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O CAER É A NOSSA XERÉM

por Zé Roberto Padilha

Domingo, na decisão da Copa do Brasil, os meninos de Xerém estiverem presentes. Mesmo vestindo outros mantos, Caio Paulista, Gerson, Pedro e Ayrton Lucas foram moldados na maior fábrica de talentos do país. Igual, só os meninos revelados na Vila Belmiro.

Em nossa cidade, a fábrica de craques é na quadra de futsal do CAER. Suas cores também são o verde, vermelho e branco. Essa foto, de 2011, é do nosso primeiro título na Copa Rio Sul de Futsal Dentes de Leite. Nos últimos 11 anos, foram 9 títulos.

E os dentes de leite foram crescendo, alcançaram o Mirim, firam infantos, juvenis e têm abastecido a equipe principal de Três Rios, líder absoluto do Ranking da TVRio Sul desde sua primeira edição.

Nada é por acaso. Uma cultura esportiva como a nossa, em todas as modalidades esportivas, deve, no Futsal, aos seus ilustres treinadores, Cid Clay e Calixto, que entregam ao professores Cássio e ao Queixinho sempre uma geração capacitada. E formada para vencer.

Três Rios tem sido a Meca do Futsal. Não por acaso, mas por trabalho, continuidade, dedicação e amor desses meninos ao esporte. Parabéns por mais um título na Copa Rio Sul de Futsal Dentes de Leite.

O MELHOR FUTEBOL DO PAÍS

por Zé Roberto Padilha

O recorde absoluto de renda no país, 26 milhões, foi alcançado no domingo, no Maracanã. Os dois maiores público em jogos entre clubes foi conquistado por clubes cariocas. Fla x Flu, de 1963, 192 mil torcedores, Flamengo x Vasco, 1976, 174 mil torcedores.

O técnico da seleção brasileira trabalha no Rio. A sede da CBF é no Rio, a Granja Comary, onde treina a seleção, também é no Estado do Rio. Melhor não subestimar o futebol carioca nessa reta final.

Anotem aí:

Vasco escapa do rebaixamento.

Botafogo será campeão brasileiro.

Fluminense vencerá a Libertadores. Inclusive, dia 4, no Maracanã, nos libertaremos do trauma LDU e levaremos para as Laranjeiras a taça que está nos faltando. Ela tem o charme das três cores que traduzem tradição.

E o Flamengo será campeão da Copa do Brasil. 3×0. Vai abrir a contagem, o São Paulo vai sair pro jogo, e Bruno Henrique vai infernizar no contra-ataques.

E o América FC vai renascer das cinzas.

Anotaram aí? Depois me cobrem! Todos vão colocar a culpa no calor. No “domo”. Mas vão perder no talento, charme e tradição.

MARINHO PERES, BECÃO DE ANTIGAMENTE

por Paulo-Roberto Andel

Quando comecei a acompanhar futebol, sabia que Marinho Peres era o cara. Um becão, como se dizia antigamente, e que nós, garotos dos anos 1970, procurávamos para reforçar nossos times de botão. Quando se falava em seu nome, a reação dos mais velhos se resumia numa palavra: respeito.

Meu pai dizia que jogava muito. Cheguei a vê-lo no Rio, atuando pelo America. Depois, pesquisando nas revistas Placar, me dei conta de sua carreira gigantesca: Portuguesa de Desportos, Santos de Pelé, Barcelona de Cruyff, Internacional de Falcão, Palmeiras. Verifiquem as escalações de época destas equipes e confirmem os timaços nos quais Marinho Peres foi titular absoluto, com talento, elegância e força.

Era o zagueiro central da Seleção Brasileira de 1974, cuja campanha opaca (sob ambiente tumultuado) não é capaz de esconder quantos craques ali atuaram. Ele mesmo fez uma grande dupla com Luis Pereira. Para a surpresa do treinador Zagallo, ambos haviam jogado juntos no começo de carreira, pelo São Bento de Sorocaba. Tempos em que dezenas de equipes fabricavam grandes craques a granel para o nosso futebol.

Curioso também o motivo que fez Marinho Peres deixar o poderoso Barcelona. Nada teve a ver com a qualidade de seu futebol, nem as atuações. É que para continuar na Espanha, Marinho precisaria servir ao exército espanhol – que não reconhecia seu certificado militar brasileiro – e parar sua carreira por um ano e meio, algo inviável. Então pegou as malas e regressou para o Brasil. Melhor para o Inter, que teve nele um zagueiraço ao lado de Elias Figueroa, considerado um dos maiores ídolos da história colorada. Juntos, conquistaram o Brasileirão de 1976.

Ficou pouco tempo no America, mas suficiente para pensarmos que o gigante rubro contava com jogadores desse quilate nos anos 1970 e 1980, brigando por títulos e atazanando a vida dos grandes coirmãos – Flamengo e Fluminense eram vítimas preferenciais do saudoso Mecão.

