DIA DO RADIALISTA
Embora também seja comemorado no dia 7 de novembro, hoje é o Dia dos Radialistas! Por isso, o Museu da Pelada relembra duas matérias com grandes nomes dessa profissão! Aqueles que já transmitiram e continuam transmitindo muitas emoções para os ouvintes!
A primeira matéria é com José Carlos Araújo, o Garotinho! Você sabia que antes de se tornar radialista, o craque era um grande goleiro nas peladas?
A segunda matéria, mas não menos importante, é com outros dois grandes nomes da profissão: Luiz Penido e Edson Mauro. Recentemente, os dois protagonizaram e narraram um duelo sensacional de futebol de botão, na Rádio Globo! O resultado dessa resenha é imperdível!!
SOMBRAS DO PASSADO
por Paulo Oliveira
Encontrei umas fotos antigas que fiz em 1993, quando trabalhava no Jornal O Dia, antes do Brasil decidir com o Uruguai quem ia para a Copa do Mundo de 1994, nos Estados Unidos. Estava publicando elas no Facebook, mas, pensando melhor, nada mais justo do que ser publicado no Museu da Pelada.
Juan Alberto Schiaffino
Schiaffino marcou o primeiro dos dois gols da memorável final da Copa de 50. O ex-jogador mostra uma bandeja que comprou no Brasil, após o jogo. Lembrança que o craque uruguaio guardou até o fim da vida. Vale destacar que o ex-jogador tinha dupla nacionalidade e jogou também pela seleção italiana.
Obdulio Varela
Obdulio Varela, el último capitán. Tive o prazer de conhecer o capitão uruguaio da seleção de 50. Sua história e presença de espírito me marcaram. Cheguei a comprar o livro “Obdulio, desde el alma”, biografia escrita por Antonio Pippo.
Obdulio gostava de beber, se divertir e não ligava para dinheiro. Não pode ser comparado com Garrincha, porém. Estilos e posições diferentes em campo.
Em casa, Obdulio contava com o apoio e a fibra de sua mulher, Catalina, que não cansava de denunciar as armações feitas pelos dirigentes. Foi ela que meteu a mão na massa, junto com parentes e alguns peões, para construir a casa onde a família morava, após pagar aluguel durante muitos anos.
Fiz várias fotos de Obdulio com a família, mas só encontrei esta nos meus arquivos. Obdulio me comoveu ao contar que depois do jogo se separou dos companheiros e foi andar pela zona sul do Rio, se não me engano pelo bairro do Flamengo.
Ele relatou que ia passando pela rua e era parabenizado pelos brasileiros. Disse ainda que terminou a noite, bebendo com brasileiros num bar, triste por ter feito o povo sofrer. Para o biógrafo Pippo declarou que teria feito um gol contra se tivesse que jogar a mesma partida de novo.
Dias depois, após o Brasil derrotar o Uruguai pelas eliminatórias da Copa, tive a mesma sensação de Obdulio. Saí para comemorar com um jornalista da Folha de São Paulo, após passar minhas matérias. Os uruguaios, ao ouvirem nosso sotaque e palavras, nos paravam na rua e davam parabéns pelo desempenho da seleção brasileira e de Romário. Passei a ter um carinho muito grande pelos uruguaios.
Conheci Obdulio em 1993, na véspera dele completar 76 anos. Ele morreu pobre – trabalhava num cassino -, aos 78 anos, em 1995.
Para Obdulio, uma homenagem através dos versos de Jorge Luis Borges:
“El que acaricia un animal dormido El que justifica o quiere justificar un mal que le han hecho. El que prefiere que los otros tengan razón. Esas personas, que se ignoran, están salvando al mundo”.
Tomei conhecimento que havia um mausoléu para os jogadores uruguaios campeões de 1950, no Cemitério de Buceo. Fui até lá e registrei que nem mesmo os ex-campeões eram respeitados. Algumas placas com os nomes dos jogadores tinham sido arrancadas da campa e não havia sinal de flores ou de visitantes. Os heróis mortos estavam esquecidos
TALENTO DESPERDIÇADO
por Serginho5bocas
Josimar era fera na bola! Criado nas peladas da Cidade de Deus, levava jeito para o futebol desde pequeno. Joia da base do Botafogo, que na época revelava muitos craques sob a batuta de Neca e do técnico Joel, fez parte dos titulares da seleção brasileira de juniores, vice campeã no mundial da categoria em 1981. Na época, jogava no meio de campo com Leomir, que viria a ser do Fluminense, e tinha como companheiros, Mauro Galvão, do Inter, Julio Cesar, do Guarani, Paulo Roberto, do Grêmio, e Cacau do Goiás.
No canto direito, Josimar comemora um dos seus gols pela seleção
Como se costuma dizer, Josimar era “bola”, mas não tinha sido convocado para nenhuma partida da seleção de Telê que iria disputar a Copa de 1986 e nem fez parte do grupo que teria alguns cortados antes da competição. Mas quis o destino que Leandro pedisse dispensa e, como só teria Edson, do Corinthians, Telê decidiu chamá-lo.
