por Émerson Gáspari
Perdoem-me todos do Museu da Pelada, se desvio do assunto futebol nessas primeiras linhas, mas é que julgo importante explicar de onde surgiu a ideia dessa crônica.
Tudo começou na observação de uma daquelas discussões recorrentes que você certamente já presenciou por aí: dois caras conversando sobre a hipótese de Cristo voltar a Terra e o que aconteceria a seguir, caso isso de fato se concretizasse.
Para os que não sabem Dostoiévski – um dos maiores escritores que a humanidade produziu – já aventava essa possibilidade em 1880, em mais um de seus brilhantes textos, no qual descreve – de modo fictício – sua santa reaparição na cidade de Sevilha (Espanha) por ocasião da terrível Inquisição do século XVI.
Pois bem: após causar verdadeiro furor entre o povo, Jesus é atirado numa masmorra pela guarda real e, ao ser visitado à noite por um inquisitor que o interroga ameaçando-o inclusive de queimá-lo vivo, permanece enigmaticamente calado, mantendo nos lábios um sorriso compreensivo, aja visto que sabe as frases que aquela autoridade vai dizer, antes mesmo que possam ser pronunciadas.
Então, num arroubo de cólera, o teólogo insiste que ele compreenda que “um homem não pode ser senhor de si” e que “é mais fácil seguir a mentira institucionalizada, que o caminho do amor incondicional”. O insulta, o agride e promete que irá por fim à sua vida, ao raiar do dia seguinte, em praça pública.
Então, o dono daquela “Santa Face” (que não se alterou em momento algum, a despeito das provocações) serenamente se levante e… abraça (!) calorosamente seu algoz.
Aturdido, o inquisitor se dá por vencido e, atormentado por seu coração turvo não obter êxito perante o Messias, abre a cela, ordenando aos gritos que o prisioneiro saia imediatamente e nunca mais retorne. Jesus então caminha em silêncio em direção à saída, desaparecendo na escuridão, para não mais voltar.
Dito isso, vamos às minhas indagações futebolísticas a vocês, agora: e se pudéssemos trazer de volta tantos craques de bola extraordinários que já partiram desse mundo?
Não seria maravilhoso rever ao vivo, as descidas ao ataque do “capita” Carlos Alberto Torres? Relembrar como era o efeito da “Folha-Seca” do genial Didi? Assombrarmo-nos com o faro de artilheiro de Friedenreich? Ou com as arrancadas empolgantes de Ademir de Menezes? Sermos brindados com os dribles moleques de Dener? Os de Canhoteiro? Ou os chutes de Jair Rosa Pinto e Hércules? O domínio de bola de Dino Sani, talvez? E que tal poder testemunhar toda a categoria de Domingos da Guia ao sair da área, driblando os atacantes adversários?
Ressuscitarmos aquelas “pontes” formidáveis do intrépido goleiro Pompéia? Ou mesmo rever a garra do inesquecível Fernandão, na grande área?
Será que Zizinho seria tolamente negociado pelo Flamengo com o Bangu, outra vez? Que Garrincha terminaria a carreira como terminou? Que Heleno de Freitas acabaria num sanatório, de novo? Almir Pernambuquinho seria mais calmo? E Sócrates: após aposentar o mágico calcanhar dos gramados, ser tornaria afinal, presidente da CBF?
Barbosa deixaria de ser perseguido e responsabilizado pela Copa perdida?
Nilton Santos seria chamado de “Enciclopédia” ou “Wikipédia?”. Leônidas da Silva seria o mesmo “Diamante Negro” ou só mais um “Nutella” por aí?
E no restante do mundo, então? Yashin, Puskas, Di Stéfano, Cruyff, Gigghia e tantos outros teriam obtido feitos nos gramados, como obtiveram?
Mesmo figuras ligadas ao futebol teriam hoje a mesma importância de outrora?
Carlito Rocha e Vicente Matheus, por exemplo, seriam presidentes tão marcantes em seus clubes, novamente? Belfort Duarte continuaria sendo vital para o Amériquinha?
Cláudio Coutinho conquistaria o título mundial à frente do Flamengo? Telê Santana corrigiria os defeitos da Seleção de 1982, fazendo-a campeã mundial na Espanha?
Quais textos Thomas Mazzoni, Mário Filho, João Saldanha e Nelson Rodrigues seriam capazes ainda de produzir, durante a “prorrogação” à qual estariam tendo direito, na vida? Quais hinos de clube, Lamartine Babo ainda iria compor?
