texto: Marcelo Mendez | fotos: Revista do Cruzeiro
Eu não vi Tostão jogar.
Li muito mais sobre o camisa 9/10 do que o assisti em campo. Talvez por isso não o imagino quando revejo seus golaços, mas o reencontro em mim, no meu coração e nas minhas memórias afetivas quando leio Marcel Proust.
Não sei qual o motivo.
Talvez pela obsessão em comum, pela sanha em alcançar a substância do tempo para poder se subtrair de sua lei, seja pela sanha de tentar apreender, pela escrita, a essência de uma realidade escondida no inconsciente recriada pelo nosso pensamento, seja pela magnitude de um gol seu, de uma caneta ou uma cotovelada dada em um inglês na hora do passe, seja por tudo:
Tostão é a essência da busca de um tempo perdido.
De um futebol que não se joga mais, de um poema que não pode mais ser escrito, de um verso que não é mais declamado, de um tempo em sonhos que não se pode mais ser sonhado; Tostão em campo ou, na caneta a bordo de sua coluna, de suas crônicas é incessante busca do encanto que se perdeu.
Hoje, ao completar seus 70 anos de idade, muito, mas muito mais do que saudar o grande craque que ele foi, eu venho ao Museu da Pelada saudar o gênio que ele segue sendo. Agradecer a vida por tê-lo em nosso dia a dia, em nosso cotidiano meramente mortal, nos dando a honra de dividir suas letras.
Por tudo isso, saúdo Tostão em seu aniversário, um homem que para mim é muito maior que Marcel Proust, por que oras…
O francês não foi tri campeão do mundo…
Parabéns, craque!
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