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HÁ 55 ANOS SURGIA UM DOS DRIBLES MAIS ESPETACULARES DO FUTEBOL

por Victor Kingma

No dia 09 de março de 1968 Santos x Botafogo de Ribeirão Preto se enfrentavam pelo Campeonato Paulista daquele ano. O Santos, com aquele timaço, vencia o jogo por 2 x 0 quando aos 6 minutos do segundo tempo os torcedores presentes no estádio da Vila Belmiro assistiram pela primeira vez uma das jogadas mais plásticas da história do futebol.

Numa troca de passes do ataque santista a bola chega na área para o centroavante Toninho Guerreiro que toca para o ponteiro ponteiro Kaneco, na direita.

O jovem ponta, com pouco espaço, prende a bola entre os pés e a joga por cima da sua própria cabeça e do lateral Carlucci que, sem ação, não pode esboçar nenhuma reação.

E a jogada genial não parou por aí. Kaneco cruza a bola na área e o avante Toninho completa de letra, de maneira também espetacular, anotando o terceiro gol do Santos.
Os narradores presentes ao jogo não sabiam que palavras usar para descrever o drible inédito e genial.

Estava inventada de forma oficial a “lambreta” ou “carretilha” no futebol.

Kaneco foi o melhor jogador da partida em que formou o ataque ao lado de lendas do futebol como Toninho, Pele e Edu.

O Santos venceu a partida por 5 x 1, com três gols de Toninho, Negreiros e Pelé.

Embora tenha surgido como uma grande promessa, o jovem ponteiro, que faleceu em 2017, aos 70 anos, jogou poucas partidas no time sensação do Brasil naqueles anos, mas a sua inédita e genial jogada, que futuramente seria imitada por outros craques, ficou marcada para sempre como um dos lances mais espetaculares da história do futebol.

CHEGA DE MIMO

por Elso Venâncio, o repórter Elso

A bola rola nas Eliminatórias e os fracos adversários não servem de teste para a seleção brasileira. Neymar, nosso craque maior, volta a ser o centro das atenções, sabe de sua importância, mas não há necessidade de mimos. Ele foi destaque em Belém, deve ser de novo em Lima, mas não há necessidade de mimá-lo ainda mais. Afinal, Neymar vai para sua quarta Copa do Mundo sem ter conquistado uma sequer.

A CBF, em tabela com a televisão, homenageou o atacante do Al-Hilal, mesmo sabendo que Pelé não foi verdadeiramente superado. A entidade tem os números corretos. Foram 95 gols marcados por Pelé, em 113 partidas. Neymar chegou a 79 em 125 jogos.

O Santos, sim, respondeu de imediato. Colocou em seu site os números de seus dois maiores goleadores na seleção – com Pelé, claro, à frente. A FIFA, porém, não considera jogos contra seleções locais, combinados, muito menos diante dos times que a seleção enfrentava mundo afora na Era do ‘Rei do Futebol’. Cito apenas três exemplos: antes da Copa de 1970, o Brasil, sob comando do técnico João Saldanha, enfrentou a seleção gaúcha em Porto Alegre, o Atlético no Mineirão e o Bangu no estádio de Moça Bonita.

Os adversários na época de Pelé eram mais difíceis de serem batidos. O jogo, mais violento, e para onde olhássemos víamos um punhado de craques.

Segundo um levantamento do ‘Extra’ – que inclui apenas jogos em competições oficiais, não valendo amistosos –, Pelé soma 43 gols pela seleção; Ronaldo, 39; e Romário, dois a menos que o Fenômeno. Ainda de acordo com o jornal, Neymar marcou 35, ou seja, no momento está ainda em quarto lugar na lista.

Portanto, não é hora de ‘oba-oba’, como placa comemorativa e Neymar cercado e paparicado pelos próprios companheiros. Nos Estados Unidos, Canadá e México, Neymar estará com 34 anos e jogando a sua última Copa.

A festa e toda a euforia em Belém demonstra a carência do torcedor com a sua maior paixão. Levam, em troca de dinheiro alto, a seleção para jogar no exterior, contra adversários inexpressivos, esquecendo-se que os brasileiros têm direito de curtir de perto seus ídolos.

Sem intercâmbio com as potências mundiais, fracassamos nos últimos Mundiais. Além disso, não temos os geniais Didi, Garrincha, Romário e Ronaldo. Muito menos Pelé, que nunca será considerado pelo Mundo do Futebol um ‘Rei Morto, Rei Posto’. Mas, sim, um morto Rei que nunca deixará seu posto!

BAIDEK, O LENHADOR

por Reinaldo Sá

No clima frio dos pampas, um verdadeiro mosqueteiro ensinou aos gremistas o corte preciso de um bom churrasco e, principalmente, o corte e as antecipações para sobressair-se aos rivais. Esse era Jorge Baidek ou Baidekão, como a torcida gostava de chamá-lo. Titular absoluto na disputa com o vigoroso zagueiro central Newmar, campeão brasileiro com o Grêmio, em 1981, e um dos responsáveis por abrir o caminho do tricolor diante de uma América do Sul dominada por argentinos e uruguaios. Por isso, o saudoso Valdir Espinosa optou pela formação do lenhador gaúcho, o dos cortes precisos, com a experiência uruguaia de Hugo De León, o líder que banhou-se de sangue, raça e tatuou seu nome no coração dos gremistas. A dupla formou uma barreira intransponível na histórica decisão do Mundial Interclubes, em Tóquio, diante do Hamburgo, da Alemanha Ocidental.