O sorocabano Mário Peres Ulibarri nasceu e morreu em Sorocaba, respectivamente em 19 de março de 1947 e 18 de setembro de 2023, aos 76 anos de idade. Foi um dos grandes zagueiros do futebol brasileiro, de estilo clássico. Encerrada a carreira de jogador, foi treinador com prestígio em Portugal, também campeão pelo Botafogo.

MOZER TRANSFORMOU O NÃO EM SIM E VENCEU NO FUTEBOL

por Marcos Vinicius Cabral

Flamengo e Mozer, cada um com seus motivos, entraram em campo pelo Campeonato Carioca naquele 8 de novembro de 1981 para enfrentar o Botafogo com o único sentimento: vingança.

O Flamengo, entalado pelos 6 a 0 que sofrera em 1972. Já Mozer, magoado por ter sido dispensado do alvinegro ainda garoto sob alegação do porte físico franzino de meia-esquerda que sonhava ser em 1974.

Lembranças daquela partida custaram a cicatrizar nos jogadores rubro-negros. Um deles é Adílio, que estava nas categorias de base do Flamengo, e participou da preliminar daquele jogo.

“Estava no dente de leite e fiz a preliminar jogando ao lado de Tita, e de Júlio César Uri Geller. Lembro perfeitamente que depois fomos para as cadeiras assistir ao jogo. O Flamengo perdeu de 6 a 0 e eu perdi uma aposta que havia feito com um amigo botafoguense lá da Cruzada. Mas prometi para ele que no dia em que fosse profissional ia a forra. O que foi duro durante todo esse tempo, era que toda vez que havia o clássico, a torcida do Botafogo exibia uma faixa com os dizeres: ‘Nós gostamos de Vo6!’. Mas devolvemos a goleada. Isso é o que importa”, contou ao Museu da Pelada.

Contudo, o Jogo da Vingança como era aquele Flamengo x Botafogo para rubro-negros, maioria entre os 69.051 presentes no Maracanã, foi um banho de bola do time de Mozer e companhia. Os primeiros 45 minutos terminaram 4 a 0, com gols de Nunes, aos 7′, Zico, aos 27′, Lico, aos 33′, e Adílio, aos 40′. Zico de pênalti, aos 30 ‘, e Andrade, aos 42’, completaram a goleada na segunda etapa.

Zico, camisa 10 do Flamengo e que foi 11° personagem no Vozes da Bola, série publicada desde a pandemia no Museu da Pelada, falou do que o motivava nos confrontos contra o Botafogo.

“O problema meu, em especial, era que o goleiro Manga, mexia muito com o torcedor do Flamengo e dizia que gastava a gratificação antes do jogo, pois tinha um time bom, então, ele passava no mercado antes dos jogos e fazias as compras. Na verdade, isso irritava um pouco o torcedor, e aí, talvez, tenha me deixado mais chateado. Tanto que quando comecei a jogar tinha mais gana de vencer o Botafogo do que qualquer outro time por causa dessa provocação, sempre que lembrava das palavras do Manga. O Flamengo era o único time que tinha menos vitória do que o Botafogo, depois a gente equilibrou, e botamos dez vitórias à frente”, recordou o Galinho de Quintino.

Mas enfrentar o Botafogo e poder vencê-lo era, pelo menos para Mozer, oportunidade única de dizer para o Glorioso: “Ei, vocês erraram comigo!”. E esse mesmo tempo se incumbiu de provar que o time que mais cedeu jogadores à Seleção Brasileira nas copas em toda história do futebol brasileiro estava enganado quando não percebeu as qualidades daquele garoto nascido em um conjunto residencial de Bangu, Zona Oeste do Rio, registrado José Carlos Nepomuceno Mozer ao nascer no dia 19 de setembro de 1960.

O mundo deu muitas voltas. Mozer, que tentou começar a carreira no Botafogo, jogou antes futebol de salão (hoje futsal) atuando pelo Cassino Bangu e depois pelo Pavunense. Já nos gramados, o início veio no dente de leite do Campo Grande, chegando mais tarde à escolinha do Botafogo, então comandada por Manoel dos Santos Victorino, o Neca (1923-1996), famoso revelador de talentos do futebol carioca da época.

Com o “NÃO” do Botafogo, Mozer pediu ao pai que o levasse à peneira do Flamengo no Cocotá, na Ilha do Governador. Foi então que, ao ser aprovado, precisou ser submetido ao mesmo tratamento de Zico para ganhar corpo, acelerar o crescimento, e deixar de ser o menino esmirrado.

Saltou do 1,53 m para 1,86 m e, ao ganhar 33 centímetros, perdeu velocidade, e mudou de posição. De meia, passou à centroavante, volante e, por fim, quarto-zagueiro por orientação do paraguaio Modesto Bria (1922-1996), técnico da base do Flamengo.

Trabalhado pelo departamento médico do Flamengo, Mozer, um autêntico predestinado pela bola, acabou recompensado com quatro qualidades que marcaram a carreira enquanto foi jogador de futebol: luta, dedicação, perseverança, e talento.

