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QUE FALTA UM PONTINHA FAZ

por Zé Roberto Padilha

Jô Soares já pedia há alguns anos: “Bota ponta, Telê”. Infelizmente, nossos hábeis pontinhas, como Sávio, foram substituídos pelos meias, que fechavam o meio, porque os laterais se lançaram ao ataque.

Viiraram alas. Aqueles que fingem que alcançam a linha de fundo, enquanto os meias fingem que cobrem suas subidas. Sávio, Júlio César, Lula e Joãozinho, eméritos dribladores, nunca mais.

Assistindo, como vocês, essa irritante troca de passes inúteis do Flamengo frente ao Goiás, que lhe dá uma maior posse de bola sem oferecer qualquer perigo, voltamos no tempo em busca de quem sabia driblar.

Quando Sávio driblava um adversário, abria-se um espaço que lhe permitia evoluir. E quando um outro marcador saía na cobertura, ele deixava um Romário livre. O meia se apresenta para a tabela. E o gol não se afastava. Se aproximava.

Nada no futebol brasileiro foi pior que o primeiro tempo de Goiás x Flamengo. Sai a arte, entra a retranca em busca de uma pobre bola. Quem te viu também, hein Goiás!

Tomara que eles não voltem para o segundo tempo. A não ser que o Sávio, o Araújo, hábil pontinha do Goiás, saiam do Baú do Esporte, vistam a onze e se apresentem no Canal Premiere.

Deus nos livre de partidas de futebol ruins assim.

SAUDADES DO CUNHA

por Elso Venâncio, o repórter Elso

Kleber Leite, José Cunha e Elso Venancio

José Cunha foi um dos grandes narradores do Rádio e da Televisão. Criou o “Tá lááá!” na TV, no momento do gol.

“Pra que falar gol, se todo mundo está vendo?”

Geraldo José de Almeida marcou uma geração ao narrar, em 1970, pela Rede Globo de Televisão, o primeiro Mundial transmitido ao vivo e em cores. O locutor paulista era outro não gritava gol:

“Quê que é isso, minha gente!” – irradiava diante das jogadas geniais de Pelé, Tostão e Clodoaldo.

“Que bola bola!” – propalava, ao ver os lançamentos de Gerson, as fintas de Rivellino, os passes certeiros de Carlos Alberto Torres.

“Olha lá, Olha lá, Olha lá… no placarrr!”, vibrava, na hora do gol.

Cunha nasceu em Ponte Nova, Minas Gerais, terra de Reinaldo, maior ídolo do Atlético. Com menos de 20 anos de idade, tornou-se o principal nome da Rádio Itatiaia, emissora pela qual narrou o tri mundial da seleção na Copa do México. Em São Paulo, passou também pela Bandeirantes e pela Capital até chegar ao Rio, onde trabalhou na Globo, Tupi, Nacional, Tamoio e Carioca, de onde se transferiu para a televisão.

Tinha profunda gratidão por Silvio Santos, que o contratou em 1981 para apresentar o popular, polêmico e famoso ‘O Povo na TV’, dirigido por Wilton Franco. No ano seguinte, a TVS virou SBT e a atração entrou em rede nacional.

Querido pelos colegas, que o cercavam nas viagens para ouvir suas histórias e as famosas piadas que descontraíam qualquer ambiente, era impagável. A bola chegava ao lateral Perivaldo, do Botafogo, que ganhou dele um apelido:

“Peri, da Pituba.”

Bastava Perivaldo cruzar fora, longe do gol, para ele soltar o verbo:

“Ô, Perivaldo… vá roubar, pra ser preso!”

Suas colocações eram repetidas nas ruas, pelos torcedores.

Assim como Galvão Bueno, Luciano do Valle foi um dos maiores da TV por 40 anos. Sabia modular sua voz. Hoje, os narradores e narradoras, que quase sempre vêm do rádio esportivo, exageram ao elevar o tom. Não priorizam a identificação do jogador que está com a bola; querem opinar, gesticular e anunciar cansativas estatísticas.

Com o VAR, então, surgiu agora o ‘comentarista do VAR’. Quem analisa a partida quer falar sobre arbitragem e imita o ponta do rádio, aquele repórter que fica atrás do gol comentando cruzamentos e conclusões de jogadas de ataque.

João Saldanha, na Rádio Globo, em um jogo entre Fluminense e Portuguesa, na Ilha do Governador, teceu o seguinte comentário:

“Esse baiano que está estreando é jogador de seleção.”

