por Valdir Appel
Joguei em vários clubes brasileiros, e tive a oportunidade de conhecer presidentes que fizeram história à frente deles. Alguns folclóricos, outros déspotas; alguns maquiavélicos, outros tirânicos; alguns autoritários…
Quando cheguei ao Vasco da Gama, o presidente era João da Silva ou simplesmente seu João, como os jogadores o chamavam, e seu vice era Antônio Soares Calçada.
Seu João era um dos donos da Carrocerias Metropolitana, instalada na Avenida Brasil. Chamava a atenção pelos hábitos elegantes e conduta de um lorde inglês, algo incomum para um homem que começou a vida como comerciante, dono de uma banca de jornais.
Gostava de circular com o seu chapéu de feltro, fumando cachimbo com um fumo aromático importado. De fleumático tinha algo: era categórico, imperturbável e decidido. Cordial e de fala mansa, transpirava credibilidade e confiança. Gostava e falava com orgulho das qualidades de sua Mercedes Benz conversível:
– Ninguém abre o motor de uma Mercedes antes de 15 anos de uso!
Observando-o, tornei-me um fumante de cachimbo e usuário de um chapéu idêntico ao dele, que comprei em Lisboa. Meus papos com o presidente, nas concentrações, eram sempre sobre cachimbos. As melhores marcas, tamanhos, filtros e formas. Tabacos, tipos de tabacos. Como encher o cachimbo, como acender, como mantê-lo aceso.
Por último, falávamos sobre a limpeza do cachimbo com escovilhões cônicos e a necessidade, por vezes, de usar alguma bebida com alto teor alcoólico para fazer uma limpeza mais profunda. Virei colecionador, cheguei a ter 27 cachimbos: inglês, italiano, americano e até japonês.
Em 1970, seu João era o vice-presidente do senhor Agarthino Gomes. Seu João participava ativamente de todas as atividades do clube e, nas preleções do técnico Tim, sentava-se no meio dos jogadores, absorto, enquanto o mestre estrategista mexia os seus botões, posicionando a sua equipe e revelando os segredos do adversário.
Na terceira rodada do campeonato carioca, Tim fazia sua preleção e, ao definir a lateral esquerda com Batista (que vinha atuando bem), João Silva o interrompeu. Tirou o cachimbo da boca e indagou:
– Tim! Batista?
E Tim respondeu:
– Batista, não. Eberval!
Nos olhares trocados entre os jogadores, a pergunta: seu João estaria escalando o time?
Com a ajuda do presidente ou não, o Vasco foi campeão carioca naquele ano.
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