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flecha negra

por Reinaldo Sá

Vindo do América-RJ, em meados da década de 70, o ponta direita Tarciso, o Flexa Negra, foi a marca registrada do Grêmio, com suas jogadas pelo lado direito, em extrema velocidade, técnica e chutes certeiros diante às metas adversárias. Nessa época, seu principal rival, o Colorado do Beira-Rio, reinava absoluto, mas Telê Santana, o Fio de Esperança, não estava ali para brincadeira. Em seu rígido fundamento, fazia inversões de posições com Tarciso e Alcino, o herói do título estadual de 1977, e autor da mais famosa cambalhota do Sul do Brasil, que interrompeu a saga octogonal de títulos gaúchos do Internacional. O Flecha Negra se destacou como um voluntarioso e técnico atacante. Também fez parte do elenco campeão brasileiro montado por Ênio Andrade, em 81. Antes disso, porém, também papou os estaduais de 79 e 80. Mas 81 foi o seu primeiro título de âmbito nacional, diante do São Paulo, com um gol do abençoado Artilheiro de Deus, o goiano Baltazar em uma jogada trabalhada pelo lado direito entre Tarciso e Paulo Roberto. O curioso é que o técnico Ênio Andrade já havia sido campeão brasileiro com o rival Inter, em 79. A essa altura Tarciso já era um ídolo do Grêmio, mas ele tinha sede de títulos e conseguiu impedir o bicampeonato do Penarol conquistando a Libertadores, de 83, em um jogo que foi uma verdadeira batalha. Faltava o Mundial! Renato Portaluppi seu herdeiro da ponta-direita estava no auge da forma e precisava jogar, mas o técnico Valdir Espinosa tinha a solução e dois reforços contratados apenas para a final do mundial de clubes contra o Hamburgo, da Alemanha, Paulo César Caju e Mário Sergio. O Grêmio entro em campo com Mazaropi, Paulo Roberto, Baidek, De Leon e PC Magalhães, China, Osvaldo, depois Bonamigo, PC Caju, depois Caio, Renato, Tarciso e Mário Sergio. E mesmo após alcançar o topo da glória ainda conquistou os estaduais de 85 e 86. Sempre lembraremos de você Tarciso, que merece uma estátua, já perpetuada em nossos corações para sempre, como diria o poeta gaúcho Lupicínio Rodrigues, autor do hino gremista. 

“UMA COISA JOGADA COM MÚSICA” – CAPÍTULO 21

por Eduardo Lamas Neiva

O papo sobre acidentes fatais voltou à mesa após a menção a Paulo Silvino. E Sobrenatural de Almeida pegou a deixa de Zé Ary.

Garçom: – Falávamos de jogadores que no auge de suas carreiras acabaram sofrendo acidentes fatais. Vocês se recordam de mais alguns?

Sobrenatural de Almeida: – Lembro do uruguaio Daniel González, que também tinha jogado na Portuguesa e no Corinthians e estava no Vasco quando morreu num acidente no Rio. Teve o zagueiro Figueiredo, do Flamengo, também.

Idiota da Objetividade: – Figueiredo morreu aos 24 anos, em 1984, num acidente com um helicóptero em que também estava Nilton, irmão e procurador do Bebeto, na época atacante do Flamengo e que dez anos mais tarde fez parte da seleção que se sagrou tetracampeão mundial nos Estados Unidos.

Garçom: – Houve muitas mortes trágicas. Uma que me deixou muito chocado foi a do zagueiro Serginho, do São Caetano, lá no Morumbi.

Idiota da Objetividade: – Foi uma noite muito triste para o futebol brasileiro a de 27 de outubro de 2004. Jogavam no Morumbi São Paulo e São Caetano, pelo Campeonato Brasileiro, quando, aos 14 minutos do segundo tempo, o zagueiro Serginho, de 30 anos, caiu na área de seu time. Logo, os jogadores das duas equipes que estavam mais próximos perceberam a gravidade e ficaram desesperados. Serginho foi levado para o hospital São Luiz, na capital paulista, mas não resistiu ao ataque cardíaco e faleceu.

Encorajado por quem estava em sua mesa, Serginho levanta-se e toma a palavra.

Serginho: – Mas agora estou aqui podendo participar deste evento maravilhoso.

Todos aplaudem e o ex-zagueiro agradece.

Músico: – Então, em homenagem ao Serginho, o Daniel González e o Figueiredo, que também estão aqui…

Garçom: – Podem aplaudi-los também (ambos também se levantam e agradecem os aplausos).

Músico: – Bom, com a licença do Jorge Ben, ou melhor, Jorge Benjor, que continua batendo um bolão no Mundo Material, vamos tocar aqui uma música dele, em homenagem a esses e todos os grandes zagueiros da História. Vamos lá, gente! “Zagueiro” vai limpar a área! E todo mundo pode dançar.