Falou isso com quinze minutos de jogo, ao ver pela primeira vez o lateral Toninho em campo.

Na TV, José Cunha não se valia da mesma rapidez das transmissões pelo rádio:

“Adílio… recebe Andrade…. Leandro cruza, Zico limpa! Tá láááá!!!”

Durante bom tempo, apenas a TVE, hoje TV Brasil, tinha autorização para passar o videotape após os jogos de quarta-feira e também aos domingos. Torcedores deixavam de ouvir pelo rádio, para sentir a sensação do jogo sem saber o resultado, ou então para ouvir, ver ou rever a partida. A transmissão cabia a José Cunha. Os comentários, à dupla Aquiles Chirol e Sérgio Noronha.

Saudades do querido José Cunha, que faleceu em 27 de agosto, vítima de enfarte, aos 82 anos.

Como esquecer “TVE, canal 2 do Rio de Janeiro…”? “Tá lááá!!!”

“UMA COISA JOGADA COM MÚSICA” – CAPÍTULO 28

por Eduardo Lamas Neiva

Após a festa santista no bar Além da Imaginação, com Francisco Egydio sendo ovacionado e muito elogiado por seu vozeirão, Idiota da Objetividade não quis deixar a conversa sobre Almir Pernambuquinho sair de pauta.

Idiota da Objetividade: – Almir Morais de Albuquerque, o Almir Pernambuquinho, chegou a ser chamado de Pelé Branco, mas acabou sendo conhecido mais pelas confusões em campo do que pelo seu grande futebol.

Garçom: – Tinha era muita raça, viu! Lembro de um gol dele no Flamengo contra o Bangu também na década de 60, em que ele meteu a cara na lama pra empurrar a bola com a cabeça. A bola passou só isso aqui da linha. Tinha muita raça.

Almir: – Foi em 66 mesmo. O Ubirajara defendeu a primeira cabeçada, mas no rebote meti a cabeça na bola no chão mesmo.

Todos riem e aplaudem, inclusive Ubirajara.

Garçom: – Olha o lance aí no telão!

Todos vibram e aplaudem como se estivessem no Maracanã naquele momento do jogo.

Idiota da Objetividade: – Almir ganhou muitos títulos importantes nos vários clubes em que jogou. No Vasco foi campeão em 58 do Rio-São Paulo e do Carioca; no Santos, a Libertadores e o Mundial de 63, além das Copas Brasil e o Rio-São Paulo de 63 e 64, mais o Paulista de 64, e no Flamengo foi campeão carioca de 65.

João Sem Medo: – No dia da sua morte eu estava longe, na Bahia, e até esqueci do jogo do Flamengo contra o Bahia que ia comentar. Levei um susto com a notícia. Não sabia dos detalhes, mas uma coisa logo garanti: o Pernambuquinho estava defendendo o lado mais fraco. E da mesma maneira como sempre fez, de peito aberto, sem medir consequências, porque estava certo de ter razão. Catimbeiro, valentão, corajoso, boa gente e bom amigo. Enfim, não sei, mas parece que era assim mesmo que ele queria morrer.

Almir: – Melhor assim do que covardemente, né, seu João?

João Sem Medo: – Muito melhor!

O estilo de Almir fez Sobrenatural de Almeida se recordar de outro polêmico e guerreiro atacante, este mais antigo que Almir.

Sobrenatural de Almeida: – Outro grande jogador, também muito temperamental, foi o Heleno de Freitas.

João Sem Medo: – Meu grande amigo. Jogamos juntos na praia e no juvenil do Botafogo.

Sobrenatural de Almeida: – Heleno é até hoje um dos grandes ídolos do Botafogo, mas só foi campeão no Vasco, em 49.

Ceguinho Torcedor: – O ataque daquele time era fantástico: Nestor, Ademir Menezes, Heleno, Maneca e Chico.

Idiota da Objetividade: – O Expresso da Vitória, como era chamado um dos maiores times da História do Vasco.

Garçom: – Heleno ficou de aparecer aqui no bar, vamos ver se aparece. Então, pra lembrarmos aquela fase gloriosa do Vasco, vamos convidar aqui no palco no Além da Imaginação, Aracy de Almeida.

Os aplausos logo se sucedem e Aracy, que nem de longe lembrava aquela mal-humorada jurada dos programas de Silvio Santos, sobe ao palco.

