Ademir da Guia
ENCONTRO COM O DIVINO
texto e entrevista: Marcelo Mendez | fotos: Rodrigo Pinto | vídeo: Marcelo Ferreira e Victor Limeira edição de vídeo: Daniel Planel
Não se trata apenas de futebol e jornalismo.
Ademir da Guia e Marcelo Mendez (Foto: Lucas Ivoglo)
Tampouco falamos apenas de uma entrevista que se faz, entre mortais, em que um pergunta e o outro responde, não; Nada disso. Falar com Ademir da Guia é muito mais do que uma pessoa comum, como eu, pode vir a mensurar a vocês meus iguais.
Ademir da Guia é o encontro possível com a Divindade.
É no minuto que escorre a lágrima, no átimo de segundo que a mente é fulminada pela criação de um verso, no instante mágico em que a razão é suspensa ante a criação de um poema ou de uma sinfonia, que se chega perto de Ademir da Guia.
Estar perto dele nos eleva a um plano que mortal algum merece estar. Um olimpo onde mora tudo que é lindo, tudo que é encanto, tudo que é belo e divino. É estar com Proust, com John Coltrane, com Matise, Picasso ou Goya. É virar uma esquina que outrora foi comum e nela ver o jardim das acácias de Monet. É sentir a beleza em estado puro.
Pelo tempo em que Ademir da Guia esteve campo, o mundo decerto foi melhor. O tempo dos homens foi outro e a luz dos dias foi muito mais intensa e feliz. Por gramados do mundo afora, o eterno camisa 10 do Palmeiras contemplou o futebol com odes e épicos. Pela vida assim seguiu e, agora, aqui estamos para falar disso tudo.
Caro leitor do Museu da Pelada, estou aqui para te dar os parabéns. Você terá a honra de ver Ademir da Guia.
Bem-vindo ao que há de Divino…
REI DAS EMBAIXADINHAS
vídeo e edição: Rodrigo Cabral
Não é nenhuma novidade que muitos talentos são desperdiçados e acabam fracassando na profissão de jogador! Marcelo Mendes é um deles! Habilidoso, o craque até fez testes em alguns clubes do Rio de Janeiro, chegou a ser aprovado, mas não seguiu na profissão!
Embora exerça o trabalho de gari há alguns anos, o craque jamais esqueceu a paixão pela bola! Desde pequeno, Marcelo demonstrava uma intimidade absurda com a redonda! Sendo assim, passou a treinar embaixadinhas e se tornou um fenômeno no quesito!
O craque já ficou incríveis seis horas e dois minutos batendo a bola com a cabeça, sem deixar cair, e é o recordista brasileiro de embaixadinhas com o pé, totalizando 2210 toques! Em busca de novos recordes, Marcelo passou a treinar embaixadinhas com o coco e não é que o resultado também foi impressionante? Foram 190 toques e mais um recorde para a conta dele!
A equipe do Museu da Pelada foi até a Praia de São Conrado, no Rio de Janeiro, conferir um pouco do que esse personagem da bola é capaz de fazer!
Valeu, Marcelo!!
O DIA QUE O COROTE E MOLOTOV VIBROU
texto: Marcelo Mendez | foto: Maristela Ranieri
Era um dia diferente na várzea de Santo André.
Ao contrário dos domingos de sol, de manhãs de feiras livres, do gosto de pastel e dos cheiros dominicais, dessa vez a pauta era em um sábado que repentinamente se fez de inverno, em tons acinzentados que outrora talvez pudessem ser chamados de melancólicos, mas não.
Dada o quão especial era aquela pauta na várzea, o sol em acordo com o destino resolveu se recolher para gerar em mim um outro tempo. Um momento de mais silencio, de mais solidão até, para que toda reflexão acerca do momento que estava por viver, fosse feita.
Era um sábado. Dia de receber no campo do 7 de Setembro, em Santo André, o meu time, o nosso time. Corote&Molotov para além de time de futebol é uma experiência que ousa ser única no futebol. Uma união entre moradores de rua de três ocupações da região da Radial Leste em São Paulo (São Martinho, Alcântara Machado e Cimento) e ativistas que correm junto com esses moradores na luta por moradia.
Lembro de quando o companheiro Paulo Escobar me chamou para fazer parte de tudo. Não pude recusar.
Conhecendo a ocupação Alcântara Machado, conheci Carequinha, Gordinho, Tibuia, Olodum, Ceará, Baixinho, Índio, Carlos, Dione, Japa e mais outros que formam conosco o nosso time. Tive destes a honra de conhecer as suas histórias, lutas, agruras, dores e ouvi as mais lindas histórias de vida e resistência. Me emocionei por um milhão de corações que pulsam por paixão e fúria, que clamam por igualdade, que não querem pena de ninguém, querem justiça e não se fazem de rogado em lutar por tudo isso.
