CORRA E OLHE O CÉU
por Idel Halfen
O processo de criação das camisas dos clubes de futebol passa originalmente por algum fator de inspiração. Na maioria das vezes, algo associado às conquistas e datas comemorativas, inclusive de alguns campeonatos.
A adaptação aos dias atuais de algum uniforme antigo, frases marcantes bordadas na parte de trás do colarinho e/ou cores alternativas que guardem algum tipo de relação com o clube, costumam ser as soluções de conceituação mais frequentes.
Difícil sair desse universo, tanto pelo risco de as camisas não caírem no gosto do torcedor, quanto pela complexidade de buscar algo, para usar um termo “modinha”, disruptivo.
Sobre as críticas quanto à estética, tenho a percepção de que elas sempre irão existir – nunca vi unanimidade -, porém, assevero que a demanda desse tipo de produto se dá muito mais em função do momento do time que propriamente pela estética, afinal, o torcedor não compra a camisa do seu clube para combinar com a calça ou qualquer outra peça de vestuário.
Já a busca pela inovação, mais um termo atual, requer muito conhecimento da história do clube, e quando falo de história não me refiro apenas à esportiva. É fundamental pesquisar e conhecer as diversas interações da instituição dentro do cenário socioeconômico do país e do mundo, sua relação com a cultura, elencar os torcedores que, de alguma forma, são referências em suas atividades.
Não é tarefa fácil, aliás, nada é fácil para o Fluminense.
Mas lá vem você de novo encaixando o Flu em tudo! Certamente alguém pensou nisso ao ler a menção ao Fluminense.
Só que nesse caso há uma boa justificativa para a citação, visto o clube ter saído do lugar comum da busca pelas inspirações trazendo como mote para sua terceira camisa um de seus maiores torcedores: Cartola, fundador da Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira e, dessa forma, utilizando suas cores.
Além da homenagem ao ícone tricolor, a camisa consegue quebrar paradigmas ao juntar um clube, visto como elitizado, com a escola de samba mais popular do Brasil. Outro fato digno de destaque é a materialização da união entre música e futebol, a qual pode ser constantemente notada através dos cânticos entoados pelas torcidas nos estádios, porém, poucas vezes consolidada e oficializada como fez o Fluminense com Cartola.
Se isso tudo não bastasse, há ainda a menção à música “Corra e olhe o céu”, do próprio Cartola que, num ato visionário, tem na sua letra uma menção à nova camisa do Fluminense:
Linda
No que se apresenta
O triste se ausenta
Fez-se a alegria
ERA TITE
por Elso Venâncio, o repórter Elso
A ‘Era Tite’ no Flamengo começou. Após o técnico ter esperado propostas de outros clubes e seleções. Atualmente, o profissional do futebol só permanece no país, ou volta, quando não tem mercado lá fora.
Tite planejava um ‘ano sabático’ depois das duas decepções seguidas em Copas do Mundo. Apenas um comandante brasileiro, até então, havia perdido um Mundial e, mesmo assim, comandou a seleção no seguinte. Falo do mestre Telê Santana, que encantou o mundo com o time de 1982, na Espanha.
Na verdade, Telê, ao contrário de Tite, não prosseguiu no cargo até 1986, quando voltou a dirigir a seleção no México. Ele deixou o comando, após aquela derrota fatídica para a Itália. No entanto, houve troca de presidentes na CBF. Os treinadores Carlos Alberto Parreira, Edu Coimbra e Evaristo de Macedo não foram aprovados pelo público, devido a maus resultados. Nesse ínterim, o vascaíno Medrado Dias, mesmo apoiado por Giulite Coutinho, foi derrotado pela dupla Otávio Pinto Guimarães e Nabi Abi Chedid. Assim, Telê retornou. Para alegria dos torcedores.
Só que Tite não é Telê! Ainda assim, receberá o mesmo salário que a CBF lhe pagava. Sua comissão técnica custará 4,5 milhões de euros por ano aos cofres rubro-negros, algo em torno de 1,8 milhão por mês. Valor que supera o do português Abel Ferreira, que comanda o Palmeiras.
A escola gaúcha, adepta de uma boa retranca, passa longe do futebol-arte que nos consagrou. Mas, nos clubes por onde passou, Tite, verdade seja dita, tem um currículo vitorioso. Conquistou até mesmo Libertadores e Mundial de Clubes, pelo Corinthians.
Os dois principais personagens de um clube de futebol são o presidente e o treinador. Se o time vai mal a crise estoura nas costas dos dois. Difícil é entender os poderes que um técnico tem hoje. Contratado, leva um exército para auxiliá-lo. Seis, sete, quem sabe oito profissionais que falam o que ele quer ouvir, mas quase nunca o que ele precisa escutar.
O artilheiro Tiquinho, melhor jogador do Campeonato Brasileiro, foi para o banco? O dirigente precisa ter conhecimento e autoridade para saber a escalação e o planejamento tático. Não à toa o técnico alvinegro que o pôs na reserva foi demitido assim que acabou o jogo.