Aracy de Almeida: – Muito obrigada, gente. Com muita honra homenageio meu clube do coração, o grande Vasco da Gama, que Heleno defendeu tão bem, em 1949. “Entra Vasco” gravei três anos antes. Não confundir esta marchinha com outra música de mesmo nome que a Aurora Miranda, irmã da Carmen, que ali está, gravou ainda na década de 30, que foi composta por Alberto Ribeiro e Antonio Almeida. Vamos lá, então, com “Entra Vasco”, de Ari Monteiro e Arnaldo Paes.

Aplaudida, Aracy deixa o palco e vai pra sua mesa.

Idiota da Objetividade: – O Expresso da Vitória foi campeão carioca em 1945, 47, 49, 50 e 52, e conquistou o Campeonato Sul-Americano de Clubes, no Chile, em 48. Com oito jogadores convocados por Flávio Costa, o Vasco foi a base da seleção brasileira vice-campeã mundial em 50.

Garçom: – Ih, a torcida do Vasco não gosta muito desta história de vice, não.

Sobrenatural de Almeida (voltando do banheiro, meio distraído): – Olha, alguns daqueles jogos tiveram a minha participação efetiva.

Garçom: – Nos vices do Vasco?

Sobrenatural de Almeida: – Também, também. Mas falava do Heleno. Eu gostava de provocá-lo também pra ele animar um pouco mais alguns joguinhos. Era só chamá-lo de Gilda que ele ficava louco da vida. (ri tenebrosamente)

Idiota da Objetividade: – O polêmico Heleno de Freitas fez parte da equipe vascaína campeã carioca de 49. É o único título que conquistou na carreira. Mas Heleno ficou consagrado como ídolo botafoguense. Ele fez um total de 204 gols em 233 jogos com a camisa do Botafogo. Ainda atuou pelo Boca Juniors, da Argentina; América do Rio; Atlético Barranquilla, da Colômbia, e Santos, onde ficou pouquíssimo tempo. Sempre criou muita confusão em campo, adorava a vida boêmia e, principalmente, as mulheres.

Ceguinho Torcedor: – Dizem que por causa de uma sífilis mal curada ficou louco e acabou internado num sanatório, em Barbacena, cidade do seu estado natal, Minas, já que ele era de São João de Nepomuceno.

João Sem Medo: – Esta história prefiro esquecer. Guardo comigo as boas recordações do meu amigo Heleno.

Sobrenatural de Almeida: – Heleno de Freitas era um galã e ganhou o apelido de Gilda, o que o deixava revoltado.hahaha

Ceguinho Torcedor: – Gilda era a personagem encarnada pela belíssima atriz Rita Hayworth no cinema.

Heleno aparece repentinamente no Bar Além da Imaginação e todos ficam em suspense. Mas ele, com trajes elegantes da década de 40, amacia a pelota e faz a criança rolar no gramado.

Heleno: – Este apelido não quer dizer mais nada pra mim. Ou melhor, até ajuda em alguns casos. O importante é que o lendário Heleno de Freitas ficou guardado na memória dos amantes do bom e valente futebol. Tanto que recebo ainda hoje muitas homenagens.

João Sem Medo se levanta e vai abraçar, emocionado, Heleno de Freitas, que também muito comovido, retribui o carinho do amigo. Todos aplaudem de pé.

Garçom: – Diante desta cena maravilhosa, só há uma coisa a fazer: homenageá-lo, grande Heleno de Freitas. Vamos ver no telão imagens e músicas do espetáculo “Heleno, um homem chamado Gilda”, de Miguel Paiva e Zé Rodrix, que se encontra ali ao fundo, podem aplaudi-lo também. Com direção de Marcelo Saback, o espetáculo foi apresentado em 1996 pela Orquestra Brasileira de Sapateado. O ator Raul Gazolla interpretou Heleno. Vamos ver e ouvir.

Todos fazem silêncio e assistem com atenção.

O público aplaude muito e Heleno, João e Ceguinho comentam sobre o depoimento de Armando Nogueira e perguntam a Zé Ary pelo grande jornalista botafoguense.

Garçom: – “Seu” Armando ficou de vir. Uma hora aparece por aí com muita história boa pra contar também.

Fim do capítulo 28

O MAIOR JOGO DE FUTEBOL DA HISTÓRIA

por Luis Filipe Chateaubriand

A data era 20 de Dezembro de 2000.

