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OS RICOS RIVAIS

por Elso Venâncio

A histórica frase “Estamos em outro patamar”, dita pelo atacante Bruno Henrique, do Flamengo, cabe também agora ao rival Botafogo. Há frases similares, como “temos dinheiro”, de John Textor, e “vamos pagar (o terreno do novo estádio) em cash”, de Rodolfo Landim.

As recentes contratações do Thiago Almada e Luiz Henrique, pelo Botafogo, e Carlos Alcaraz, pelo Flamengo, marcaram definitivamente uma nova era no futebol brasileiro. Inicialmente, voltavam os veteranos descartados da Europa. Eles chegavam jogando com ilusório destaque e recebendo altos valores, já que o valor do passe sempre é somado ao salário. 

Ao abrir os cofres, o Flamengo mudou o mercado com Arrascaeta, Gabigol, David Luiz, Filipe Luis, Gerson, De La Cruz… O Botafogo retrucou, já tendo investido mais de R$ 366,3 milhões desde a chegada do seu mandatário, Textor. Destaque para as contratações de jovens com poder de revenda, pagando parceladamente. Luiz Henrique, destaque do Campeonato Brasileiro, já está na Seleção Brasileira. 

Para ter o argentino Alcaraz, de 21 anos, o Flamengo desembolsou R$ 110,6 milhões. Desta forma, superou o valor pago pelo Botafogo para ter Luiz Henrique, que liderava a relação dos mais caros, com R$ R$ 106,6 milhões. Luiz Henrique e Alcaraz só ficam atrás do argentino Thiago Almada, de 23 anos, campeão mundial pelo seu país. Com os R$ 137,4 milhões investidos pelo Botafogo, Almada é o novo recordista do futebol brasileiro neste quesito. São jogadores com potencial para atuar em qualquer parte do planeta.

Olhando para o passado, podemos lembrar o caso de Romário, ídolo que retornou ao país por vontade própria. Após a conquista do tetracampeonato mundial pela Seleção Brasileira, em 1994, o Baixinho poderia continuar no Barcelona ou escolher outro grande clube europeu. Acabou sendo repatriado pelo Flamengo, que não estava estruturado para receber o maior jogador do mundo e, mesmo com a intensa compra-e-venda, não deu a ele um time que pudesse buscar títulos de grande expressão. Romário só treinava à tarde. Se o salário atrasasse, nem aparecia. 

Outro caso a ser citado é o de Rodrigo Fabri, emprestado pelo Real Madrid ao Flamengo com status de craque, em 1998. Chutava de qualquer distância. Não era de tentar tabelas e muito menos dar assistências. Eis que Rodrigo, de repente, saiu do time. Nem no banco ficava, até ser negociado.

Era um tempo de menos profissionalismo. Novamente sobre Romário, certa vez ele não concentrou, por estar contundido, mas apareceu no vestiário dizendo que ia jogar. E entrou em campo com incentivos de dirigentes, sob comentários como o de que médicos havia vários, mas Romário, só um.

Top-5 das maiores contratações no Brasil:

Thiago Almada (Botafogo) – R$ 137,4 milhões

Alcaraz (Flamengo) – R$ 110,6 milhões

Luiz Henrique (Botafogo) – R$ 106,6 milhões

Pedro (Flamengo) – R$ 88,2 milhões

Gerson (Flamengo) – R$ 85 milhões

O Flamengo briga por título nas três competições que disputa (Brasileiro, Libertadores e Copa do Brasil), enquanto o Botafogo lidera o Brasileiro e também está vivo na Libertadores.

ROMÁRIO RAIZ

por Rubens Lemos

Em 1986, quando estourou de vez no Vasco, Romário recebeu jornalistas da Revista Placar na Vila da Penha, área pobre do Rio de Janeiro, onde morava com a família. Mostrou a cozinha do casebre onde se apertava com os irmãos, apresentou amigos de infância, caminhou pelas vielas e se despediu para sair ao treino em São Januário.

Romário seguiu em seu carro e a equipe de Placar atrás. Com menos de um quilômetro de trajeto, policiais militares fecharam o veículo do ainda cabeludo atacante, fizeram-no descer e revistaram suas roupas e o automóvel.

