por Marcos Vinicius Cabral
O futebol, de forma impiedosa, começou maltratando o coração de Mário Jorge Lobo Zagallo que, nesta quarta-feira (09), celebra 92 anos. Isso porque, naquele 16 de julho de 1950, o único tetracampeão mundial de futebol era um desconhecido soldado do Exército que trabalhava no Maracanã quando ouviu o apito final do árbitro inglês George Reader (1896-1978) e, ali, viu o sonho do primeiro título naufragar como Titanic nas águas gélidas canadenses do Oceano Atlântico.
O que Zagallo mal sabia era que o destino o colocaria em mais cinco decisões da Seleção Brasileira, tendo vencido quatro delas. Mas muito antes de tornar-se o mais vitorioso entre todos os esportistas do mundo, o Velho Lobo era retrato da tristeza diante da tragédia conhecida como ‘Maracanazo’.
Sem tempo para enxugar lágrimas que desceram do rosto do jovem militar naquela derrota do Brasil para o Uruguai de Ghiggia (1926-2015) na 4ª edição de uma Copa do Mundo e 1ª em solo nacional, Mário despiu-se da amargura e decidiu que se vingaria. Não a curto prazo, mas em épocas diferentes do tempo.
E o tempo, marcador implacável que forjou tantos e tantos e tantos heróis, não marcou o rosto de Zagallo em vão. De vez em quando, os cabelos brancos recebem o carinho dos familiares, dos fãs e dos amigos. Afinal de contas, estamos falando de um esportista que sobreviveu às custas da capacidade, competência e conquistas na carreira.
Mas o começo, em toda história com final feliz, se deu quando Zagallo, sem conhecimento do pai Aroldo, demonstrou talento nas peladas no terreno do Derby Club – onde eram realizados turfe, esportes equestres e atividades sociais – antes do espaço virar o Estádio Jornalista Mário Filho, conhecido como Maracanã.
Foi nas peladas que Zagallo mostrou habilidade. Mais tarde no time amador do Maguari foi aprimorando o dom de jogar futebol dado por Deus. O América Football Club, local em que praticava natação, tênis de mesa e vôlei, inevitavelmente, o receberia de braços abertos.
Mais iluminado do que o futebol apresentado no antigo Estádio da Rua Campos Sales, apenas os refletores que o pai Aroldo, conselheiro do clube, ajudou comprar. O brilho do jovem Zagallo já era visto por qualquer um.
Sendo assim, luz não seria problema para abrilhantar o menino Zagallo que, de maneira pueril, calçara pela primeira vez na vida um par de chuteiras.
Contrariando o pai, que queria porque queria que Zagallo fosse técnico de contabilidade, o futebol foi pulsando mais forte no peito do menino franzino nascido em Atalaia, no estado de Alagoas.
Mas a sorte ‘sorriu’ para o aspirante a craque. Contratado pelo Flamengo em 1950, Zagallo teve a oportunidade quando Esquerdinha, então titular, pediu licença para se casar e Itamar, reserva imediato, ficou doente.
No primeiro Campeonato Brasileiro de Amadores, em 1951, quando faturou o primeiro título, logo acabou notado pelo treinador Fleitas Solich. Foi titular no tricampeonato de 1953, 1954 e 1955, formando um senhor ataque com Joel, Moacir, Índio, Evaristo e Dida.
O bom futebol levou Zagallo a vestir a camisa da Seleção Brasileira e conquistar as copas do mundo de 1958 e 1962. Valorizado e dono do próprio passe, acertou com o Botafogo e fez parte de lendárias formações de ataque com craques como Garrincha, Didi, Amarildo, Paulo Valentim, Quarentinha e tantos outros. Privilégio para poucos.
Técnico vitorioso na Copa do Mundo do México, em 1970, e coordenador técnico na dos Estados Unidos, em 1994, Zagallo completa mais um ano de vida. No entanto, toda e qualquer homenagem feita ao supersticioso ex-jogador, ex-treinador e ex-coordenador técnico seria pequena diante da grandeza do Velho Lobo para o futebol.
Na lista de grandes ícones do futebol mundial, Zagallo, fã do número 13, devoto de Santo Antônio, não entra em nenhuma delas. Deve, obrigatoriamente, ter um asterisco ao lado do nome e ser colocado na prateleira de grandes nomes do futebol mundial como Pelé, Garrincha, Carlos Alberto Torres, Beckenbauer, Maradona, Ronaldo Fenômeno, Messi, Zidane, Cafu, Iniesta e tantos outros que foram campeões do mundo por suas respectivas seleções.
No entanto, Mário, não um Mário qualquer, mas Mário Jorge Lobo Zagallo, pai exemplar, avó e bisavô dedicado. Não bastasse, é um homem apaixonado pela bola e que amou a eterna Alcina de Castro (1932-2012) até os últimos dias de vida dela está um degrau acima dos gigantes do futebol.
Mas cá entre nós, por quê?, perguntariam os incautos.
Porque ele é, simplesmente, Mário Jorge Lobo Zagallo.
Adorei. Parabéns.
Homenagem espetacular! Vou repassar para amigos!