Começamos a batalhar então e o Corote já está na ativa há dois meses. As coisas do trabalho, no entanto, me impediram de vê-los em ação e isso só foi possível no último sábado, quando os amigos do Racing Sacadura nos enfrentou. Lá fui eu…
Em meio a esse sábado acinzentado e frio, encontrei meus amigos de time trocados, orgulhosos, felizes, na beira do campo e prontos para o jogo. Olhei para cada um de seus rostos e vi neles uma alegria que contagiaria a qualquer ser vivente. Mas ainda tínhamos que jogar e o match era duro.
Até o final perdíamos por 2×1 e Guilherme, o nosso técnico, se retorcia em táticas, enquanto eu, Caróu e Adriana torcíamos por uma sorte diferente daquela que tínhamos, quando Escobar bateu uma bola no gol e o goleiro do Racing rebateu.
No rebote, Dione correu. Mas correu por muito mais que apenas uma bola. Nos pouco mais de 20 metros que nosso menino atacante correu, uma vida veio à tona. Era correr pelo sonho, pela alegria, pelo que a vida jamais poderia deixar de dar para as 650 pessoas das ocupações da Radial Leste e para todos os brasileiros que lutam por moradia nesse País. Dione correu…
Pegou aquele rebote e estufou as redes. Gol! Comemorou como se a vida fosse de fato algo muito bom, abraçou seus companheiros de time, de luta e de vida e foi feliz como é de direito ser.
Nesse momento em que os nossos festejavam, me afastei. Fui para um canto do campo e vendo os jogadores do Corote&Molotov, chorei da mesma forma que se chora por uma grande vida. A lágrima grossa que me escorria a barba enquanto via os nossos felizes é a mesma que desce o rosto agora que escrevo essa crônica e eu devo a esses jogadores toda a alegria desse sábado que jamais deixará de existir em mim.
Obrigado, amigos.
Amo vocês, profundamente….
LANÇAMENTO
O casal Alexandre Araujo e Aline Bordalo lança hoje o livro “Onde a Coruja dorme e outras histórias”, às 19h, na Livraria da Travessa do Shopping Leblon!
O livro é destinado, sobretudo, para crianças e adolescentes e as historinhas brincam com expressões conhecidas do futebol, e recriam significados para elas.
Alexandre é jornalista e radialista e apresenta os programas Pop Bola e Panorama Esportivo, na Rádio Globo. Sua esposa, Aline Bordalo foi repórter esportiva e apresentadora da Band, SBT, SporTV e Globo Esporte e atualmente escreve para o site Paixão Futebol.
Imperdível!!
Bandeira de Mello
REVOLUÇÃO RUBRO-NEGRA
texto: Sergio Pugliese e André Mendonça | entrevista: Sergio Pugliese | fotos: Marcelo Tabach | vídeo e edição: Rodrigo Cabral
A apaixonada torcida do Flamengo tem motivos de sobra para sorrir! Além da boa fase do time, com os reforços começando a funcionar, a diretoria cumprido, com louvor, seu dever de casa fora de campo, afinal o clube está próximo de terminar o ano com uma dívida líquida inferior à receita do ano, fato raro nos clubes brasileiros. Dinheiro em caixa, sonho de transformar “o mais querido” numa potência mundial, o presidente Eduardo Bandeira de Mello tem consciência do cenário positivo, mas reconhece que sem títulos o projeto corre o risco de não ser reconhecido.
– De acordo com os institutos de pesquisa, a torcida do Flamengo é a que mais cresce no Brasil, com títulos a tendência é o número dobrar. E o Flamengo sabe conquistar títulos – comentou, orgulhoso, o presidente Eduardo Bandeira de Mello, no vestiário do clube, enquanto posava para o tricolor Marcelo Tabach, fotógrafo do Museu da Pelada.
E se depender de ajuda divina para os sonhos se concretizarem, o Cristo Redentor está bem pertinho abençoando o campo de treinamento da Gávea.
– Mas o Mengão pode virar um Barcelona? – perguntei.
– Um dia vai dar para o clube comprar um ídolo só com a venda de camisas – emendou Rodrigo Cabral, videomaker do Museu.
– Mas, Pugliese, a entrevista não era sobre minha carreira peladeira? – esquivou-se o presidente.
Apaixonado por futebol desde criança, Bandeira, lateral-direito “estilo Leandro”, jogava pelada com os meninos do Morro do Borel nas ruas Conde de Bonfim e São Miguel, ainda pouco movimentadas, ou no campinho de sua casa, na entrada da favela. Entre os meninos do Borel um destacava-se, mesmo jogando entre os adultos: Carlos Alberto Pintinho, que, viria a ser um grande rival do Flamengo.