Um deles, ao reconhecê-lo, pediu e recebeu um autógrafo daquele que viria a ser o maior homem ofensivo do futebol. Palavra de Tostão e de Cruijff. O PM, morto de vergonha, foi sincero:

– Pô, Romário, desculpa aí, mas um mulato dirigindo um Monza novinho por essa área, a gente tem que desconfiar.

Hoje sucata, o Monza, da GM, era carro de luxo da época. O fotógrafo da Placar registrou a cena e o repórter – por sinal Tim Lopes, barbarizado por traficantes sádicos -, escreveu indignado seu texto.

Romário tem toda a razão em ser do jeito que é, desconfiado e enojado de hipocrisias. Romário em 1994, quando carregou sozinho nas costas, nas arrancadas e golaços a seleção brasileira do tetracampeonato, fez o asqueroso presidente da CBF, Ricardo Teixeira mandar de volta ao Brasil um sobrinho, que menosprezara o irmão do craque durante um treino.

– Ou ele volta ou eu não piso mais em campo!

O sobrinho mimado recebeu bilhete internacional da Varig. De retorno.

Passado na casca da malandragem, Romário sabia que o homem vale aquilo que pode oferecer e os salamaleques a ele dirigidos nos Estados Unidos significavam apenas a dependência de sua genialidade, engolida a seco pelo técnico Parreira e o coordenador e avô da retranca, Zagallo, que lhe pediram socorro para classificar o Brasil nas Eliminatórias quando a vaga esteve sob risco. Romário deu show sobre os uruguaios e bananas para os falsos.

Quando candidato e depois eleito deputado federal, foi tratado com ironia grosseira e comparado a personagens picarescos, do tipo do Cacique Juruna de antanho. Fez um bom mandato, enfrentou a Bancada da Bola, denunciou a corrupção na Copa do Mundo e dela foi banido, como sua bela página histórica pudesse ser arrancada.

Tão competente deputado federal, Romário consagrou-se Senador da República e, por aclamação, foi eleito presidente da Comissão de Educação, Cultura e Esportes. Preconceituosos saíram da toca e passaram a estocar nas redes antissociais a sua escolha, a sentenciá-la de ridícula.

Poucos são mais brasileiros do que Romário. Seus amigos, são os seus amigos do tempo de favela, dirigentes escroques, sempre tratou na merecida insolência. Romário na Comissão de Educação merece aplauso. Ele será a figura política, o mandato é fruto do dono e de uma assessoria competente.

Romário, por sinal, não figura em listagens sujas de desvios de dinheiro, lotadas de notáveis com diplomas e pós-graduações acadêmicas. Que nunca vão moldar um caráter. Tampouco educação. Ou uma personalidade capaz de orgulhar seu povo.

ÁRIAS

por Zé Roberto Padilha

Árias, no sentido estrito, é uma composição musical escrita por um solista. No caso atual, por um colombiano.

Usa-se o termo Ária quando esta se encontra dentro de uma obra maior, como uma Ópera. Como um time campeão, o Fluminense, que encantou as Américas.

No sentido amplo, pode ser destinada a mais de um cantor. Chama-se dueto quando o André pega a bola. E terceto, quando o Ganso encontra o Cano livre em meio as partituras.

Exemplos de Árias encontramos em Carmen, de Bizet. E em Turandot, de Puccini. Portanto, se não tiver grana para ir ao Teatro Municipal, dê uma chegada no Maracanã.

Jonh Árias é o solista da vez. De seus pés tem saído as obras de arte que buscamos todos os dias. Aquelas que nos inspiram. E nos fazem viver melhor.

O FENÔMENO

por Elso Venâncio

Uma conversa entre Carlos Alberto Parreira e Reinaldo Pitta, procurador do garoto Ronaldinho, ajudou a definir o destino da “promessa de craque” na Copa de 1994, nos Estados Unidos.

— Parreira, e os atacantes?

— Bebeto e Romário, titulares. Müller, Viola, sei lá… Paulo Sérgio. Tem Evair, que não vai jogar.

— Que tal Ronaldo, para ganhar experiência?

Parreira ficou pensativo. Eis que Ronaldo Nazário surge na convocação, e Evair, em grande forma, fica de fora. Foi o único trainee da história da Seleção numa Copa do Mundo.