Deu tudo certo e a sintonia também se estendeu aos os laterais Paulo Roberto e Paulo César Magalhães, e a segurança na meta de Mazaropi. Baidek merece todo o nosso reconhecimento, pois anulou os alemães em solo japonês.

“UMA COISA JOGADA COM MÚSICA” – CAPÍTULO 26

por Eduardo Lamas Neiva

Após cantar a Marcha do São Cristóvão, Silvio Caldas sai aplaudido do palco, abraça João Sem Medo, Ceguinho Torcedor, Sobrenatural de Almeida e Idiota da Objetividade e volta à sua mesa. João reinicia o papo.

João Sem Medo: – Quarenta anos depois da conquista do São Cristóvão, o Bangu, que já havia sido campeão em 33, na época da divisão entre amadoristas e profissionalistas, derrotou o Flamengo e seus 150 mil torcedores no Maracanã…

Sobrenatural de Almeida: – A final do Campeonato Carioca de 1966 não chegou ao fim…hahaha

Garçom: – Foi aquele fuzuê que o Almir Pernambuquinho armou no Maracanã, né?

João Sem Medo: – Isso mesmo, Zé Ary.

Músico: – Aquela confusão toda no Maracanã me lembra uma música antiga, o Futebol da Bicharada, de Raul Torres.

Garçom: – Raul Torres se encontra aqui, vamos chamá-lo ao palco pra cantar essa pra gente, então.

Raul Torres, aplaudido por todos, sobe ao palco.

Raul Torres: – Obrigado, gente. Nesse jogo aqui também teve confusão, mas pra cantar vou chamar meu parceiro Florêncio.

Florêncio vai ao palco também aplaudido.

O público ri muito e aplaude a dupla, que agradece e deixa o palco. Ceguinho volta a falar de Almir.

Ceguinho Torcedor: – Almir foi um grande jogador, chegou a ser convocado para os primeiros treinos da seleção em 58, mas acabou cortado. Tinha o pavio curtíssimo. Apesar dos seus defeitos, ou por isso mesmo, eu o via como um exato símbolo pessoal e humano do futebol brasileiro.

Idiota da Objetividade: – Antes daquela decisão entre Flamengo e Bangu, ele já tinha se metido em muitas outras confusões.

João Sem Medo: – Almir, que passou pelo Vasco, Boca Juniors, Santos, Fiorentina, Flamengo, todos grandes clubes e ganhando muito dinheiro, foi sempre um mão-aberta naquela timidez do boêmio que acha que tendo dinheiro no bolso é ofensa permitir que outros paguem a despesa. Teve uma morte trágica, foi assassinado num bar em Copacabana, no início da década de 70.

Idiota da Objetividade: – Almir começou no Sport Recife, em 1956, e foi para o Vasco, onde se juntou a Vavá e outros pernambucanos como ele que já estavam no time de São Januário. Ele recusou uma convocação para a seleção brasileira certa vez para excursionar com o Vasco e isso o deixou marcado. Por isso fez poucos jogos na seleção.

João Sem Medo: – Num desses jogos pela seleção provocou uma batalha campal contra o Uruguai, em 59.

Ceguinho Torcedor: – A mais famosa, porém, foi aquela de 66, quando o Bangu foi campeão em cima do Flamengo. Eu estava lá no Maracanã e vi, ou melhor, percebi o burburinho todo com a confusão que o Almir Pernambuquinho armou dentro de campo.

João Sem Medo: – Os nervos estavam à flor da pele desde o meio da semana. Houve uma verdadeira guerra de nervos. No jogo, também muito tenso, o Flamengo precisava ganhar, mas acabou perdendo Carlos Alberto, depois Nelsinho, machucados, e ficou sem pai, nem mãe. Aí saiu a encrenca toda e o árbitro Airton Vieira de Moraes, que teve uma das mais perfeitas arbitragens que já apareceram no Maracanã, foi muito feliz ao acabar com o jogo. Já estava 3 a 0 pro Bangu e poderia sair um conflito imprevisível naquela multidão. O Bangu foi o melhor time do campeonato e mereceu o título.

Idiota da Objetividade: – A partida entre Flamengo e Bangu foi disputada no dia 18 de dezembro de 1966. Era a última rodada do turno final, e o Bangu tinha a vantagem do empate para ser o campeão, mas fez dois gols no primeiro tempo e um logo no início do segundo. A briga começou aos 25 minutos do segundo tempo. Começou com uma discussão entre o atacante Ladeira, do Bangu, e o lateral-esquerdo Paulo Henrique, do Flamengo. Mesmo vencendo o jogo, Ladeira deu um tapa no adversário e Almir Pernambuquinho tomou as dores do companheiro e foi pra cima do lateral bangüense. Uma confusão generalizada que acabou com nove jogadores expulsos.