Mário Vianna exigiria tanto que seu nome fosse escrito com dois “enes”?
Quais gols Geraldo José de Almeida e Luciano do Valle ainda iriam narrar?
Impossível afirmar com absoluta certeza: para muitas dessas perguntas, talvez a resposta fosse “sim”. E são tantas as indagações…você mesmo, que está aí, parado e me concedendo a honra de sua leitura nesse momento, deve ter as suas também, decerto.
Então, um verdadeiro delírio me assalta subitamente, fruto de meus devaneios.
Uma ideia tola, ridícula até. A qual na verdade não passa da tentadora utopia pela imortalidade. Por um dia que seja ao menos! Vamos supor que pudéssemos então, nos dar esse direito. Ou melhor: concedê-lo a alguém.
A pergunta que não quer calar é: quem de nós daria um dia de sua própria vida para “ressuscitar” seu ídolo favorito? E mais: quem seria ele?
A ideia (absurda, eu sei!) é na verdade uma brincadeira, para verificarmos a popularidade de nossos gloriosos craques do passado.
Vou lhes dar um exemplo fora do futebol: quando o querido Ayrton Senna se foi, partindo de maneira tão prematura e traumática para todos nós, muita gente não se conformou.
Mas, se tivéssemos o “dom” da imortalidade (leia-se: poder “doar” um dia de nossa vida em prol dele) garanto-lhes que Senna teria recebido milhões de dias extras de vida, ofertados por fãs de todo o Brasil (e até do mundo!) promovendo uma espécie de “justiça divina”, face aquela tragédia.
Essa ideia maluca – posta em prática – seria responsável pelo piloto estar vivo até hoje (tenho certeza) e aposentado das pistas, talvez fosse dono de alguma escuderia da Fórmula 1, nos dias atuais.
Já imaginaram uma parceria dele com os japoneses? A equipe “Senna-Honda” formada por jovens pilotos brasileiros, mais ou menos como foi a Copersucar no passado? Não? Pois eu já; em um dos textos de meu primeiro livro (publicado em 2013), o qual vocês não conhecem (mas o público-leitor de Ribeirão Preto, sim).
Voltemos ao futebol: gostaria de saber se você, amigo leitor, toparia – caso isso fosse possível – doar um dia de sua existência, para reviver um craque ou figura do passado de nosso glorioso futebol brasileiro e quem seria ele.
Afinal, não há prova maior de amor por um ídolo, do que dar a vida por ele (um dia que seja ao menos).
E antes que a peraltice tome conta de vossos corações nessa brincadeira, um aviso: não vale doar para quem está vivo!
Sei que muita gente – por pura farra, mesmo – iria querer colocar “vivo” algum jogador que anda “morto” e se arrastando em campo, ultimamente (eu mesmo conheço uns por aí que já parecem ter virado “alma penada” dos gramados faz tempo e continuam “enganando” e ganhando polpudos salários).
Mas essa enquete despretensiosa pede um mínimo de seriedade, pessoal: votem naquele que deixou mais saudades em você: um verdadeiro buraco no peito, que parece não poder ser preenchido nunca e que se faça enfim, merecedor de retornar a este mundo, nem que seja só por um dia.
Pelo mero prazer de se poder revê-lo ou até mesmo, em certos casos, de conhecê-lo.
Para quem fosse rever seu craque, a satisfação seria dobrada, pois – simultaneamente – o torcedor deixaria de ser “viúva”, também.
Ah! Bem que o homem lá em cima podia atender nossos apelos e nos conceder uma dádiva dessas, uma alegria tremenda, diante do triste cenário atual do futebol tupiniquim! (que Ele me perdoe por tanta blasfêmia, nessa crônica… amém!).
Poste seu voto democraticamente aqui amigo leitor, nos comentários deste texto, na página do Museu da Pelada e desde já, receba meu afetuoso abraço e agradecimento!
Que essa divertida eleição seja uma verdadeira “festa da democracia”. Ou melhor dizendo: “uma celebração ao bom futebol”.
O que está esperando, amigão? Mãos à obra e boa diversão!
“Bora” lá, votar! E que vença o mais querido…
Emocionante texto que nos transforma em crianças eternas.
Belo texto de quem realmente tem o espírito de remover as almas daqueles q um dia foram idolatrados pelo povo.Salve!!!!