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QUANDO O GÊNIO CANTA DE GALO

27 / novembro / 2017

por Luis Filipe Chateaubriand


Em 1985, Telê Santana estava de volta ao comando técnico da seleção brasileira de futebol. Seu desafio era classificar o Brasil para a Copa do Mundo de 1986, passando, nas eliminatórias, por Bolívia e Paraguai.

No primeiro jogo, com a Bolívia em Santa Cruz de la Sierra, o Brasil havia vencido de 2 x 0, dois gols de Casagrande.

Foi o escrete canarinho, então, a Assunção, para enfrentar os alvi colorados.

Jogo difícil, disputado, Casagrande faz 1 x 0 para o Brasil ainda no primeiro tempo.

Na segunda etapa, os paraguaios pressionam, mas uma jogada genial, de um brasileiro genial, selaria o destino da partida.

A bola está com Leandro, na intermediária direita do campo de ataque. Percebe Zico desmarcado um pouco atrás da meia lua. Faz o passe diagonal, com a perfeição habitual.

No entanto, devido ao campo irregular, a bola chega atrás de Zico, levantando-se suavemente.

O jogador convencional precisaria se virar de costas para o gol, e de frente para a bola, para dominá-la. Mas Zico, o Galo, decididamente não é um jogador convencional…

Mesmo com a bola ficando atrás dele e tendo quicado no campo, faz uso do inusitado: puxa a bola de calcanhar para a frente, ela sobe pelo seu lado direito até a altura de seu pubis, mas sem tocar nela, decai e, antes de chegar ao chão, Zico emenda de primeira, ainda atrás da meia lua.

A bola segue baixa, mas não rasante, quica de leve no campo já na pequena área, e vai morrer no fundo do gol, no canto esquerdo do impotente goleiro guarani.

Fica claro que o Galo concebeu o gol, sabendo o que faria antes da bola chegar. Gênio!

Um gol sensacional, que determina o 2 x 0, placar definitivo do cotejo, deixando bem encaminhada a classificação brasileira à Copa do Mundo de 1986.

Anos mais tarde, Zico faria o lindíssimo “gol escorpião”. Mas, já então, fez o “passe meio escorpião lançando para si próprio”, que culminou em gol.

Toda a lógica mostrava que o jogador qualquer teria que se virar para a bola, dominá-la, girar o corpo em direção ao gol e, quando fosse chutar, já estaria bloqueado pelos adversários. Zico simplificou as coisas. A genialidade está na simplicidade, como o Galo nos ensinou em mais de 20 anos de carreira do maior jogador brasileiro do Pós Pelé.

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