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BARBA, CABELO E BIGODE

Nesta segunda (26), às 19h, na sala de cinema da Cinemateca do Museu de Arte Moderna, o MAM (Av. Infante Dom Henrique, 85 – Parque do Flamengo), haverá uma sessão do filme Barba, Cabelo e Bigode, do parceiro Lúcio Branco. Vale destacar que após a exibição vai ocorrer um debate com o diretor e o craque Afonsinho! Imperdível!!

 Confira um depoimento de Gilberto Gil sobre os três craques do Botafogo, Afonsinho, PC Caju e Nei Conceição:


“Afonsinho pertencia a uma geração que era muito antenada, que tinha apreço pelas várias linguagens da expressão humana, que gostava de música, de cinema, de teatro, de jornalismo. Que se interessava pela questão profissional, pela dimensão econômica, política do futebol. Pertenciam a essa geração gente como ele, Paulo Cézar Caju e Nei Conceição. Não era por acaso que eram, inclusive, muito próximos, muito amigos. Formavam um grupo. Eram percebidos pela crônica esportiva, pelo torcedor, pelos aficionados do futebol, de uma certa forma, como militantes do futebol. Distinguiam-se dos outros jogadores. A questão do passe livre, da emancipação dos jogadores do ponto de vista funcional e econômico em relação aos clubes, aos dirigentes. Eles tiveram uma influência direta nisso. Além de grandes jogadores que foram. Também, de uma certa forma, anteciparam o que veio a se estabelecer como um traço importante do jogador engajado na figura do Sócrates. Sócrates encarnou tudo isso de uma forma mais explícita, visível no caso da dimensão do Corinthians, da seleção brasileira. Nesse sentido, Afonsinho e seus colegas do Rio foram pioneiros na manifestação dessa ampla personalidade do esportista, do atleta, do cidadão. Enfim, do homem de cultura.”

VENCER OU VENCER

Hoje é aniversário de 82 anos de Francisco Horta! Considerado por muitos com um dos maiores cartolas do futebol brasileiro, assumiu a presidência do Fluminense em 1975 e permaneceu até 1977. Logo nos primeiros dias, anunciou a contratação do craque Rivellino, dando início à formação de um elenco que ficaria conhecido como “Máquina Tricolor”.

Não por acaso, o timaço foi bicampeão carioca e semifinalista do Campeonato Brasileiro, durante este período. Além disso, Horta, que também tem formação jurídica, ficou conhecido por reimplantar o troca-troca de jogadores entre os clubes do Rio de Janeiro. Até hoje é um dos nomes mais respeitados da história do Fluminense e conta com o carinho da torcida tricolor, o que fica evidente no vídeo gravado no Bar da Eva, no Grajaú!

DESCULPE-NOS, FAMÍLIA HERZOG

por Zé Roberto Padilha


Era mais um estádio, o Governador José Fragelli, o Verdão, em Cuiabá-MT, que o Flamengo inaugurava em 8 de abril de 1976. Mas dava para perceber, embora não conseguíamos entender, que havia algo no ar além daquele paraquedista que acertou o centro do campo antes da partida. Trazia junto ao corpo uma enorme bandeira do Brasil. Perfilados pro Hino Nacional, notamos (Cantarelli, Toninho, Rondineli, Jaime, Junior; Dequinha, Tadeu, Eduzinho e eu; Paulinho e Luizinho) que ao lado do Presidente Ernesto Geisel, na Tribuna de Honra, dezenas de quepes se sobressaíam no lugar daqueles cartolas de terno comuns àquelas ocasiões. E quando entramos em campo, uma faixa foi estendida sem que interpretássemos seu alcance: BRASIL, 12 ANOS DE PAZ E SEGURANÇA.