Quatro anos após o tetracampeonato, com 21 anos, Ronaldo já seria o protagonista do Mundial da França. Não à toa, pois já havia sido eleito pela FIFA o melhor jogador do mundo por duas temporadas seguidas. Após a derrota na final por 3 a 0, para os donos de casa, deixou o campo “aéreo”, com as chuteiras da Nike envoltas no pescoço, olhando para o infinito e procurando entender o drama que viveu horas antes de a bola rolar.

O técnico Zagallo, sério, com o rosto suado e avermelhado, surgiu esbaforido num corredor com parede mal rebocada e uma fita azul separando os entrevistados dos jornalistas, com todos de pé no recém-inaugurado Stade de France. “Vocês não imaginam o que aconteceu! Ronaldo passou mal após o almoço. Teve convulsões. Dr. Lídio Toledo vai explicar”.

O jornalista Mauro Leão, do jornal “O Dia”, resmunga:

— E por que jogou? 

— Por quê? — Zagallo respira fundo. — Isso abalou o grupo. Por quê? Por quê? Porque jogou, porra! — grita. — Você está satisfeito? — aponta, com dedo em riste, para Mauro Leão. 

— Eu não! Satisfeito está Aimé Jacquet, campeão do mundo.

As rusgas normais com a imprensa já haviam aumentado após as críticas ao esquema retrancado do Parreira na conquista do tetra, em 1994. Romário só foi convocado por Parreira e Zagallo após clamor popular nas Eliminatórias de 1993, além de interferência do então presidente da CBF, Ricardo Teixeira. Na Copa da França, o Baixinho estaria recuperado durante a competição, mas acabou cortado, se revoltando contra Zagallo e Zico, que era o coordenador técnico. Colocou caricaturas depreciativas dos dois no banheiro do Café do Gol, boate que abriu na Barra, e o caso foi parar na Justiça. Romário lembrou que esperaram por Branco e não tiveram paciência com ele, um homem gol!

Branco estava contundido no início da Copa de 1994. O lateral teve chance de jogar com a suspensão do Leonardo e marcou um gol decisivo contra a Holanda, em Dallas.

Sobre Ronaldo, na Copa de 2002, o destino repararia uma injustiça do Mundial anterior. Há muitos anos já apelidado de Fenômeno pelos italianos, ele foi o artilheiro da competição no Japão e na Coreia do Sul, sendo decisivo para o pentacampeonato.

Conquistar uma Copa não é tarefa fácil! Só unindo gênios da bola no time…

1958 e 1962 – Pelé, Garrincha, Didi e Nilton Santos;

1970: Pelé, Gérson, Tostão e Rivellino;

1994 – Romário e Bebeto;

2002 – Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho e Rivaldo.

OS CAMINHOS QUE ESSA VIDA DÁ

por Zé Roberto Padilha

Em 1992, depois de trabalhar nas divisões de base do Fluminense, em Xerém, desde 1987, entregamos aos profissionais uma safra que continha quatro raridades: os últimos pontas ofensivos da gloriosa histórica tricolor.

Depois de Wilton e Cafuringa de um lado, Lula, Gilson Nunes e Escurinho de outro, formamos Wallace e Vlamir, pela esquerda, e Paulo Alexandre e Neném, pela direita.

Infelizmente não havia seriedade na diretoria tricolor. Mário Bittencourt se orgulharia e certamente acolheria estes meninos. Mas o Fluminense andava ruim das pernas, e permitiu que um diretor empresário pagasse uma folha atrasada.

Algo inédito e lamentável. E ele preferiu receber em troca os passes de jogadores. E tratou de descartar as pratas da casa. Uma geração fez a glória do Bragantino e a nossa encontrou abrigo aqui em Três Rios. Nos clubes, dirigi o América e Entrerriense.

Essa página só não ficou ainda mais manchada porque o Beach Soccer acolheu um dos nossos pontas. Neném, que se tornou (foto) o Rei da Praia.

Lembro bem que os torcedores tricolores chegavam mais cedo para assistir o show que eles davam. Os dribles em busca da linha de fundo. Uma pena que tinha gente com objetivos menos honrosos na diretoria.

E estes só alcançavam o fundo do poço.