Sobrenatural de Almeida: – Eu armei aquele sururu. Fiquei soprando no ouvido do Pernambuquinho que o Flamengo não podia ser humilhado daquele jeito, que era preciso ele tomar uma atitude de macho.

Idiota da Objetividade: – O árbitro Airton Vieira de Moraes, conhecido como Sansão, deu cartão vermelho para cinco jogadores rubro-negros, Valdomiro, Itamar, Paulo Henrique, Silva e, lógico, Almir, e quatro alvirrubros: Ubirajara, Luis Alberto, Ari Clemente e Ladeira. O jogo teve de ser encerrado porque o Flamengo ficara com apenas quatro jogadores, o que não é permitido pela regra. O mínimo é sete. Assim, com os 3 a 0 no placar, o Bangu foi declarado vencedor e se tornou campeão carioca pela segunda vez. O público presente ao Maracanã naquela tarde foi de 143.978 pagantes, 90% de rubro-negros, que saíram frustrados do estádio.

Sobrenatural de Almeida: – Que nada! Sairiam frustrados se não tivesse tido aquela pancadaria toda. O Almir saiu como herói.

João Sem Medo: – Aquele jogo tem muita história estranha. Muita gente disse que o Sansão estava na gaveta do Bangu e que cada goleiro se vendeu ao outro time, mas o Castor teria descoberto e ameaçado de morte o time inteiro se houvesse algum gol contra o Bangu, sem citar o nome do Ubirajara. Logo no início do jogo, o Flamengo dominava, já tinha posto uma bola na trave, e o ponta-direita Carlos Alberto se machucou num choque acidental com Ari Clemente e nunca mais pôde jogar. Naquela época não havia substituição, o Nelsinho ainda se machucou e ficou em campo mancando com uma atadura no joelho fazendo número.

Ceguinho Torcedor: – Se o Valdomiro estava vendido ou não eu não sei, mas que o primeiro gol do Bangu, marcado pelo Ocimar, foi um frangaço, ninguém tem dúvida. Nem eu! Nos outros dois, de Aladim e Paulo Borges, ele não teve culpa.

Sobrenatural de Almeida: – Mas, Ceguinho, o que marcou mesmo foi a multidão gritando e aquele som abafado altíssimo ecoando em meus ouvidos: “Por-ra-da! Por-ra-da! Por-ra-da! Por-ra-da!…”hahaha

O público do bar faz coro com o Sobrenatural: – “Por-ra-da! Por-ra-da! Por-ra-da!…”

Sobrenatural de Almeida: – A torcida do Flamengo foi ao delírio. Perdeu o título, mas ganhou a briga de presente.

Garçom: – Certo. Mas hoje os homenageados serão aqueles campeões do Bangu, alguns aqui presentes, outros ainda vivendo no Mundo Material. Por isso, trouxemos aqui uma turma da banda do Bangu para alegrar o ambiente com a Marchinha do time campeão carioca de 1966.

Os integrantes são aplaudidos enquanto sobem ao palco e a festa começa, com todo mundo se divertindo a valer, especialmente Ubirajara, Fidélis, Mario Tito, Luís Alberto e Paulo Borges.

O FATOR EVARISTO DE MACEDO

por Zé Roberto Padilha

O Santa Cruz FC, dirigido por ele, uma máquina de jogar futebol no fim dos anos 80, (Joel Mendes, Carlos Alberto Barbosa, Lula Pereira, Levir Culpi e Pedrinho; Givanildo, Wilson Carrasco, Betinho e eu; Nunes e Fumanchú) enfrentou o Palmeiras, no Parque Antártica, pelas semifinais do Brasileiro de 78.

Na preleção, Evaristo nos deu uma missão: anular Rosemiro, naquela ocasião lateral da nossa seleção. E sem perder a ironia e seu conhecido sarcasmo, completou:

“Os dois não vão jogar. Como ele joga muito e você não joga nada…”.

Rosemiro não jogou e Luiz Fumanchú (2) e Nunes (1), contra 1 de Toninho, garantiram nossa histórica vitória, cuja recepção à delegação, no Aeroporto de Guararapes, parou Recife. Fomos recebidos como heróis.

Se hoje os treinadores tivessem a humildade de sacrificar uma peça para anular uma outra que faz a diferença, uma marcação homem a homem sobre Bruno Henrique, por exemplo, talvez o Botafogo não tivesse perdido o clássico.

Serão sempre onze contra onze, mas, quando no time adversário um joga por dois, melhor sacrificar um dos nossos. Ou no pôquer não tem blefe? Na sinuca não tem sinuca?

No auge da marcação em cima, saía de campo para tomar àgua ao seu lado e ouvi Rosemiro me mandar tomar … se phuder… entre outros elogios. Porém, já tinha desenvolvido um antídoto:

“Desculpe, amigo, mas meu treinador mandou anular o melhor do time!”

Vaidosos, até queriam confirmação.

“Evaristo disse mesmo? Que sou o melhor do time?”

E aí até relaxavam. Mesmo sendo eliminados dentro de casa.