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PASSADO E PRESENTE

17 / julho / 2023

por Serginho 5Bocas

Às vezes me questiono se o futebol do passado era melhor ou pior do que o do presente. O bom senso recomenda ter prudência numa análise deste tipo, porque podem ter fatores bons e ruins para cada lado da balança, é só não se deixar levar. Pensando nisso, elenquei alguns pontos observados para a nossa resenha:

No passado recente, jogadores costumavam vibrar quando faziam gols e a torcida também dava um sonoro “uhhhhh”, para bolas na trave e dribles desconcertantes.
Hoje, é comum vermos jogadores que vibram exageradamente chegando a cerrar os punhos, quando dão um chutão pra lateral ou um carrinho, daqueles feios ou criminosos, que sujam a bunda e a dignidade do jogador, puro jogo de cena lamentável.

Antigamente, a gente sofria com as atrasadas de bola para o goleiro, quando um time tentava segurar um resultado, fazendo “cera”. Argentinos e uruguaios eram os mestres da “milonga” futebolística. Atualmente, é comum e irritante ver seu time bater um escanteio e observar sem acreditar que a bola está sendo recuada do córner até o goleiro do seu time, por falta de habilidade ou de culhão mesmo, sob a desculpa de que está atraindo o adversário para ficar em maior número ou para manter a posse de bola. Então tá, me engana que eu gosto.

Sempre existiram jogadores “catimbeiros”, que simulavam ter sofrido faltas para ganhar tempo ou irritar o adversário. Mas atualmente tenho a sensação que essas mesmas e terríveis simulações desagradam mais. Não que seja uma novidade, mas porque as inúmeras câmeras que agora transmitem o jogo, nos revelam toda a malandragem ou falta de ética das simulações grotescas e ridículas, fazendo a gente se envergonhar, até mesmo com nossos próprios jogadores.

No passado, não tão distante assim, os árbitros toleravam muitas reclamações dos jogadores e, por essa postura, tinha muito jogador que mandava no jogo. Agora a FIFA orientou os árbitros a aumentarem o rigor, chegando a tolerância zero com as irritantes reclamações. Não acho que chega a ser errado, mas o esquisito é que não se usa o mesmo critério para as agressões desleais, tolerando as entradas violentas com muita parcimônia e paciência, gerando em muitos casos o revide da vítima e a expulsão conjunta.

É límpido e claro na minha retina que os goleiros do passado quase não usavam os pés durante a partida. O primeiro que eu vi demonstrando até uma certa habilidade, apesar dos riscos, foi o “paredão” argentino Ubaldo Fillol, quando veio defender o Flamengo na década de 80, em substituição ao também lendário Raul Plassman. Fillol foi um suspiro de inovação, apesar dos gols de cobertura que levou. Depois dele, só veríamos de novo aquele jeito de jogar com os famosos Higuita e Jorge Campos. Hoje em dia, goleiro jogar com pé já está sendo um requisito para a posição, mas confesso que é coisa para cardíaco ou quem está a fim de ficar. Acredito que é um processo lento e nem todos os arqueiros estão aptos para a tarefa. Apesar dos riscos, a ideia está com pinta que veio pra ficar.

Antigamente a gente via os técnicos sentadinhos no banco de reservas, sem dar um “pio”. Tenho saudades da época em que os treinadores passavam a semana tramando o que seria apresentado no jogo e tinham o intervalo e a substituições para reverter algum ponto. Hoje, os treinadores parecem que estão em transe, gritando e se descabelando na beira do campo, que faz parecer que é um traço de modernidade de nossos professores ou “misters”. Nem vou falar da falta de educação das palavras e dos gestos que eles exibem quando são contrariados por alguma marcação dos juízes, mas hoje ficar gritando sem ser ouvido, com as vozes encobertas pelos gritos das torcidas, passam a impressão de sapiência qualidade.

No tempo em que Don Don jogava no Andaraí, Oto Glória fez sucesso na terrinha, levando os patrícios a um honroso terceiro lugar na Copa de 1966. Felipão, após ser campeão do mundo com o Brasil em 2002, desceu em Portugal e levou os caras a uma final de Eurocopa e uma semifinal de Copa do Mundo em 2006. Agora é um tal de português desembarcar por aqui, que fica parecendo que ser treinador português é certificado de qualidade e garantia de sucesso. Como o mundo dá voltas.

Quando eu era moleque, adorava escutar jogos no rádio para ouvir a emoção da voz dos locutores, narrando as grandes jogadas e ouvir as entrevistas com os jogadores na saída de campo, quando se colhia impressões da partida e pérolas engraçadíssimas das feras. Atualmente, só entrevistas agendadas, normalmente coletivas, só com o técnico e mais um jogador escolhido, colocado estrategicamente na frente do painel dos patrocinadores, um saco!

Somos dinossauros de uma época em que câmeras filmando o jogo era um luxo, que os erros de arbitragens quase não eram notados, exceto pelo Mario Viana da cabine de rádio. Bem diferente de hoje, em que o VAR domina a cena, como uma muleta para boa parte dos árbitros, que não tem coragem para tomar as decisões mais críticas e preferem se proteger, aparando-se na tecnologia.

Além disso, há uma enorme quantidade de câmeras que mostram a mesma jogada de vários ângulos, destruindo a fragilidade humana dos árbitros e bandeirinhas, pois muitas vezes não são capazes de avaliar corretamente e dar o veredito final somente com os recursos humanos. A máquina (VAR) é boa, mas fez o jogo ficar carente de replay, para conferir de perto todos os lances e nivelou por baixo todos os homens de preto, já que dificilmente algum arbitro mantém decisão contrária ao VAR quando é chamado para os “conferes”. O ruim do VAR é que quando você quer, ele não quer e quando você já estava feliz que ele ficou quieto, ele aparece de repente colocando água no chopp.

Para finalizar, não tenho certeza absoluta se as coisas melhoraram ou pioraram, mas ficaram diferentes e a gente tem que ir se adaptando, pra não ficar só reclamando, em vez de comemorar e aproveitar o que ainda existe de bom neste esporte apaixonante.

Forte abraço
Serginho 5Bocas

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2 Comentários

  1. Pedro Mayall

    Muita coisa mudou pra melhor: os gramados melhoraram muito; o jogo flui mais, não há tantas paralisações; as arbitragens estão melhores com critérios mais definidos; há mais conforto nos estádios; as imagens das transmissões são muito melhores; a preparação física dos atletas e a medicina esportiva evoluíram tremendamente. Ainda assim, eu prefiro o futebol antigo, mais técnico, mais vibrante, mais bonito, mais pluralidade no público nos estádios, personalidades, locutores e comentaristas mil vezes melhores (os bons de hoje são os remanescentes daqueles tempos). Talvez seja só nostalgia.

    Responder
  2. Alexandre Alberto

    Grande 5 bocas, muito bem observadas as diferenças. Nossa geração vai ter esta dificuldade de se adaptar, por causa das referências. Vamos aprender a ver as mudanças, lembrando do passado, não
    é fácil. Parabéns pelo texto e assunto, com amizade e admiração,
    Do seu fã
    Alexandre Alberto, vulgo Divino !

    Responder

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