No meu aniversário de numero 64, que nos remete ao ano do Golpe, como jornalista e ex-atleta profissional de futebol, gostaria de prestar meu depoimento à Comissão de Verdade. Fomos coniventes e cúmplices sim, por desinformação, ao apresentar nossa arte em estádios de futebol, anestesiando o país enquanto seus filhos informados desapareciam nos porões do DOI-CODI.

Naquele dia, em Cuiabá, com dois gols de Luizinho, aos 5 e aos 19 do primeiro tempo, a maior nação esportiva do país estava em campo desviando a atenção da população ao lado daquela bandeira, das faixas, do autoritarismo imposto e fardado à repressão aos nossos direitos humanos, à liberdade de ir e vir, votar, assistir Calabar no teatro e Missing no Roxy. De viver e curtir uma nação livre e soberana.

Nas nossas concentrações não havia Opinião e Movimento para ler, tinha Placar e Contigo. Nossos professores não eram universitários para nos alertar, eram militares como Claudio Coutinho, Admildo Chirol, Raul Carlesso, Ismael Kurtz, C. A. Parreira entre tantos. Todos egressos da Escola de Educação Física do Exército, na Urca, que eram inteligentes, competentes, mas detentores únicos das informações dos avanços sobre a preparação física, a evolução tática mundial, que eram censuradas aos demais civis treinadores como Zagalo, Osvaldo Brandão e, principalmente, João Saldanha. A última coisa que nos passavam em suas concorridas preleções era sobre a movimentação tática no Calabouço. Sendo assim, como seríamos politizados, entenderíamos e nos envolveríamos nos protestos naquele momento difícil?

Nossa prisão foi tão triste quanto a da Dilma, nosso exílio foi tão traumatizante quanto o do Brizola, do irmão do Henfil: fomos amarrados em paus de arara de chuteira para desfilar todos os domingos a distrair o povo. Não recebemos indenização, acreditem, foi muito pior. A cada dia que uma investigação traz à tona novos depoimentos sobre a farsa do 1º de Maio no Riocentro, lembramos que era no Maracanã que distribuíamos nosso ópio. Mas ao contrário do Chico e do Gilberto Gil, não nos deixavam saber o que estava acontecendo.

Sendo assim, família Herzog, do Edson Luis, nos perdoem. Enquanto defendíamos o Flamengo, Corinthians, Grêmio e Atlético Mineiro, ajudamos a aprisionar nossa nação. Não cobrem mais dos Zico, do Falcão, do Rivelino, de qualquer ídolo da nossa época o mesmo envolvimento de cantores, compositores, do Vladimir Palmeira, do nosso Ulysses Guimarães. Em 1976, em Cuiabá e em qualquer estádio do Brasil, nós realmente não sabíamos por quem estávamos jogando. 

Desde 1982 não consigo mais torcer pelo Brasil. Em qualquer esporte. Ao trocar os vestiários pelos corredores em ebulição da Gama Filho, onde estudei Direito, sabia que meus companheiros da seleção brasileira voltariam da Espanha direto para subir aquela rampa em Brasília, onde iriam atrasar, com novas doses de ópio, nosso processo de anistia. As eleições diretas para Presidência da República. Queria os avisar, mas jogava no Americano, de Campos, e Paulo Rossi acabou fazendo isto por mim. Sei que avançamos na democracia, que estamos diminuindo a desigualdade social,  apurando a verdade da repressão, mas trauma é trauma.


Ernesto Geisel

Outro dia, meus filhos me pegaram torcendo pela Argentina, embora saiba que por lá seus jogadores foram tão coniventes quanto nós. Mas quando nossa bandeira sobe, toca-se o Hino Nacional, eu me lembro do Geisel naquela tribuna e a gente ajudando a ocultar a farsa dentro de campo. Estou procurando ajuda, quem sabe até a próxima Copa do Mundo eu consiga?

DIA DO RADIALISTA

Embora também seja comemorado no dia 7 de novembro, hoje é o Dia dos Radialistas! Por isso, o Museu da Pelada relembra duas matérias com grandes nomes dessa profissão! Aqueles que já transmitiram e continuam transmitindo muitas emoções para os ouvintes!

