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PEQUENAS LEMBRANÇAS DA META AMERICANA

23 / março / 2021

por Paulo-Roberto Andel


Acabei de espiar ótimas crônicas de “O nosso futebol”, livro de Fernando Calazans, decano da imprensa esportiva, e li sobre Pompéia, o mitológico goleiro do America campeão de 1960 e que jogou mais de uma década pelo clube.

Calazans contava sobre a dificuldade crônica de Pompéia em guardar nomes de companheiros de time, chamando-os pelo número às costas: “Vai, três”, “Chega junto, dois” e por aí vai. Em certa ocasião, num jogo festivo de seleções no Maracanã, o goleiro seguia sua praxe de batizar os companheiros pelos números, marcando em cima o lateral-esquerdo: “Vamos, seis, entra firme”, “Cadê o seis” e tal. Em certo momento, irritadíssimo, o jogador simplesmente saiu de campo, foi até o banco de reservas e disse “Por favor, ponha outro em meu lugar. Não posso jogar num time onde o goleiro não sabe meu nome”. Fazia sentido: era ninguém menos do que Nilton Santos, a Enciclopédia.

Descontadas as hipérboles, Pompéia foi um dos grandes goleiros da história do futebol brasileiro. É curioso saber que no começo da carreira jogava como artilheiro, assim como seu apelido ter vindo do seu gosto em desenhar Popeye, o marinheiro, quando criança em Minas Gerais: os amiguinhos não acertavam o nome do personagem, então virou Pompéia. Anos mais tarde, Pompéia ganharia o apelido de “Constellation”, famoso avião da época, em alusão a seus voos acrobáticos para fazer as defesas, sendo o autor do apelido outro gigante: o narrador Waldyr Amaral. Tudo bem diferente dos seus anos finais de vida, quando amargou enorme sofrimento e penúria, mas pelo menos ficou uma história espetacular, digna de livro.

E eu, que não vi Pompéia jogar mas sempre ouvi falar de sua fama, depois fiquei a pensar em outros goleiros americanos. Quando garoto, em fins dos anos 1970, vi País em campo, já devidamente celebrado neste Museu da Pelada. Tinha o Ernâni, que passou pelo Santos e atuou na partida de despedida de Pelé pelo Cosmos de Nova York. E também Jurandir, que tinha se destacado no Campeonato Carioca naquela época.

Ainda nos anos 1980, o America teve no gol nomes de muita expressão, tais como os saudosos Gasperin (Campeão dos Campeões em 1982) e Waldir Peres (goleiro da Seleção Brasileira). Por lá também passou outro goleiro de Seleção: Paulo Sérgio. E na última grande campanha nacional do America, o goleiro Régis, excelente debaixo das traves e fera jogando na linha em treinos e peladas. E bem antes destes, mas depois de Pompéia, o America teve Rosan no gol, também registrado nos jornais de então como Rosã, que marcou presença no final dos anos 1960.

Numa breve espiada, em amostra pontual, logo se vê quantos nomes importantes defenderam a meta americana ao longo de sua história, fruto de uma longa tradição que começou nos anos 1910, mais precisamente em 1911, quando o goleiro do America era ninguém menos do que Marcos Carneiro de Mendonça, antes de se transferir para o Fluminense e marcar seu nome de vez, tanto quanto primeiro goleiro da Seleção Brasileira e também como campeão. A começar pelo gol, o velho America tem histórias demais.

@pauloandel

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