por Zé Roberto Padilha
O Teatro Muncipal não tem um banco de reservas como o do Maracanã. O ator ensaia durante a semana, decora o texto, sobe no palco e dá o seu recado. Não serve como exemplo. No cinema, então, se estiver escalado no banco nem aparece na fita. Como explicar para os outros artistas a triste vida de um artista da bola escalado no domingo para ficar na reserva? Palavra de quem passou um bom tempo por ali: nada é pior na vida de um jogador que ser reserva da equipe. Só quem sentou no banco paraRogério Ceni alcança a extensão deste martírio.
O desconforto já começa quando as imagens percorrem aquele “fosso das ilusões perdidas” antes do começo da partida. Eles sabem que vai ter um engraçadinho na sala, no sofá junto à família torcendo e cornetando: “Olha lá os sujas roupas! Não fazem nada, recebem em dia e ainda ganham gratificações”. Cada close dado naquele amarelado grupo representa meio milhão de reais a menos no mercado da bola. Quando o time dana a ganhar, como o Vasco, que o Jorginho não é maluco, nem o Zinho, para mexer e onde ninguém se machuca para alcançar o pôster, os reservas vão definhando. No banco, na memória da mídia, dos torcedores e quando você procura…Cadê o Guinazu? Ouviram falar do Serginho? E para onde foi aquele centroavante que nos deu o título de campeão contra o Botafogo?
Depois que assinei meu contrato profissional, em 1972, fui reserva dois anos do Lula. Não tinha bola suficiente para concorrer com um ponta-esquerda da seleção brasileira. Quando ele era convocado, disputava uma Taça Guanabara, entrava nos amistosos excursionando pelo país. Se não fosse vendido ao Internacional, em 1974, e Carlos Alberto Parreira assumisse e me desse a brecha que sonhava, estaria hoje trabalhando no Bradesco. A paixão e a permanência em um banco seria maior que a vivida dos gramados.
Por ali vivi, sentado e apreciando, experiências inusitadas. Era novo, podia esperar, aprender os truques daquela fascinante profissão ao entrar aos poucos nas partidas. Mas tinha craque rodado impaciente e estressado. Já chegava com o dedo cruzado para secar o titular e esclarecia: “Escuta, menino, aqui não é local de hipocrisia. Torcer é na arquibancada. Não torço contra o Samarone, nem contra o Cláudio (que eram da sua posição), apenas desejo que eles joguem mal. Sofram uma leve lesão, nada séria, para que eu possa entrar.” E filosofava: “Na pior das hipóteses, uma derrota cairia bem. Treinador é tudo igual: vai ter que mexer no time e aí temos chances!” E finalizou: “Não estamos aqui para bater palmas para macaco dançar!”. Calma, Bernardinho, estou falando do banco de jogadores de futebol!
Para os que acham que acabou o martírio dos reservas junto ao texto, a tragédia avança depois da partida. Quando o juiz apita, ainda vem o preparador físico com o estádio vazio os aquecer para uma corrida. E tome abdominal, flexões, piques que poucos assistem com os refletores desligados. Ah, tem gente que presenciou sim. Quando um reserva chegou em casa, seu filho, gente boa, que permaneceu na arquibancada o esperando, ainda lhe deu uma força: “Treinou bem, hein pai!” Uma pena não ser no teatro, senão a gente pedia para fechar a cortina. E terminava com uma agonia que vai continuar no banco de reserva do nosso time já no próximo domingo.
0 comentários