O GIGANTE PAULO AMARAL
por Elso Venâncio, o repórter Elso
Paulo Amaral foi o precursor da preparação física no futebol brasileiro. Esteve junto à comissão técnica nacional durante as conquistas das Copas de 1958 e 1962, além do Botafogo, clube pelo qual teve forte identificação. Lutador de boxe, nadava e também levantava pesos. Era um gigante, com quase dois metros de altura e cem quilos de músculos.
O ‘Sargento de Ferro’ trabalhou na temida Polícia Especial do Presidente da República Getúlio Vargas. Paulo Amaral e Mário Vianna, ‘com 2 enes’, aquele que tão bem representou a arbitragem brasileira nos Mundiais de 1950 e 1954, patrulhavam o Rio de Janeiro, então Capital Federal do país, com suas possantes Harley-Davidson, sempre em dupla. Cabeças raspadas à navalha, fato raro na época, usavam boinas vermelhas. Eram famosos, mas também temidos, principalmente quando rondavam pela Lapa.
Paulo Amaral tinha 36 anos quando a Seleção Brasileira, já tendo conquistado a Copa na Suécia, enfrentou o Uruguai, no Estádio Monumental de Nuñez, pelo Sul-Americano de 1959. Nesse jogo estourou um dos maiores conflitos da história do futebol. Brigaram jogadores, reservas e comissões técnicas. Almir Pernambuquinho, que substituía Vavá, chocou-se com o goleiro adversário e foi agredido pelo zagueiro Martinez. Nisso, revidou no ato. Pelé tomou as dores e o zagueiro Orlando Peçanha entrou na confusão. Didi apareceu, acredite, dando voadoras. A polícia, preocupada em impedir a invasão dos torcedores argentinos, deu as costas para a batalha campal. Surgiu, então, o imponente Paulo Amaral, derrubando um a um que lhe aparecesse à frente com socos. Até os brasileiros se assustaram. Paulo Amaral, Didi e Paulo Valentim, foram os que mais bateram e apanharam. No reinício do jogo, o Brasil venceu por 3 a 1: três gols de Paulo Valentim.
“Vencemos na bola e na porrada!” – declarou Didi.
Antes de levar os estudos a sério e se formar, Paulo Amaral jogou futebol. Foi lateral-direito no Flamengo, passando depois para o meio de campo. O técnico Flávio Costa observava sua paixão pelos esportes e o aconselhou estudar na Escola de Educação Física do Exército, na Urca. Amigo de João Saldanha, Amaral gostava de comentar:
“Como é que João fala inglês, francês, alemão e até russo?”
Paulo Amaral passou a ter destaque como treinador quando dirigiu o Botafogo em quatro períodos diferentes. Depois, Corinthians, Fluminense, Vasco, Atlético Mineiro, Al-Hilal, Bahia e a Seleção do Paraguai, além do Juventus e do Genoa, dentre outros times nacionais e internacionais, conquistando títulos importantes.
Na geral do Maracanã, atrás do banco do Botafogo, um torcedor gritava insistentemente:
“Careca viado! Careca frouxo!”
Os jogadores reservas se entreolham, mas seguraram o riso. O técnico saiu de fininho, desceu o túnel, chegou ao antigo saguão e invadiu sorrateiramente a geral. De frente para o inconsequente sujeito que o esculachava, cruzou os braços e começou uma verdadeira sessão de boxe, abrindo um clarão no meio da galera.
No casarão histórico de General Severiano, eu acompanhava o velório do ídolo Didi. Antes de seu corpo deixar a sede, Paulo Amaral pediu atenção a todos. Pôs uma flor no peito do mestre da “Folha Seca”, beijou Rebeca e Lia, filhas do ex-jogador e rezou em voz alta:
“Pai nosso que está no céu…”
Em seguida, desceu as escadas e, nos jardins do casarão, seus soluços eram ouvidos à distância.
O carioca Paulo Lima Amaral faleceu em 5 de maio de 2008, aos 84 anos, na sua casa em Copacabana, bairro onde morou durante toda a vida.
A RAÇA DE CHINA
por Reinaldo Sá
Nos tempos do futebol raiz, China era a garantia para os avanços dos laterais Paulo Roberto e PC Magalhães e o porto seguro para os zagueiros Baidek e De León. Sua marcação sempre foi implacável! E se os defensores sentiam-se blindados o meio-campo também o reverenciava. E olha que na final do Mundial de Clubes, em 83, contra o Hamburgo, ele dividiu o espaço com nada menos que os talentosos Mário Sérgio e PC Caju.
China corria por todos, suava a camisa, se entregava como poucos pelo clube que sempre amou! E essa dedicação deixava mais livres PC Caju, o Vesgo e Osvaldo para abastecerem Renato e Tarciso. China carregava o piano para que toda a orquestra não desafinasse. Mas é bom deixar claro que também era integrante dessa orquestra estelar, pois tinha qualidade, botes certeiros e uma dedicação contagiante. Mas ele é pouco lembrado pela imprensa. Sempre foi idolatrado pelo técnico Valdir Espinosa.
