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ERA TITE

por Elso Venâncio, o repórter Elso

A ‘Era Tite’ no Flamengo começou. Após o técnico ter esperado propostas de outros clubes e seleções. Atualmente, o profissional do futebol só permanece no país, ou volta, quando não tem mercado lá fora.

Tite planejava um ‘ano sabático’ depois das duas decepções seguidas em Copas do Mundo. Apenas um comandante brasileiro, até então, havia perdido um Mundial e, mesmo assim, comandou a seleção no seguinte. Falo do mestre Telê Santana, que encantou o mundo com o time de 1982, na Espanha.

Na verdade, Telê, ao contrário de Tite, não prosseguiu no cargo até 1986, quando voltou a dirigir a seleção no México. Ele deixou o comando, após aquela derrota fatídica para a Itália. No entanto, houve troca de presidentes na CBF. Os treinadores Carlos Alberto Parreira, Edu Coimbra e Evaristo de Macedo não foram aprovados pelo público, devido a maus resultados. Nesse ínterim, o vascaíno Medrado Dias, mesmo apoiado por Giulite Coutinho, foi derrotado pela dupla Otávio Pinto Guimarães e Nabi Abi Chedid. Assim, Telê retornou. Para alegria dos torcedores.

Só que Tite não é Telê! Ainda assim, receberá o mesmo salário que a CBF lhe pagava. Sua comissão técnica custará 4,5 milhões de euros por ano aos cofres rubro-negros, algo em torno de 1,8 milhão por mês. Valor que supera o do português Abel Ferreira, que comanda o Palmeiras.

A escola gaúcha, adepta de uma boa retranca, passa longe do futebol-arte que nos consagrou. Mas, nos clubes por onde passou, Tite, verdade seja dita, tem um currículo vitorioso. Conquistou até mesmo Libertadores e Mundial de Clubes, pelo Corinthians.

Os dois principais personagens de um clube de futebol são o presidente e o treinador. Se o time vai mal a crise estoura nas costas dos dois. Difícil é entender os poderes que um técnico tem hoje. Contratado, leva um exército para auxiliá-lo. Seis, sete, quem sabe oito profissionais que falam o que ele quer ouvir, mas quase nunca o que ele precisa escutar.

O artilheiro Tiquinho, melhor jogador do Campeonato Brasileiro, foi para o banco? O dirigente precisa ter conhecimento e autoridade para saber a escalação e o planejamento tático. Não à toa o técnico alvinegro que o pôs na reserva foi demitido assim que acabou o jogo.

O Flamengo engorda o seu orçamento bilionário após um site de apostas quase dobrar o valor para aparecer no omoplata dos atletas. De R$ 48 milhões saltou para R$ 90 milhões em dois anos, com um aporte de R$ 20 milhões só neste mês. Se o BRB – o Banco de Brasília – deixar ao fim do ano de ser o patrocinador máster, certamente o site tomará seu lugar, pagando nada menos que R$ 170 milhões.

Ano que vem a Gávea respirará o tenso e sempre efervescente clima eleitoral.

“A política é como nuvem. Você olha, ela está de um jeito. Olha de novo e ela já mudou” – afirmava o político mineiro Magalhães Pinto.

Rodolfo Landim trabalha para fazer seu sucessor. Para isso, o desempenho do time é importante. Eduardo Bandeira de Mello dá sinais de que pode tentar voltar à presidência do clube mais querido do país.

PAULO CÉSAR MAGALHÃES, O REMAKE DE EVERALDO

por Reinaldo Sá

Impossível não compará-lo ao saudoso Everaldo, tricampeão mundial pela seleção brasileira e fonte inspiradora das novas gerações que viriam a envergar, com maestria, a camisa tricolor dos pampas.

Vindo das categorias de base do Grêmio, encantou o lendário Carlos Froner, que fez questão de indicá-lo ao então treinador Valdir Espinosa. E uma sugestão de Froner ninguém desprezava.

Paulo César Magalhaes foi profissionalizado durante a disputa do Gauchão, de 1983, que serviu de preparativo para o Mundial Interclubes, disputado em Tóquio. E o lateral nunca se intimidou com as comparações com o ídolo Everaldo.