O Flamengo engorda o seu orçamento bilionário após um site de apostas quase dobrar o valor para aparecer no omoplata dos atletas. De R$ 48 milhões saltou para R$ 90 milhões em dois anos, com um aporte de R$ 20 milhões só neste mês. Se o BRB – o Banco de Brasília – deixar ao fim do ano de ser o patrocinador máster, certamente o site tomará seu lugar, pagando nada menos que R$ 170 milhões.
Ano que vem a Gávea respirará o tenso e sempre efervescente clima eleitoral.
“A política é como nuvem. Você olha, ela está de um jeito. Olha de novo e ela já mudou” – afirmava o político mineiro Magalhães Pinto.
Rodolfo Landim trabalha para fazer seu sucessor. Para isso, o desempenho do time é importante. Eduardo Bandeira de Mello dá sinais de que pode tentar voltar à presidência do clube mais querido do país.
PAULO CÉSAR MAGALHÃES, O REMAKE DE EVERALDO
por Reinaldo Sá
Impossível não compará-lo ao saudoso Everaldo, tricampeão mundial pela seleção brasileira e fonte inspiradora das novas gerações que viriam a envergar, com maestria, a camisa tricolor dos pampas.
Vindo das categorias de base do Grêmio, encantou o lendário Carlos Froner, que fez questão de indicá-lo ao então treinador Valdir Espinosa. E uma sugestão de Froner ninguém desprezava.
Paulo César Magalhaes foi profissionalizado durante a disputa do Gauchão, de 1983, que serviu de preparativo para o Mundial Interclubes, disputado em Tóquio. E o lateral nunca se intimidou com as comparações com o ídolo Everaldo.
Não dava espaço aos pontas, marcava duro e ainda era um elemento surpresa no ataque. Tinha fôlego e voltava rápido para ajudar o meio-campo. Por questões técnicas e táticas ganhou a titularidade de Casemiro.
Na verdade, era preciso correr muito para cobrir os espaços deixados pelos talentosos Mario Sérgio e seu xará Paulo César Caju. Tudo bem que contava com a preciosa ajuda do volante China. E PC Magalhães passou com louvor no teste contra os alemães.
Lembrou-se de seus tempos de várzea, do campeão mundial Everaldo e, acima de tudo, da indicação de Froner, que apostou em seu talento.
No fim do Jogo, braços erguidos ao céu, emocionou-se ao constatar que a partir daquele momento passaria a integrar a galeria dos imortais do tricolor.
O DESTRAVADOR
por Zé Roberto Padilha
Sabe quando dá vontade de desligar a televisão? Quando um zagueiro toca para o outro, este toca no Pulgar, que domina e devolve para o outro zagueiro que… ficam a maior parte do tempo trocando irritantes bolas lá atrás.
Jogos travados, descontínuos, parecem uma carroça que caminha pela lama tentando chegar ao gol adversário.
Felizmente o Botafogo tem um destravador. Ele se chama Tchê Tchê.
Não fui um grande driblador. Porém, quando recebia uma bola dos zagueiros, não a dominava. Deixava ela correr e aproveitava sua velocidade para fazer o time girar. Tocava, tabelava e dava um tapa na bola para sair da marcação.
Quando você domina a bola, mesmo desmarcado, entra a inércia. Com ela parada, você e o adversário estão nas mesmas condições. Já pegando carona na velocidade, menor que ela seja, você tem a arrancada a seu favor.
Tchê Tchê tem feito isto no Botafogo. Ele não domina a bola, deixa ela fluir e faz o seu time girar. Escalar o destravador na lateral vai tirar do Botafogo uma movimentação preciosa na forma do seu time jogar.
Querem os nomes de outros destravadores? Dirceuzinho, Zinho, Conca, Sérgio Manoel, Paulo Isidoro…
ALGUÉM DUVIDOU QUE NÃO DARIA CERTO?
por Zé Roberto Padilha
Comandar a seleção brasileira é quase presidir a nossa república. Cabe a ele uma grande responsabilidade para que o população, uma vez com a autoestima lá pra cima, vá exercer o seu ofício feliz. Vai produzir mais e elevar o nosso PIB.
Fernando Diniz, todos sabiam, pode até ser interino. Só não pode continuar a dirigir um clube de futebol. O fato de continuar a treinar o Fluminense o impede de viajar é conferir de perto o desempenho de cada um dos convocados.
98% deles jogam fora do país e não é possível acompanhar seus desempenhos pela televisão. Para chamar o Rodrygo, Vinicius Jr., ele precisa estar em Madrid e conversar com a comissão técnica do Real Madrid.
Outra coisa: fica pouco à vontade de convocar um goleiro, como o Fábio, porque ele joga no seu time. E, receoso da reação da imprensa esportiva, acaba não fazendo justiça ao melhor goleiro em atividade no país.
O treinador da seleção brasileira precisa se dedicar integralmente aquela que representa a maior paixão do povo brasileiro. Empatar com a Venezuela, com todo o respeito, seria como os quenianos perdessem uma corrida de São Silvestre para um argentino.
Falo antes do jogo contra o Uruguai. Depois que começarmos a fazer conta para nos classificarmos para a próxima Copa, vocês me cobram.