O Grêmio travou várias batalhas até chegar ao cume, ao título, e o mosqueteiro China sempre saía vencedor. Sua raça jamais será esquecida pela legião gremista e pelos amantes do futebol. Se o Grêmio é gigante as novas gerações entender que um dos responsáveis por isso é Henrique Valmir da Conceição ou simplesmente China.
EM 1984, ASSIS É O CARRASCO DO FLA NOVAMENTE
por Luis Filipe Chateaubriand
Em 1984, Flamengo, Fluminense e Vasco da Gama chegavam ao triangular final do Campeonato Carioca.
O Vasco da Gama não foi bem no triangular, tendo perdido os seus jogos, tanto para o Fluminense, como para o Flamengo.
Assim, Flamengo e Fluminense chegavam para o jogo decisivo, em 16 de Dezembro de 1984.
Jogo muito disputado, o Flamengo tinha em Tita e Bebeto jogadores cruciais para o time jogar bem – lembre-se que Zico estava no futebol italiano.
Já o Fluminense contava com um conjunto harmonioso, bons jogadores e uma força física impressionantes.
Jogo equilibrado, os excelentes ataques do Flamengo invariavelmente paravam nas mãos de Paulo Victor, o goleiro tricolor, que cumpriu atuação de gala.
E, aos 30 minutos do segundo tempo, aconteceu o lance decisivo – da partida e do título.
O meia Renê, na intermediária, acionou o lateral direito Aldo, ao lado da área, pelo lado direito.
Aldo, com o pé direito, fez excelente cruzamento para a área, no alto, e a bola encontrou Assis, na pequena área.
Assis meteu a cabeça na bola, com extrema categoria, e esta foi “morrer no barbante”, no alto e no lado esquerdo do mítico goleiro flamenguista Ubaldo Fillol.
Fluminense 1 x 0 Flamengo.
O placar definitivo do jogo, que dava o bicampeonato carioca para o clube das Laranjeiras.
O herói do título era Assis.
Que, tal qual havia feito em 1983, tirou do Flamengo a chance de ser o campeão carioca.
Assis, o carrasco rubro negro, pela segunda vez consecutiva!
E A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL CHEGA AO FUTEBOL
por Zé Roberto Padilha
Ontem, em O Globo, Eduardo Barthem, criador da Performa Sports, explica porque cobra 4,5 mil mensais para ensinar ao Nino, do Fluminense, algo que jamais precisaram explicar pro Edinho.
Muito menos para o Thiago Silva, Ricardo Gomes, Duílio, Abel, Tadeu, Assis e Altair. Enfim, para a escola tricolor que usava a Inteligência Natural do Pinheiro para os ensinar a posicionar.
“Depois que ele estava correndo em direção à própria área, girava o corpo em 360 graus se o adversário mudasse a bola de lado. Foi por mim alertado. E passou a fazer o giro mais curto!”.
Como a Inteligência Natural nos abandonou, tantos anos sem uma genialidade em campo, tantas Copas do Mundo perdidas, melhor deixar o Nino ouvir, de um empresário que nunca jogou bola, situações buscadas no computador para obter mais recursos.
Se foi o dom, a habilidade, o drible da vaca inventado na pelada de rua ao tabelar com o muro, enganando o poste da Light que vinha na cobertura. Se foi o talento natural, imarcável, inimitável, do jogador de futebol brasileiro.
Não foi à toa que levaram o Messi para atuar mais próximo da sede do Facebook. Mark Zuckerberg vai aprontar mais aplicativos por aí, ou vocês acham que os americanos estão felizes em não ocupar também as trincheiras do futebol?
Ah! Pelé. Que falta nos faz a presença de um ser supremo, que conquistou o único reinado permitido aos colonizados, apenas dando tiros livres, diretos ou indiretos, com a naturalidade e a arte com que os Deuses do Futebol lhe concederam.
“UMA COISA JOGADA COM MÚSICA” – CAPÍTULO 22
por Eduardo Lamas Neiva
Após uma leve dispersada da turma após o “Futebol no inferno”, João Sem Medo retoma a pelota e provoca Sobrenatural de Almeida.
João Sem Medo: – Ô, Almeida, você conta é muita história, viu. Quer saber, se macumba ganhasse jogo, Campeonato Baiano terminava empatado.
Sobrenatural de Almeida: – Tá tirando sarro comigo, João? Não tenho nada com macumba, nem religião nenhuma, não. Meu papo é futebol, mas também não visto a camisa de nenhum time, sou democrático. Tem gente que acha que causo tragédias, mas não tem nada disso. Influencio apenas nos resultados de campo. De vez em quando, de vez em quando… desvio uma bola, sopro algo no ouvido do árbitro, desloco traves, coisas deste tipo. Se chamam de tragédia, é culpa da imprensa.
Idiota da Objetividade: – Sempre a imprensa é a culpada.
João Sem Medo: – Às vezes é mesmo, inventa muita coisa pra vender jornal.