Todos se divertem a valer e aplaudem os músicos ao fim da música. Mas o tema das tragédias no futebol brasileiro retorna.

Garçom: – Creio que o acidente com o time do Chapecoense quase inteiro na viagem pra Colômbia, em 2016, foi a pior de todas, né?

João Sem Medo: – Vários jornalistas que iriam acompanhar a final da Copa Sul-Americana também estavam no avião que caiu a 30 quilômetros do aeroporto de Medellin, onde seria a partida.

Idiota da Objetividade: – Foram ao todo 75 mortos. Apenas seis sobreviveram, entre eles o goleiro Jackson Follman, o lateral Alan Ruschel e o zagueiro Neto.

João Sem Medo: – Sobreviveram também o locutor Rafael Henzel, que faleceu depois e já nos cumprimentou quando chegou aqui, e dois tripulantes. Entre os comentaristas mortos estava Mário Sérgio, ex-ponta-esquerda e meia de grande habilidade. Mário Sérgio foi um jogador de alto gabarito. Tinha o apelido de Vesgo, porque muitas vezes olhava prum lado e tocava pro outro pra enganar os marcadores. Os mais novos já viram Ronaldinho Gaúcho fazer isso algumas vezes e vão entender o que o Mário fazia.

Ceguinho Torcedor: – Foi treinador também.

Sobrenatural de Almeida: – Mas não teve o mesmo sucesso de quando jogador.

Idiota da Objetividade: – Mário Sergio começou no Flamengo, em 1970. Depois jogou em vários clubes: Vitória, Fluminense, Botafogo, Rosário Central da Argentina, Internacional, São Paulo, Ponte Preta, Grêmio, Palmeiras, Botafogo de Ribeirão Preto, Bellinzona da Suíça e Bahia. Entre os principais títulos conquistou o bicampeonato carioca de 75 e 76 pelo Fluminense, o campeonato brasileiro de 79 pelo Inter e o Mundial Interclubes de 83 pelo Grêmio. Como técnico comandou 11 times e foi dirigente no Grêmio, em 2005.

Garçom: – Mário Sergio também disse que viria, mas ainda não apareceu.

João Sem Medo: – Ele foi convocado pelo Telê em 81 e 82, mas acabou não indo à Copa da Espanha. Telê resolveu levar o Dirceu.

Garçom: – Dirceu teve um compromisso…

Sobrenatural de Almeida: – Esse papo tá mórbido demais.

Ceguinho Torcedor: – Todo mundo aqui partiu daquela pra melhor, Almeida. E pensei que gostasse dessas coisas.

Sobrenatural de Almeida: – Minha influência se resume ao jogo. Nunca matei ninguém.

João Sem Medo: – Sem essa, Almeida. Muita gente morreu do coração com gols no último minuto, chances perdidas em cima da hora, frangos incríveis…

Sobrenatural de Almeida: – … não diretamente, não diretamente.

Ceguinho Torcedor: – Ouço daqui a tua risada satânica.

Sobrenatural de Almeida: – Que isso, Ceguinho? hahaha

Músico: – A risada satânica do Sobrenatural de Almeida me lembrou de “Futebol no inferno”, que Castanha e Caju gravaram. O que acha, Zé Ary?

Garçom: – A música é de José Soares. Vou pôr no telão pra vocês verem e ouvirem a dupla.

João Sem Medo: – Muito boa esta!

Sobrenatural de Almeida (de pé, dançando e cantando): – Deus me livre d’eu ir lá! Deus me livre d’eu ir lá! Hahaha

Ceguinho Torcedor: – Essa risada satânica é inconfundível. Até no inferno se ouve e se reconhece.

Idiota da Objetividade: – Parece até que veio de lá!

Risadas.

Fim do Capítulo 21

as extraterrestres

por Zé Roberto Padilha

Circulando pela minha cidade, Três Rios, um berço de grandes craques, vejo que o tempo, o progresso, a ausência dos abnegados que deixaram os campinhos, onde davam aulas, e foram se virar vendendo qualquer coisa, levou a oportunidade das novas gerações.

Estou falando do futebol masculino, com todo o apoio e recursos que sempre receberam e, mesmo assim, faliu no interior do estado. Não tem mais futebol por aqui, em Paraíba do Sul, Teresópolis..

Agora, imaginem o futebol feminino, cuja obrigatoriedade é recente, que vive jogando sem público. E, ainda assim, sofrem preconceitos junto às famílias que ainda acham que é o esporte é bruto e é para homens.

