LATERAL DOS BONS TEMPOS
entrevista: Sergio Pugliese | texto: André Mendonça | fotos e vídeo: Daniel Planel
Embora nem sempre seja proposital, o clima descontraído se tornou uma marca das nossas resenhas, mas quando o entrevistado entra na pilha da irreverência não há quem segure. Lateral em uma época de ouro do futebol brasileiro, Paulo César Puruca encarnou um personagem e nos divertiu em um papo no Bar Kilocal, na Tijuca.
Nascido e criado em Quintino-RJ, Puruca passou boa parte da infância jogando peladas de rua ao lado do craque Eduzinho Coimbra, seu grande amigo. O que muitos não sabem é que foi Puruca quem incentivou o maior artilheiro da história do América-RJ a não desistir após ser reprovado – sabe-se lá o motivo – na primeira peneira que fez para um clube.
– Não sei o que aconteceu, mas reprovaram o Edu. O cara devia ter algum problema, né? – brincou.
Os primeiros passos de Puruca no profissional foram dados no América-RJ em 1963, ao lado do craque e amigo de infância, e de outras feras como o xerifão Alex, Jeremias e Canhoteiro. Naquela época, havia uma pluralidade de pontas que infernizavam a vida dos laterais, mas Puruca nunca foi de dar mole na hora do combate.
Anos depois da estreia no profissional, já com uma carreira consolidada e vestindo a camisa do Vasco da Gama, Puruca estava em campo no clássico contra o Fluminense que ficou marcado pelo elástico de Rivellino em Alcir, em 1975, mas nada pôde fazer por estar longe da jogada.
– As pessoas me perguntam porque eu não fiz nada naquele lance. (…) Esse gol aparece constantemente na televisão e eu sempre apareço lá no fundo. Por isso, trouxe meus dois advogados para cobrar meus direitos de imagem! – disparou para a nossa gargalhada.
Os “advogados” em questão Paulo Cesar de Menezes, conhecido como Leão por ser um zagueiro estilo Odvan, Ricarte José de Oliveira Neto, um goleador nas peladas. Grandes amigos do jogador, os dois entraram na onda da brincadeira e se prontificaram a defender a causa:
– Ele está se sentindo moralmente prejudicado e nós estamos buscando perspectivas de ajuizar uma ação de reparação de danos morais, tendo em vista que a imagem dele está sendo prejudicada. – disparou Leão.
– Eu estava nesse jogo de telespectador . A procedência é difícil, mas no Direito tudo acontece! – completou Rica.
Brincadeiras à parte, Puruca construiu uma bela carreira nos gramados e, como recordação, guarda retratos dos times formados. Depois do início arrasador no América, se transferiu para o Botafogo onde teve a oportunidade de atuar ao lado de Nei Conceição, Carlos Roberto, Jairzinho, Roberto Miranda, PC Caju e muitas outras feras.
No Vasco, também fez parte de um timaço e foi companheiro de Andrada, Joel, Silva Batuta, Roberto Dinamite e Tostão, seu companheiro de quarto. Sobre esse último, Puruca não esconde sua admiração:
– Eu nunca vi um jogador que não corria, não chutava forte e não sabia cabecear bem… Ele não tinha nenhum dos recursos fundamentais para um jogador, a não ser a habilidade. Mas jogava demais!
Encerrou a carreira no Grêmio em 1977, com chave de ouro: campeão estadual. Pendurou as chuteiras naquele mesmo ano para entrar na Receita Federal após ser aprovado em um concurso. Sobre isso, aliás, fez questão de deixar uma lição para os mais jovens.
– Gostaria dizer para os jogadores que estão começando que é fundamental pensar no que vão fazer depois da vida profissional. Jogador não sabe fazer nada. Se, infelizmente, ele se lesionar, ele perde para um vendedor de livro.
Valeu, Puruca!
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