por Paulo Roberto Melo
Sou um torcedor comum do Clube de Regats Vasco da Gama. Na adolescência e na juventude, fui torcedor da arquibancada e da geral do Maracanã. Fui pouco ver o Vasco em São Januário. Morador da Tijuca e sem carro, sempre foi difícil ir até São Cristovão, principalmente quando os jogos aconteciam de noite.
Sempre acompanhei o Vasco através dos jornais, dos programas de rádio e TV e quando o videocassete se tornou uma realidade viável nas casas, cheguei a colecionar gols do Vasco. Isso mesmo! Do final da década de 90 até o início dos anos 2000, eu gravava os gols e os anotava em uma folha. Comprei diversas camisas de jogo, algumas de treino, agasalhos e livros sobre o Vasco.
Considero que torcer para o Vasco sempre ultrapassou os limites de um simples gostar de um clube. Torcer para o Vasco significa mesclar sentimentos e memórias, envolvendo meus pais que já partiram, um dos meus irmãos, também já falecido e o irmão que ainda está comigo, parceiro de longas resenhas pós jogos.
Diante do quarto rebaixamento em 12 anos, eu preciso dar os parabéns a todos que classifico como responsáveis por mais essa humilhação. E vou fazê-lo de forma didática e hierárquica, listando dos menos ao mais culpado.
Parabéns aos jogadores. É certo que trabalhar sem receber salário é algo impensável para qualquer profissional, ainda mais em um ambiente de muito dinheiro. Dou os parabéns, porque determinados jogadores desse elenco não tem a menor condição de vestir a camisa do Vasco. São jogadores que não sabem chutar, cruzar, cabecear e dar um passe de dois metros.
Parabéns a todos os envolvidos com a política do Vasco. Parabéns ao grupo que colocou o Roberto Dinamite para ser o cabeça de uma chapa que prometia ter uma fila de empresas para patrocinar o clube, se fosse eleita e, que no fim, deixou o Dinamite sozinho. Parabéns ao Campelo, presidente desse último rebaixamento (não posso colocar essa cruz nas costas do Salgado). Parabéns por ter aceitado participar de um golpe para se tornar presidente e passar os três anos do seu mandato montando times medíocres, lutando para não cair nos dois primeiros anos, para cair no terceiro.
Ainda no campo da política, parabéns a todos os nomes que passei a escutar e ler nos jornais nos últimos tempos. Roberto Monteiro, Mussa, Leven, Brant, Euriquinho e muitos mais que não conseguem realizar uma eleição no clube, sem que ela seja resolvida na justiça. É impressionante como um clube com uma dívida de 720 milhões de reais ainda é disputado. Cada um, ávido por tirar um pouco mais.
E por fim, preciso dar os parabéns ao maior culpado de todos: Eurico Miranda.
É certo que muitos, ao ler estas linhas vão dizer que estou louco em culpar um homem que não dirige o clube há muito tempo. Outros talvez digam, que é um absurdo culpar um homem que já morreu.
Pois bem, engana-se quem pensa que o Eurico está morto. Ele está vivo no projeto megalomaníaco das Olimpíadas de 2000, quando contratou, sem dinheiro, atletas das mais diversas modalidades. Muitos desses atletas ainda estão na lista de credores, com cifras milionárias a receber. Foi o Eurico que não pagou FGTS e salários de diversos jogadores, condição básica de uma relação patrão e empregado. Esse fato fez com que o clube perdesse, de graça, grandes jogadores.
Muitos vão lembrar dos times maravilhosos que ganharam dois títulos brasileiros, uma Mercosul, uma Libertadores e um Carioca, brilhando no ano do centenário. Gosto de lembrar que o presidente desses títulos se chamava Antonio Soares Calçada. O Eurico era o vice, brigava pelo Vasco, era a voz ativa nos tribunais e era idolatrado pela torcida. Mas tinha o Calçada.
O Eurico se tornou presidente e no raiar do ano 2001, quando o Vasco entrou em campo para enfrentar o São Caetano, no Maracanã, na final de um evento patrocinado pela Rede Globo, estampando SBT nas camisas, ficou clara a mensagem: o Vasco não era mais da sua torcida, dos seus jogadores antigos e atuais, da imensa colônia portuguesa. O Vasco era de Eurico Miranda.
Vinte anos de Eurico Miranda foram e ainda estão sendo mortais para o Vasco. Durante esse tempo, ídolos foram perseguidos e o maior deles foi expulso das sociais de São Januário. Eleições foram fraudadas, urnas sumiram e a imprensa foi diversas vezes impedida de realizar o seu trabalho.
O legado dele permanece vivo. Luzes foram apagadas na última eleição, a Light foi cortar a luz de São Januário, a Cedae cortou a água. Os jogadores continuam com três salários atrasados. Atletas e técnicos continuam entrando na justiça por valores milionários. O Vasco não tem basquete, não tem voley, não tem atletismo e nem natação. O Vasco ainda tem futebol, mas ele agora é de série B e não sei por quantos anos. O Vasco tem a sua torcida apaixonada, sofrida, ávida por títulos e ídolos.
Eu caí muitas vezes na minha vida. E assim como o Vasco, não caí de surpresa, afinal, vinha caindo há tempos. Consegui me levantar das vezes que caí, graças a minha família e ao amor, principalmente da minha esposa e da minha filha.
Hoje, eu escutei um flamenguista cantar de sacanagem: “o Vasco é o time da virada! O Vasco é o time do amor!” Que seja profético! O Vasco precisa de uma virada e precisa de quem o ame, sem sugar dele aquilo que ele já não tem mais.
Por enquanto, nesses parabéns, eu relembro o poeta: “Vamos celebrar o horror de tudo isso, com festa, velório e caixão.”
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