por Rubens Lemos
É delicioso insistir: o tricampeão mundial em 1970, Paulo Cézar Caju, artista do palco em grama, segue abusando de escrever o melhor texto brasileiro sobre futebol. Toquei outro dia sobre a síntese fulminante do gênio.
Sobra a PC Caju, a irreverência e a ironia sofisticadas assim como seus toques a balançar corações e concretos no Velho Maracanã.
PC Caju vem se superando. Parece quando, black power de penteado, exibia o biquinho propriamente dito em simultânea classe com o toquinho de ponta de chuteira deixando o centroavante – bom ou burro -, sem alternativas a não ser fazer o gol. PC Caju é um bisturi que dói na mediocridade ululante.
A última do meu herói, que adoraria conhecer, mas sei que não é dado a simpatias, foi o texto Pérolas da Semana, publicado no seu Instagram. Vibrei. Queria ter escrito o fuzilamento sarcástico do pavoroso futebol brasileiro atual mantido a coice pelos treinadores burros, jogadores pernetas e o vocabulário imbecil usado pelas duas categorias de rasteiro escalão.
Vou repetir na íntegra, avisando que o público-alvo não fala difícil para encobrir a inteligência das topeiras, despreza a idolatria a aberrações do tipo Gabigol e também não acha graça nos chiliques de Neymar, que, quando chegar à idade mental adulta, será aberto um bar na concentração do Íbis(PE), o pior time do mundo, para receber o primeiro time de marcianos de Saturno.
O textaço, puta texto, gol de letra, é destinado aos antigões de saco cheio com neologismos de anta repetidos por antas boçais tentando enganar ingênuos com sabedoria de Macaco Tião, que chegou a ser votado para deputado lá pelos nossos anos, os 1980 com expressivo contingente de devotos.
Bem, vamos ao primor fundamental de Paulo Cézar Caju em sua brigada contra a idiotização em escala industrial de um esporte em que ele- PC Caju – contribuiu para ser instrumento de alegria, sobretudo dos mais pobres, ele, menino feio e maravilhoso, que desceu a favela para ganhar o planeta.
Pérolas da semana
Paulo Cézar Caju sobre as asneiras dos treinadores, jornalistas e jogadores de baixíssimo nível no Brasil, baboseiras fundamentais para que cheguemos a 26 anos sem ganhar uma Copa do Mundo:
- ”Modelo de excelência de um mundo conectado na idéia do jogo cultivado, reluzente, revertendo no retorno, com resistência e implantando uma transição na maneira de atuar”. Conseguiram entender algo, Geraldinos?
- ”A mudança de rota na Seleção Brasileira não tem norte”. Ora, não sabia que precisava de uma bússola para indicar o caminho da Seleção!
- ”Dar amplitude por dentro, fatiando a bola, ao invés de virar o jogo, dando passe longo”. Vou pegar um facão e fatiar a bola em pedaços.
- ”Faz o break ao invés de diminuir a velocidade do drible do lateral”. Jogador virou dançarino agora?
- ”Na leitura do espaço dentro da grande área, o goleiro não soube dominar a redonda, não viu o atacante e saiu o gol”. Goleiro precisa ler ou ver para entender o jogo?
- ”Quebrar a bola (virou pedra agora) e dar assistência com consistência, ao invés do passe curto, médio ou longo, dando um tapa nela, sem tocar no falso camisa 9, querendo dar um toque na cara ou orelha da redonda, procurando a segunda bola (até onde sei só tem uma bola em jogo), pedindo passagem para avançar as linhas”. Decifraram o código, Geraldinos?
- ”Levar a cultura futebolística, jogo posicional, linguagem corporal, orientar a dita cuja bola viva viajando, centralizar o terceiro zagueiro, conectando os alas (das passistas das escolas de samba) para atacar os lados do campo”. Ate onde sei temos laterais e pontas no campo, não alas!
PS. Gostaram velhinhos iguais a mim? Estou pensando em botar numa moldura.
Caro Rubens monumental seu texto retratando a fina ironia de PC,ainda bem que os desgovernos nas 3 esferas não taxam baboseiras,pois se assim procedessem não haveria déficit público.