A primeira matéria é com José Carlos Araújo, o Garotinho! Você sabia que antes de se tornar radialista, o craque era um grande goleiro nas peladas? 

A segunda matéria, mas não menos importante, é com outros dois grandes nomes da profissão: Luiz Penido e Edson Mauro. Recentemente, os dois protagonizaram e narraram um duelo sensacional de futebol de botão, na Rádio Globo! O resultado dessa resenha é imperdível!!

SOMBRAS DO PASSADO

por Paulo Oliveira

Encontrei umas fotos antigas que fiz em 1993, quando trabalhava no Jornal O Dia, antes do Brasil decidir com o Uruguai quem ia para a Copa do Mundo de 1994, nos Estados Unidos. Estava publicando elas no Facebook, mas, pensando melhor, nada mais justo do que ser publicado no Museu da Pelada.


Juan Alberto Schiaffino

Schiaffino marcou o primeiro dos dois gols da memorável final da Copa de 50. O ex-jogador mostra uma bandeja que comprou no Brasil, após o jogo. Lembrança que o craque uruguaio guardou até o fim da vida. Vale destacar que o ex-jogador tinha dupla nacionalidade e jogou também pela seleção italiana.


Obdulio Varela

Obdulio Varela, el último capitán. Tive o prazer de conhecer o capitão uruguaio da seleção de 50. Sua história e presença de espírito me marcaram. Cheguei a comprar o livro “Obdulio, desde el alma”, biografia escrita por Antonio Pippo.

Obdulio gostava de beber, se divertir e não ligava para dinheiro. Não pode ser comparado com Garrincha, porém. Estilos e posições diferentes em campo.

Em casa, Obdulio contava com o apoio e a fibra de sua mulher, Catalina, que não cansava de denunciar as armações feitas pelos dirigentes. Foi ela que meteu a mão na massa, junto com parentes e alguns peões, para construir a casa onde a família morava, após pagar aluguel durante muitos anos.

Fiz várias fotos de Obdulio com a família, mas só encontrei esta nos meus arquivos. Obdulio me comoveu ao contar que depois do jogo se separou dos companheiros e foi andar pela zona sul do Rio, se não me engano pelo bairro do Flamengo.

Ele relatou que ia passando pela rua e era parabenizado pelos brasileiros. Disse ainda que terminou a noite, bebendo com brasileiros num bar, triste por ter feito o povo sofrer. Para o biógrafo Pippo declarou que teria feito um gol contra se tivesse que jogar a mesma partida de novo.

Dias depois, após o Brasil derrotar o Uruguai pelas eliminatórias da Copa, tive a mesma sensação de Obdulio. Saí para comemorar com um jornalista da Folha de São Paulo, após passar minhas matérias. Os uruguaios, ao ouvirem nosso sotaque e palavras, nos paravam na rua e davam parabéns pelo desempenho da seleção brasileira e de Romário. Passei a ter um carinho muito grande pelos uruguaios.

Conheci Obdulio em 1993, na véspera dele completar 76 anos. Ele morreu pobre – trabalhava num cassino -, aos 78 anos, em 1995.

Para Obdulio, uma homenagem através dos versos de Jorge Luis Borges:

“El que acaricia un animal dormido El que justifica o quiere justificar un mal que le han hecho. El que prefiere que los otros tengan razón. Esas personas, que se ignoran, están salvando al mundo”.


Tomei conhecimento que havia um mausoléu para os jogadores uruguaios campeões de 1950, no Cemitério de Buceo. Fui até lá e registrei que nem mesmo os ex-campeões eram respeitados. Algumas placas com os nomes dos jogadores tinham sido arrancadas da campa e não havia sinal de flores ou de visitantes. Os heróis mortos estavam esquecidos