Não dava espaço aos pontas, marcava duro e ainda era um elemento surpresa no ataque. Tinha fôlego e voltava rápido para ajudar o meio-campo. Por questões técnicas e táticas ganhou a titularidade de Casemiro.

Na verdade, era preciso correr muito para cobrir os espaços deixados pelos talentosos Mario Sérgio e seu xará Paulo César Caju. Tudo bem que contava com a preciosa ajuda do volante China. E PC Magalhães passou com louvor no teste contra os alemães.

Lembrou-se de seus tempos de várzea, do campeão mundial Everaldo e, acima de tudo, da indicação de Froner, que apostou em seu talento.

No fim do Jogo, braços erguidos ao céu, emocionou-se ao constatar que a partir daquele momento passaria a integrar a galeria dos imortais do tricolor.

O DESTRAVADOR

por Zé Roberto Padilha

Sabe quando dá vontade de desligar a televisão? Quando um zagueiro toca para o outro, este toca no Pulgar, que domina e devolve para o outro zagueiro que… ficam a maior parte do tempo trocando irritantes bolas lá atrás.

Jogos travados, descontínuos, parecem uma carroça que caminha pela lama tentando chegar ao gol adversário.

Felizmente o Botafogo tem um destravador. Ele se chama Tchê Tchê.

Não fui um grande driblador. Porém, quando recebia uma bola dos zagueiros, não a dominava. Deixava ela correr e aproveitava sua velocidade para fazer o time girar. Tocava, tabelava e dava um tapa na bola para sair da marcação.

Quando você domina a bola, mesmo desmarcado, entra a inércia. Com ela parada, você e o adversário estão nas mesmas condições. Já pegando carona na velocidade, menor que ela seja, você tem a arrancada a seu favor.

Tchê Tchê tem feito isto no Botafogo. Ele não domina a bola, deixa ela fluir e faz o seu time girar. Escalar o destravador na lateral vai tirar do Botafogo uma movimentação preciosa na forma do seu time jogar.

Querem os nomes de outros destravadores? Dirceuzinho, Zinho, Conca, Sérgio Manoel, Paulo Isidoro…

ALGUÉM DUVIDOU QUE NÃO DARIA CERTO?

por Zé Roberto Padilha

Comandar a seleção brasileira é quase presidir a nossa república. Cabe a ele uma grande responsabilidade para que o população, uma vez com a autoestima lá pra cima, vá exercer o seu ofício feliz. Vai produzir mais e elevar o nosso PIB.

Fernando Diniz, todos sabiam, pode até ser interino. Só não pode continuar a dirigir um clube de futebol. O fato de continuar a treinar o Fluminense o impede de viajar é conferir de perto o desempenho de cada um dos convocados.

98% deles jogam fora do país e não é possível acompanhar seus desempenhos pela televisão. Para chamar o Rodrygo, Vinicius Jr., ele precisa estar em Madrid e conversar com a comissão técnica do Real Madrid.

Outra coisa: fica pouco à vontade de convocar um goleiro, como o Fábio, porque ele joga no seu time. E, receoso da reação da imprensa esportiva, acaba não fazendo justiça ao melhor goleiro em atividade no país.

O treinador da seleção brasileira precisa se dedicar integralmente aquela que representa a maior paixão do povo brasileiro. Empatar com a Venezuela, com todo o respeito, seria como os quenianos perdessem uma corrida de São Silvestre para um argentino.

Falo antes do jogo contra o Uruguai. Depois que começarmos a fazer conta para nos classificarmos para a próxima Copa, vocês me cobram.

FEIJÃO COM ARROZ DOS TREINADORES ANTIGOS

por Zé Mário

Há poucos dias escutei alguém falar que os treinadores antigos só faziam o “Feijão com Arroz” nos treinamentos dos jogadores de futebol.

Quando ouvi isso a minha cabeça começou a girar para entender o significado de tal afirmação. Quem afirmou isso? Será que foi um pesquisador? Um cientista? Um ex-jogador de futebol? Um ex-jogador de futebol Campeão Mundial? Minha mente foi retrocedendo no tempo. Hoje, com 74 anos, tive que fazer um esforço muito grande para voltar aos 10 anos de idade.