Pela terceira, e decisiva, partida da Copa Mercosul, jogaram Palmeiras x Vasco da Gama, no Parque Antártica, em São Paulo.

O clube que ganhasse o jogo seria o campeão.

Em caso de empate, haveria prorrogação e, caso necessário, pênaltis.

O Palmeiras começou o jogo avassalador!

Aos 36 minutos do primeiro tempo, o lateral direito Arce, de pênalti, fez o primeiro gol.

Palmeiras 1 x 0 Vasco da Gama.

Um minuto depois, aos 37 minutos do primeiro tempo, o volante Magrão fez o segundo gol.

Palmeiras 2 x 0 Vasco da Gama.

E, aos 45 minutos do primeiro tempo, o centroavante Tuta fez o terceiro gol.

Palmeiras 3 x 0 Vasco da Gama.

Terminado o primeiro tempo, havia a certeza de que o Palmeiras seria o campeão da Copa Mercosul de 2000.

Só que não foi bem isso que aconteceu…

O Vasco da Gama veio para o segundo tempo sedento de glória!

Aos 14 minutos do segundo tempo, o centroavante Romário, de pênalti, descontou para o “Gigante da Colina”.

Palmeiras 3 x 1 Vasco da Gama.

Aos 23 minutos do segundo tempo, novamente o centroavante Romário, novamente de pênalti, fez mais um gol para o clube da cruz de malta.

Palmeiras 3 x 2 Vasco da Gama.

A reação vascaína parecia ter “arrefecido” quando o seu zagueiro Júnior Baiano foi expulso.

Mas nada conseguia conter o ímpeto vascaíno!

Aos 40 minutos do segundo tempo, o meia Juninho Paulista empatou o jogo para o “Machão da Gama”.

Palmeiras 3 x 3 Vasco da Gama.

E, aos 48 minutos do segundo tempo, ao “apagar das luzes”, o centroavante Romário novamente enfiou a bola nas redes, em lance de extremo oportunismo.

Palmeiras 3 x 4 Vasco da Gama.

O que parecia impossível, aconteceu!

A taça foi para São Januário, o estádio vascaíno.

E o mundo presenciou, boquiaberto, que “o Vasco é o time da virada, o Vasco é o time do amor”, na vitória mais épica de um clube de futebol em todos os tempos! 

PAULO ROBERTO, O LATERAL DO CRUZAMENTO CERTO

por Reinaldo Sá

Antes de tudo um marcador implacável, raiz, viril, mas com uma saída de bola do campo de defesa para o ataque digna de um jogador de seleção brasileira. Sempre foi um elemento surpresa e suas ultrapassagens e velocidade tornaram-se sua marca registrada! Fez duplas inesquecíveis pela direita, com Tarciso e Renato Portaluppi, o maior ídolo da história do Grêmio. O treinador Valdir Espinosa sabia que aquele lado do campo era mortífero, o caminho das vitórias E o curioso é que Renato Gaúcho quando técnico do Vasco da Gama levou Valdir Espinosa como seu auxiliar. Lembro muito bem que um dos maiores admiradores do futebol de Paulo Roberto era o jornalista esportivo Deni Menezes, que na época trabalhava na Rádio Nacional integrando a equipe de José Carlos Araújo. Sempre que se referia a ele o tratava como “o lateral do cruzamento certo”. E pegou! Mas a precisão de Paulo Roberto era realmente impressionante! Quando chegava ao bico da pequena área a chance de gol era gigante. Mas essa qualidade não era por acaso. Valdir Espinosa contava que ele treinava essa jogada com exaustão e também estava sempre aprimorando o seu condicionamento físico. Hoje os laterais quase não chegam à linha de fundo, mas até o final da década de 90 isso era muito comum. Difícil saber se Paulo Roberto era lateral ou ponta-direita. Basta assistirem os jogos que levaram o Grêmio ao título mundial. Diante do Peñarol, na Libertadores, e do alemão Hamburgo, Paulo Roberto foi um dos mosqueteiros mais importantes da conquista gremista. Lá se vão 40 anos e não esquecemos do futebol de Paulo Roberto, o lateral que sempre fez a alegria dos centroavantes. Deni Menezes tinha razão por chamá-lo de “cruzamento certo”, um lateral sob medida para Valdir Espinosa, um lateral que faz parte para sempre dessa constelação tricolor!