– Eu gosto muito de jogar, mas nunca fui craque! Meu irmão e meu primo jogavam muito, mas o Pintinho era brincadeira. Fazia umas tabelinhas lindas com o amigo Albino. Todos sabiam que ele daria certo no futebol.
Em entrevista recente ao Museu, Pintinho confirmou que seu amigo “Duda” não fazia sucesso com a bola nos pés, mas era extremamente estudioso. E o destino foi justo com a dupla, Pintinho virou ídolo tricolor e Bandeira formou-se em Administração pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e trabalhou por 35 anos no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. As peladas, no entanto, jamais foram deixadas de lado e até hoje joga no clube do BNDES, na Barra, onde disputou vários campeonatos acompanhados dos filhos. Também acabou com a graça de muitos pontas no condomínio Novo Leblon, na Barra da Tijuca.
– Lá tem a pelada dos craques, que o Jayme de Almeida joga, e tem a outra. Eu jogo na segunda, a das pessoas normais! Tem tempo que não vou. Quando eu sair do Flamengo vou aparecer mais!
Embora esteja sem tempo para jogar muitas peladas, Bandeira não abre mão da que ocorre anualmente, em dezembro, contra a imprensa. Até agora foram três edições na Gávea e o time do presidente está invicto. O último duelo, aliás, ficou marcado por uma goleada de 7 a 1. Apesar de não ter balançado a rede, o presidente acertou a trave em um chute de fora da área, “o lance mais lindo do jogo”.
Se a frequência nas peladas não é mais a mesma, o mesmo não se pode falar da paixão pelo Flamengo. Sócio proprietário do clube desde 1978, o presidente revelou que ia a todos os jogos do rubro-negro na infância, década de 60, até mesmo pela proximidade da sua casa. De acordo com ele, o time do Fla tinha muita raça, mas deixava a desejar na qualidade, em comparação com os outros.
– Cresci vendo o Flamengo perder para o Botafogo. Os caras tiveram duas gerações muito boas. A primeira com Garrincha, Didi, Amarildo e Zagallo e a outra com Gérson, Jairzinho e PC Caju. Isso me traumatizou muito!
A derrota mais dolorosa presenciada no estádio, sem dúvida, foi goleada de 6 a 0 aplicada pelo Botafogo em 15 de novembro de 1972, justamente no aniversário do clube da Gávea. Na época, com 19 anos de idade, Bandeira teve que escutar muitas gozações dos amigos.
Quando o presidente falava sobre essa derrota histórica, como enviados por Deus, os anjos Adílio e Júlio Cesar Uri Geller apareceram de surpresa e se juntaram à resenha. Flamenguistas doentes, os dois também sofreram muito com aquela goleada.
– Graças a Deus que a geração desses dois craques conseguiu dar o troco e acabar com aquele negócio de perder para o Botafogo. – agradeceu o presidente.
O curioso é que Adílio e Uri Geller faziam parte da categoria dente de leite, disputaram a preliminar daquele jogo e assistiram da arquibancada os seis gols alvinegros. Naquele dia, após a derrota, Adílio fez uma promessa:
– Eu tinha apostado um angu à baiana com meu amigo Sidney. Depois da goleada, eu prometi que a vingança viria quando eu me tornasse profissional!
E não deu outra! No dia 8 de novembro de 1981, quase nove anos depois, o time comandado por Zico devolvia o placar em um Maracanã lotado. Antes da vingança. no entanto, os jogadores rubro-negros sofriam no duelo contra os botafoguenses.
– Teve um jogo que a gente ganhou do Botafogo por 4 a 0, mas saímos vaiados de campo. A torcida precisava dos seis gols para se vingar! – lembrou Uri Geller.
– Eu estava no estádio! Foi lindo demais! Com aquele timaço não tinha conversa nem para Botafogo, nem para nenhum outro time! A partir daquele momento foi só alegria – comemorou Bandeira.
Os tempos mudaram, os ídolos são outros, mas a marca Flamengo está intacta e, em pesquisa recente, manteve-se como a mais valiosa entre os clubes brasileiros. O Flamengo vem promovendo uma revolução silenciosa, invisível, mas que pode ganhar corpo, sacodir a galera rubro-negra e transformar-se em mais um grito de gol. A sessão de fotos terminou e na saída do vestiário, no último minuto do segundo tempo, o presidente não deixou minha pergunta sobra o Barcelona sem resposta.
– Um Flamengo forte, saudável financeiramente, vale mais do que qualquer clube do mundo.