Aos 10 anos eu comecei a jogar futebol de salão. Ou melhor, comecei a jogar o futebol da bola pesada. Atualmente FUTSAL. Meu primeiro clube foi o Magnatas Futebol de Salão, ali na Estação do Rocha. Não lembro os nomes dos treinadores desse tempo, mas me lembro que aprendi a me posicionar dentro da quadra. Cada um tem uma função e me foi mostrada e orientada a função que eu deveria exercer na minha posição.

Eu comecei de beque parado. Cobertura, passe bom, boa marcação, raça, vontade de vencer, cabeça fria, etc. Algumas coisas aprendi no paralelepípedo e no asfalto. Outras nas peladas no campo que era metade mato e metade areia. Ainda outras coisas aprendi com meu pai. Ser macho. Disputar a bola com vontade, mas com lucidez.

Ainda no Magnatas aprendi a competir. Disputei algumas competições oficiais. Mudei para o Vila Isabel Futebol de Salão, hoje extinto, e continuei a minha evolução, sempre orientado pelos Treinados Antigos. Incentivavam a técnica, a criatividade e, principalmente, que o momento do jogo era o jogador quem decidia. Ele não entrava em campo.

Assim, fui me informando com eles e “Aprendendo a Jogar” igual aquela música que a Elis tornou imortal uma letra do Guilherme Arantes. Tudo que falavam eu prestava atenção. Minha carreira de jogador de futebol de salão evoluía tranquilo. Campeão pelo Vila Isabel, Campeão Brasileiro pela seleção Carioca.

De repente surgiu uma oportunidade de treinar no infanto-juvenil, nome da época para a minha idade, no meu time de coração, o Fluminense. Sem muita convicção em me tornar um jogador profissional, comecei a treinar.

Conheci o Pinheiro, o ex-jogador e Treinador da minha categoria. Já o admirava como jogador do Fluminense. Fui muitas vezes ver os jogos no Maracanã e ele era um dos heróis. Tê-lo perto de mim e me ensinando e orientando a minha possível profissão futura foi uma honra.

Qual seria a minha posição no campo? Sei lá. Apesar de já ter jogado em campo grande, a minha formação foi no Futebol da Bola Pesada. O Pinheiro me colocou de Ponta Direita para me observar. Ponta Esquerda e Centroavante.
​Em um treino eu entrei sozinho com a bola dominada e me deparei com um goleiro famoso. O treino era contra o profissional ou o reserva. Sei que parei a bola e fiquei sem ação. O goleiro na expectativa do que eu ia fazer e eu paralisado na frente dele. Para a minha sorte, veio o centroavante e eu passei a bola para ele fazer o gol.

Aí veio uma das melhores lições que aprendi na vida.
​O Pinheiro apitou anulou o gol e deu falta contra o meu time. Perguntei o porquê e ele falou que eu tinha sido covarde em concluir o lance. Falou que eu tive medo do nome e da imagem do goleiro. Fiquei estático. Pedi desculpas dizendo que ele estava com a razão.
​Levo para o resto da minha vida essa lição. Não tenham medo de nada que apareça na sua frente. Resolvam. Pode ser cauteloso, calmo, mas decida.

Além desse aprendizado, ele ensinava que nunca deveríamos receber a bola de costas para o gol adversário. Sempre, de frente e no mínimo de lado.
​Ele incentivava o confronto de homem a homem. Ele exigia comprometimento. Ele exigia comportamento como jogador. Ele sempre falava que éramos espelhos dos mais jovens que a gente e precisávamos demonstrar isso para os mais jovens ainda.

Não existia peneira como é feita hoje. Quatro ou cinco meninos eram permitidos demostrarem o potencial deles no meio da equipe. Eles chegavam, trocavam de roupa junto com o grupo e iam para o treino. Num desses treinos um jogador chegou e dentro do vestiário o Pinheiro perguntou qual era a posição dele. Ele respondeu que era lateral direito. O Pinheiro o mandou ficar em pé, olhou bem para ele e mandou que ele andasse da porta do vestiário até a rouparia. O menino foi. Quando parou, o Pinheiro falou que pelo andar a posição melhor para ele seria volante. O menino treinou de volante e agradou.