Como surgiu uma Marta em meio a esse descaso? Como descobriram jogadoras adultas se, apenas agora, dada a obrigatoriedade, os clubes estão lhe dando oportunidades?

O que vimos em campo defendendo nosso país foram seres extraterrestres. Só vivendo em outros planetas para terem superado o descaso das nossas autoridades esportivas durante longos anos.

Não temos que lamentar a eliminação. Precisamos exaltar o fato de terem jogado, lá atrás, nas escolinhas, entre os homens porque a delas não existia. Entravam disfarçadas, para poder exercer o talento que lhe foi concedido.

São heroínas que superaram tanta coisa que merecem ser recebidas em carro aberto do Corpo de Bombeiros. Exaltadas, não cobradas. Reconhecidas.

O Brasil é o país do futebol. Masculino. Talvez em Marte …

A IMPORTÂNCIA DE WALDIR PERES NA MINHA VIDA

por Mauricio Capellari

Waldir Peres foi o goleiro da minha infância e isso já diz muito sobre sua importância na minha vida. O futebol no rádio, onde o jogo ganha contornos dramáticos e ainda mais emocionantes (de-feeen-deu Waaal-dir Pe-res)… O primeiro título, quando eu ainda não havia completado 6 anos, mas tenho a lembrança vívida tanto de Waldir quanto de João Leite, como se aquela esquisita disputa de pênaltis no verão de 78 tivesse ocorrido em 2012… As derrotas mais doloridas, como o Brasileiro de 81 e a Copa de 82… Enfim, tudo no futebol da minha infância passou por Waldir Peres. 

O brasileiro é meio estúpido por natureza e muitos “entendidos” o apontam como culpado pela derrota da Copa de 82, muito por conta de seu frangaço contra a URSS, no primeiro jogo da Copa da Espanha. Para o brasileiro médio, tudo se resume ao fracasso. A verdade é que Waldir Peres esteve ainda nas Copas de 74 e 78 como reserva, o que apenas confirma o alto nível de grande parte da sua carreira de quase 20 anos no futebol.
Waldir, o meu primeiro goleiro de futebol de botão, ainda hoje voa embalado pelo grito estridente de José Silvério, nas minhas memórias mais encharcadas de afeto com o futebol de outrora. Vai, Waldir, vai em paz, morto subitamente na velocidade meteórica de um infarto fulminante, revivendo aquele átimo em que a bola vem sedutora, pronta para ser defendida, controlada, contida e passa sem explicação morrendo dentro do gol. A vida não é uma bola que se busca no fundo das redes para que o jogo possa recomeçar. Waldir, agora, é apenas lembrança. Lembrança dos tempos de criança. R.I.P.

A EVOLUÇÃO DA ESPÉCIE

por Zé Roberto Padilha

Não foi o Gabigol, que sempre teve treinador à parte, lhe ensinando a bater na bola, dominá-la e cabecear com precisão, que perdeu o pênalti.

Foi o goleiro do Grêmio, Gabriel Grando, que evoluiu como toda a sua espécie, que defendeu a penalidade máxima.

Antes, os goleiros não tinham uma orientação específica. Félix, Jorge Vitorio, Jairo, Nielsen, Roberto, nos anos 70, treinavam a parte física com todo o elenco tricolor e, depois, por conta própria, se dirigiam a um espaço com areia utilizado pelo atletismo (salto em distância). E nos pediam para chutar a bola para saltarem de um lado para o outro.

Em 1974, Raul Carlesso, o precursor, nas ondas da conquista alemã e com as primorosas exibições de Sepp Meyer, que publicou um livro dizendo que jogava tênis “porque se enxergasse aquela bolinha não tinha como não defender uma bolona”, tudo mudou.

Os goleiros ganharam um treinador específico para chamar de seu. E passaram a ser abastecidos com vídeos e informações sobre os locais onde seus adversários mostravam suas armas. E os abatiam.

Semana passada, quando Gabigol partiu para bater o pênalti, o goleiro do Grêmio ficou estático até o último segundo em que precisava que optasse por um lado.

Como não optou por nenhum, quando chegou na bola, Gabigol não tinha força, nem velocidade, para bater firme num canto. E, quando o fez, a agilidade e as asas dos novos albatrozes facilitaram a defesa.

No começo dos anos 70, eram autodidatas que iam para debaixo da meta. Até diziam que, de tão amaldiçoada, a posição, onde eles pisavam nem grama nascia. Hoje, a grama nasce por igual, bem como a oportunidade de um tiro livre, direto, à queima roupa, se tornar também uma oportunidade dos goleiros não mais serem coadjuvantes de um ato decisivo.

Se tornaram heróis e protagonistas do espetáculo ao evitarem, com treinamentos e estudo, a eminente queda da sua cidadela.