Garçom: – Enquanto há jornal. Hoje, “seu” João, a imprensa luta por audiência e cliques, na internet.
João Sem Medo: – No meu tempo, já existia isso, não isso de cliques, mas a busca dos jornais por leitores e de audiência das rádios e TVs. E nisso se inventava muita coisa.
Ceguinho Torcedor: – Sou da imprensa anterior ao copy desk. Quando Pompeu de Sousa trouxe pro Brasil o que se fazia nos Estados Unidos, o copy desk, os nossos jornais foram atacados de uma doença grave: a objetividade. Daí para o Idiota da Objetividade seria um passo.
Idiota da Objetividade: – Sou cria do Pompeu com muito orgulho, Ceguinho. A objetividade é fundamental no jornalismo.
Garçom: – Não vamos discutir, amigos… Olha, aproveitando a deixa, vamos homenagear o criador destes nossos amigos aqui.
Ceguinho Torcedor: – Gostei! “Sou do tempo em que até os canalhas choravam”.
Sobrenatural de Almeida dá mais uma gargalhada satânica.
Garçom: – Esta música do Zeca Baleiro se chama “Meu nome é Nelson Rodrigues”.
Após a homenagem a Nelson Rodrigues, João Sem Medo retoma a pelota.
João Sem Medo: – Meus amigos, vou contar uma história que ilustra bem esse debate do Ceguinho com o Idiota. É sobre o jornalismo no rádio… Foi em 1958, quando o Botafogo voltou de uma excursão ao México e à América Central. Guiomar, mulher do Didi, estava fula da vida com ele, por causa da visita que os jogadores do Botafogo fizeram a uma vedete famosa no México. A foto foi publicada nos jornais daqui e ela não queria saber se Didi tinha culpa no cartório ou não e partiu pro Aeroporto do Galeão pra matar o marido de pancada. O crioulo voltou branco na viagem. Peguei o Didi e fomos pro clube, onde já estavam Amauri e Quarentinha, que tinham ido buscar a bagagem deles. Logo veio o rádio-repórter Vitorino Vieira com um gravador. Ele disse que não teve tempo de ir ao aeroporto, então pediu pra fazer as entrevistas ali mesmo. Até aí tudo bem, mas ele viu um empregado do Botafogo e pediu um ventilador. O empregado trouxe, ele começou a falar: “Caríssimos ouvintes, bom dia! Aqui fala Vitorino Vieira, desde o Aeroporto do Galeão, para cobrir a chegada do Botafogo de Futebol e Regatas. Madrugamos aqui para satisfazer nossos ouvintes”.
O povo do bar não se aguenta de rir. João Sem Medo prossegue.
João Sem Medo: – Ele ligou o ventilador bem perto do microfone e continuou: “Estão ouvindo o ronco dos motores do avião? Já estão descendo os jogadores. Saltaram Didi, Quarentinha, Amauri e o treinador João Saldanha, que vêm ao nosso microfone”. Fizemos a entrevista “desde o Aeroporto do Galeão”, mas Vitorino queria mais: “Didi agora está abraçando e beijando dona Guiomar, sua esposa”. E estalou um beijo junto do microfone.
Todos caem na gargalhada.
João Sem Medo: – Depois o repórter ainda se gabou que era bárbaro em sonoplastia e lascou outro favor, pedindo pra bancarmos os jogadores do Vasco, que estavam chegando ao Santos Dumont, de Belo Horizonte, onde tinham enfrentado o Atlético. E ligou de novo o microfone: “Senhores e senhoras, a vida do repórter de rádio é dura, viu. De madrugada estávamos falando do Aeroporto do Galeão com a chegada do Botafogo. Agora, estamos falando desde o Aeroporto Santos Dumont, com a chegada do Vasco da Gama”. E aí entrevistou o Amauri como sendo Almir, que tinha feito o gol do Vasco no empate em Belo Horizonte, eu fingi que era o Pinga; o Quarentinha bancou o Sabará, e o Didi, que já estava assustado, sumiu.
Garçom (rindo mais que todo mundo): – Sensacional!
Ceguinho Torcedor: – Quem diria, Didi, o Príncipe Etíope de Rancho, numa situação dessa.
João Sem Medo: – Jogava uma barbaridade. Meu amigo Neném Prancha tem uma boa definição sobre como Didi jogava. Como é, mesmo, Neném?
Numa mesa próxima, Neném Prancha levanta a voz.
Neném Prancha: – Didi jogava bola como quem chupa laranja, com muito carinho.
Didi: – Obrigado, minha gente. Mas essa história que o João contou já resolvi há muito tempo com a Guiomar. Não é, meu bem?
Didi dá um beijo em Guiomar e todos sorriem e aplaudem o casal.
Músico: – Com todo o respeito ao ilustre casal, até porque ficou tudo bem, mas a dona Guiomar ficou achando que o seu Didi tinha abusado da regra 3?
Risada geral e a banda toca um trecho de “Regra Três”, de Toquinho e Vinícius de Moraes.
Fim do Capítulo 22