nem por isso deixam de ser racistas.
O racismo, muito antes de ganhar a forma de voz e xingamento, se encontra enraizado nas estruturas mentais e nas perspectivas e formas de ver o mundo.
No Brasil, que vive o mito de país miscigenado com a fantasia (quiçá intencional) de povo cordial, o racismo funciona como verdadeira carta na manga.
É o super-trunfo do prestígio social.
Se o garçom, o porteiro, o pedreiro, o faxineiro, o segurança, a diarista, o advogado, o motorista, o policial, o professor, o jornalista, o médico, o engenheiro (e tantos outros) fizerem tudo de acordo com a vontade de seus “senhores”, a relação será amistosa, respeitosa e, quem sabe, até amigável.
Mas o conforto de muitos brancos está em suas estruturas mentais de superioridade.
No primeiro interesse não satisfeito dos arianos “donos do poder” ou no primeiro deslize daqueles que os servem, é sintomático o pensamento e o comportamento que coloca os outros na condição de inferioridade e de seres dignos de desprezo.
É o mantra criminoso: “Tinha que ser negro/preto”, tatuado na mente doente de muitos mal amados, mantra este que ganha a roupagem de uma enorme miscelânea de comportamentos odiosos, desde a forma de olhar até o ruído de cortar qualquer coração que ainda se digne de assim ser chamado, ruído bem simbolizado pela famigerada frase: “olha a sua cor”.
Olhar a cor do outro e percebê-lo como um igual é um ótimo exercício de cidadania.
Olhar a cor do outro para não enxergá-lo ou fazê-lo como argumento de superioridade é um dos crimes mais odiosos que uma sociedade pode testemunhar.
Em um Brasil em que os mal amados estão bem armados, é tempo de tornar o racismo, com todas as suas formas odiosas, uma carta definitivamente fora do baralho.
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