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16 / maio / 2023

Antes de desenvolvermos o artigo sobre o recente escândalo das apostas esportivas, é preciso esclarecer que esse tipo de má conduta não é uma exclusividade do Brasil.

No campeonato italiano da temporada 1980-81, por exemplo, jogadores e dirigentes de times como Lazio e Milan se envolveram em manipulações de resultados para se beneficiarem na loteria esportiva. Ambos os clubes foram punidos com o rebaixamento.

Suspeitas desse tipo de prática também ocorreram em 2009, envolvendo cerca de duzentas partidas, inclusive da Champions League. A lista é longa…

Nesse contexto, o questionamento que se pode fazer sobre o ocorrido especificamente no Brasil se resume a um suposto processo de educação mais frágil. Aqui não me refiro simplesmente às escolas, mas também aos lares, independentemente de classe social. Isso talvez explique algumas permissividades.

Atos como fraudar documentos, dirigir pelo acostamento, além de receber e dar propinas, entre outros, sāo tolerados e vistos como faltas pouco graves, ou pior, normais.

Também deve ser esclarecido que a manipulação de apostas não se restringe ao futebol. Há escândalos famosos que renderam inclusive obras culturais, tais como o filme “Eight Men Out” – que narra ações de suborno na principal liga de baseball nos EUA – e a série “The Hansie Cronje Story”, que conta a história do capitão da seleção de cricket  da África do Sul, também envolvido em operações escusas. A lista é longa…

Voltando ao atual escândalo no Brasil e analisando a situação pelo prisma de marketing, não há como negar que se trata de uma atitude deplorável, que mancha a imagem e a credibilidade da modalidade envolvida e de todos os seus stakeholders.

As consequências, nós só saberemos adiante, mas não custa lembrar que a decadência do turfe teve como uma de suas causas, as suspeitas de manipulação de apostas.

Será que o torcedor continuará acreditando na idoneidade dos atletas?

Como serão interpretados os próximos cartões amarelos e demais ações individuais prejudiciais ao próprio time?

Será que alguns árbitros também fazem parte do esquema?

Será que os atores citados acima terāo a devida tranquilidade para exercerem suas funções?

Não podemos negar que a paixão tem o poder de fazer com que se releve essas suspeitas, mas como fica a “razão” que deve permear os investimentos dos patrocinadores?

Será que eles acharāo interessante associar suas marcas a clubes e demais organizações esportivas que abrigam eventuais focos de corrupção?

As próprias empresas de apostas que patrocinam o futebol deveriam repensar se essa associação não é conflitante no presente momento.

Há os que simploriamente acham que basta regulamentar o jogo que o problema estará resolvido! Mas o que se entende por regulamentar? Simplesmente taxar, adequar à legislação local e cobrar melhores práticas de compliance?

Nāo sejam ingênuos, por favor! Não ignorem a economia paralela e informal, essa nunca acabará.

Ainda que a regulamentação seja necessária – já vislumbro a criação de uma agência regulatória com a devida criação de cargos com indicações políticas -, penso que a diminuição desse tipo de crime passe obrigatoriamente pela proibição de apostas que envolvam as ações dos jogadores de forma individual e na punição extremamente severa dos criminosos – corruptor e corrompido –, após um julgamento justo, sejam esses que forem.

Isso se faz urgente!

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