Muito obrigado, PINHEIRO, pela minha iniciação no Futebol da Bola Mais Leve, mas com um Campo Imenso.
​O Treino no Fluminense atrapalhava os meus estudos no São Bento e resolvi parar.

Voltei seis meses depois pelo Bonsucesso. Lá encontrei outro Treinador da Antiga, Alfredo Abraão, com muitos ensinamentos.

Cruzamentos, chutes frontais, marcação, coberturas, etc.
​Me lembro bem que ele falava para os pontas que o pé na hora do cruzamento tinha que estar no formato de uma foice para a bola fazer a curva e ir de encontro à cabeça do centroavante e não o centroavante correr atrás da bola para cabecear. Nunca mais esqueci disso, apesar que eu não era ponta. Ainda assim anotei o ensinamento.

Trocou o Treinador. Saiu o Prof. Alfredo Abraão e entrou o Major Murilo de Carvalho. Mais ensinamentos e orientações proveitosas.

Num dos primeiros treinos coletivos, eu recebi três vezes a bola e dei três passes certos bem simples. Nos três passes certos, mas simples, ele apitou e deu falta contra o meu time. Na terceira vez perguntei onde errei. Ele parou o treino e falou que eu tinha feito o óbvio e fazendo aquilo eu morreria no Bonsucesso. Não teria progresso algum. Aí eu perguntei o que eu tinha que fazer. Prontamente me respondeu que quando a bola ainda estivesse com o meu companheiro e antes dele me dar a bola, eu já deveria ter olhado o campo todo e ver quem estava desmarcado. Então, eu olharia para um lado e daria a bola para o outro sem olhar. A jogada dessa forma seria melhor para o time.

Podemos dizer que era ter uma “Visão Periférica do Campo de Jogo” mesmo antes de ter recebido a bola.
​Eu já fazia um pouco disso no Futebol da Bola Pesada sem ter muita noção da importância disso. ​Mais um que levo para a minha vida toda.

Depois peguei o Prof. Paulo Emílio. Ele me lançou nos profissionais do Bonsucesso, me levou para o Fluminense e depois para o Vasco. Mais uma série de aprendizados. Não dá para enumerar todos os aprendizados com todos os treinadores. Eu ficaria aqui escrevendo um livro e não um artigo.

Aprendi que cada treinador teria coisas boas e coisas não muito boas para aprender. Passei a catalogar o que fazer quando virasse Treinador e o que não fazer. Cada treinador anotava as boas e as que eu não gostava. Isso vai desde treinamento até as atitudes.

Se vocês prestarem atenção aos Treinadores que eu aprendi a praticar o futebol, sentirão a importância de atentar para o que essas pessoas fizeram pelo futebol.
Pinheiro, Alfredo Abrão, Paulo Emílio, Velha, Zizinho, Freitas Solich, Zagallo, Joubert, Jair da Rosa Pinto, Parreira, Didi, Orlando Fantoni, Otto Gloria, Diede Lameiro, Mário Travaglini, Mario Juliato. Olha quanto “FEIJÃO COM ARROZ” eu comi com o comando deles.
Olha quantos “Campeonatos Mundiais” o Brasil ganhou comendo “FEIJÃO COM ARROZ”.

Se eu pudesse voltar a ter 15 anos de novo, eu passaria o dia todo rezando para tê-los me ensinando “FEIJÃO COM ARROZ”. Com o Flamengo, consegui dez Títulos, com o Fluminense, três, com o Vasco da Gama, oito e Portuguesa de Desportos um.

Como Treinador obtive quatorze Títulos ensinando o que aprendi. Ensinei o “FEIJÃO COM ARROZ” com a medida proporcional que cada grupo precisava.

Feijão com Arroz bem simples.

Feijão com Arroz com Amor

Feijão com Arroz mais evoluído.

Feijoada Completa para grandes jogadores.
Nada mais, nada menos.

Agora não me venham com Feijoada Portuguesa que não dá para engolir.
Quantos anos não ganhamos um Campeonato Mundial?
Será que estamos dando muito “CAVIÁ” para os jogadores e esquecemos que é o “FEIJÃO COM ARROZ” que eles precisam???????????????????????????????????????????????????????????