Josimar estava voando, como sempre, tinha um fôlego acima da média e seria provado que a decisão fora mais do que acertada, pois os jogos no México seriam ao meio-dia e na altitude. Ou seja, Telê precisava de alguns jogadores com ótimo preparo físico, pois também estava levando alguns veteranos remanescentes de 1982. O craque chegou como reserva, mas não demorou a ganhar a vaga lá no México. Fez dois gols espetaculares e deixou uma impressão tão boa com suas atuações que foi escolhido pela imprensa como o melhor lateral daquela Copa.
Um detalhe inusitado é que durante os treinos, Josimar tinha o melhor aproveitamento nas cobranças de pênaltis entre todos os jogadores. Antes do jogo contra a França, dizem que não errou nenhuma das cobranças. O problema era que ele levava tudo na sacanagem e batia os pênaltis nos treinamentos sem tomar distância e bem devagar, matando o goleiro de raiva. Em razão dessa displicência, não foi relacionado para as cobranças que, por ironia do destino, nos fez amargar mais uma derrota daquelas de doer. Não sei se com ele ganharíamos, mas seria no mínimo diferente.
Foi tudo tão bom na vida dele que, após a Copa, o lateral foi convocado para uma destas seleções da FIFA e, num jogo amistoso, fez o gol da vitória de 1×0 com passe de Maradona.
Posteriormente, foi vendido para o Sevilla, da Espanha, mas não vingou. Voltou ao Brasil contratado pelo Botafogo, mas nunca mais seria o mesmo. Josimar ainda jogou algum tempo na seleção, mas foi perdendo espaço e as noitadas faziam ele frequentar mais as páginas policiais e de fofocas do que as de esportes.
Terminou sua carreira vagando por clubes sem expressão e sem o viço e a alegria que dava gosto de ver quando ele jogava no inicio da carreira. Josimar foi mais um daqueles talentos desperdiçados, aqueles jogadores que não conseguem cuidar do seu maior patrimônio, o seu próprio corpo, seu instrumento de trabalho.
Uma pena que o triste exemplo de Josimar não faça surtir nenhum efeito em muitos jogadores atuais que levam a vida no mesmo ritmo e, ás vezes, até mais alucinante do que o ex-lateral.
Dizem que hoje ele dá aulas para meninos que sonham ser jogador como ele foi. Espero que aprendam só a parte boa, que convenhamos, foi espetacular, mas, infelizmente, durou tão pouco.
Ademir da Guia
ENCONTRO COM O DIVINO
texto e entrevista: Marcelo Mendez | fotos: Rodrigo Pinto | vídeo: Marcelo Ferreira e Victor Limeira edição de vídeo: Daniel Planel
Não se trata apenas de futebol e jornalismo.
Ademir da Guia e Marcelo Mendez (Foto: Lucas Ivoglo)
Tampouco falamos apenas de uma entrevista que se faz, entre mortais, em que um pergunta e o outro responde, não; Nada disso. Falar com Ademir da Guia é muito mais do que uma pessoa comum, como eu, pode vir a mensurar a vocês meus iguais.
Ademir da Guia é o encontro possível com a Divindade.
É no minuto que escorre a lágrima, no átimo de segundo que a mente é fulminada pela criação de um verso, no instante mágico em que a razão é suspensa ante a criação de um poema ou de uma sinfonia, que se chega perto de Ademir da Guia.
Estar perto dele nos eleva a um plano que mortal algum merece estar. Um olimpo onde mora tudo que é lindo, tudo que é encanto, tudo que é belo e divino. É estar com Proust, com John Coltrane, com Matise, Picasso ou Goya. É virar uma esquina que outrora foi comum e nela ver o jardim das acácias de Monet. É sentir a beleza em estado puro.
Pelo tempo em que Ademir da Guia esteve campo, o mundo decerto foi melhor. O tempo dos homens foi outro e a luz dos dias foi muito mais intensa e feliz. Por gramados do mundo afora, o eterno camisa 10 do Palmeiras contemplou o futebol com odes e épicos. Pela vida assim seguiu e, agora, aqui estamos para falar disso tudo.
Caro leitor do Museu da Pelada, estou aqui para te dar os parabéns. Você terá a honra de ver Ademir da Guia.
Bem-vindo ao que há de Divino…
REI DAS EMBAIXADINHAS
vídeo e edição: Rodrigo Cabral
Não é nenhuma novidade que muitos talentos são desperdiçados e acabam fracassando na profissão de jogador! Marcelo Mendes é um deles! Habilidoso, o craque até fez testes em alguns clubes do Rio de Janeiro, chegou a ser aprovado, mas não seguiu na profissão!
Embora exerça o trabalho de gari há alguns anos, o craque jamais esqueceu a paixão pela bola! Desde pequeno, Marcelo demonstrava uma intimidade absurda com a redonda! Sendo assim, passou a treinar embaixadinhas e se tornou um fenômeno no quesito!
O craque já ficou incríveis seis horas e dois minutos batendo a bola com a cabeça, sem deixar cair, e é o recordista brasileiro de embaixadinhas com o pé, totalizando 2210 toques! Em busca de novos recordes, Marcelo passou a treinar embaixadinhas com o coco e não é que o resultado também foi impressionante? Foram 190 toques e mais um recorde para a conta dele!
A equipe do Museu da Pelada foi até a Praia de São Conrado, no Rio de Janeiro, conferir um pouco do que esse personagem da bola é capaz de fazer!
Valeu, Marcelo!!