Antes da consagração como quarto zagueiro que chamava atenção com a raça de Rondinelli, a técnica de Domingos da Guia (1912-2000), e a saída de bola do argentino Reyes (1941-1976), Mozer, que nesta terça-feira, 19 de setembro, completa 63 anos, transformou o desprezo do Botafogo em 1974 e o boicote da Seleção Brasileira em 1994 no combustível para seguir.

Ídolo de clubes como Benfica/POR e Olympique de Marseille/FRA, as atuações de do ex-camisa 4 do Flamengo renderam-lhe o apelido de Muralha. Nada mal para quem chegou a ser considerado franzino.

Mozer não ganhou nenhum título relevante com a camisa da Seleção Brasileira. Nem foi preciso. Figura entre os gigantes do Clube de Regatas do Flamengo de todos os tempos com títulos, atuações memoráveis e mantém lugar reservado no coração de todo rubro-negro.

CHEGUEI!

por Elso Venâncio, o repórter Elso

Eu e Peris Ribeiro – biógrafo do Didi – vamos lançar ‘Mensagens da Bola’, com 16 colunas minhas publicadas aqui no Museu da Pelada e outras 16 do Peris. Antecipo a primeira, sobre a lenda viva do Rádio, o ‘Super Garotinho’ José Carlos Araújo

O ‘Garotinho’ José Carlos Araújo – “Apite Comigo, Galera!” – é o grande nome do Rádio, veículo presente há mais de 100 anos na vida dos brasileiros. O locutor rubro-negro Celso Garcia, conhecido como ‘Garoto do Placar’, foi quem levou Zico para o Flamengo e Garotinho para o Rádio. Em janeiro de 1984, Garotinho me transferiu da Rádio Nacional de Volta Redonda para a do Rio de Janeiro. Um ano depois, eu e Washington Rodrigues já estávamos ao lado dele, na Rádio Globo.

No final dos anos 70, Garotinho deixou a Rádio Globo para liderar a equipe da Rádio Nacional. Levou consigo nomes como Washington Rodrigues, Luiz Mendes, Deni Menezes e Eraldo Leite, dentre outros. Incomodou a concorrente, até se tornar líder de audiência. A poderosa Globo se rendeu, oferecendo um contrato irrecusável. Dessa forma, ele retornou à Rua do Russel em dezembro de 1984.

Profissional ao extremo, único locutor que se concentra, dormindo cedo na véspera dos jogos, Garotinho sempre chega aos estádios, pelo menos, três horas antes de a bola rolar. Líder e profundo conhecedor do rádio, sabe escalar o time, colocando cada profissional no lugar no qual mais pode render.

Em cada canto do Brasil tem um ‘Garotinho’ a imitá-lo. E que, por ser assim, acaba sendo chamado também de ‘Garotinho’. A começar por São Paulo, com Osmar Santos, passando até por políticos, como o ex-Governador do Rio Anthony Garotinho, que registrou o apelido, inclusive, incorporando-o ao próprio nome. Em Campos dos Goytacazes, minha terra natal, Anthony Garotinho narrava futebol e corridas de cavalo. Usava alguns bordões famosos, como “Sou eu!”, “Voltei”, “Vai mais, vai mais, Garotinho”, “Brasileiro não vive sem Rádio, seu melhor companheiro”.

Nos anos 90, fui fazer um jogo do Flamengo em Cuiabá. A Rádio Globo colocava os repórteres nos mesmos voos e hotéis da delegação rubro-negra. Naquele domingo, iriam Luiz Carlos Silva, como locutor, além do comentarista Afonso Soares. Por problemas técnicos, o avião não decolou. Os jogos não passavam na TV e precisei procurar um narrador. Queria saber quem era o melhor da cidade. Fui até a casa dele, me apresentei e fui recebido com um largo sorriso:

– Eu sou o Garotinho!

– Mas, como?

– Sou o Garotinho daqui, e também o mais ouvido da região! – respondeu, flexionando a voz e lembrando o verdadeiro ‘Garotinho’, José Carlos Araújo.

Considero o gol marcado por Petkovic, aquele de falta, contra o Vasco, no terceiro tricampeonato estadual do Flamengo, pela emoção, inspiração e vibração, o melhor dentre os milhares até hoje narrados, ao longo de décadas, por Garotinho.

Em São Paulo, inesquecível é ouvir Osmar Santos naquele mítico gol do Basílio – claro, falo daquele Corinthians X Ponte Preta que quebrou o incrível tabu corintiano de 23 anos sem títulos no Campeonato Paulista.

O Rádio foi eleito o veículo de comunicação de maior credibilidade. E continua forte, se reinventa, usando a televisão e a internet como aliados. José Carlos Araújo também, tanto que faz sucesso há mais de 50 anos. Narra futebol hoje na Rádio Tupi e, aos 83 anos, lançou o Podcast ‘Cheguei’, já vitorioso nas Redes Sociais.

Vida Longa ao Garotinho!