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INGRESSO PARA A FINAL

por Idel Halfen

O aumento nos preços dos ingressos para as finais das competições de futebol no Brasil tem causado uma grande comoção popular.

As manifestações partem de torcedores que sentem no bolso a majoração, da imprensa que levanta teorias sobre a elitização do futebol, dos “especialistas” em gestão esportiva questionando a precificação. O que não falta é opinião.

Faltam, entretanto, avaliações mais estruturadas sob o prisma microeconômico, as quais, ainda que não tragam certezas absolutas, certamente ajudariam nos processos de precificação.

Sem a menor pretensão de usar o artigo para discorrer sobre princípios microeconômicos, vamos abordar a seguir, de maneira bem superficial, a sensibilidade de consumo diante da variação de preço, a qual permite segmentar os produtos em elásticos e inelásticos.

Os elásticos são aqueles sensíveis à alteração de preço em um mercado normal de oferta de produtos, isto é, que não haja escassez  e abrigue bens que possam substitui-los. Carnes de primeira, que podem ser substituídas por carnes menos nobres e manteiga, que pode ser substituída por margarina exemplificam com propriedade os produtos elásticos.

Já os inelásticos são os que não sofrem variação de demanda mesmo que os preços sejam alterados. Esses são representados por remédios e itens de primeira necessidade, tais como água, feijão, sal etc.

Quando o resultado da equação abaixo supera 1, o produto é elástico, já quando for inferior a 1, é considerado inelástico.

Não entraremos aqui nos conceitos de elasticidade cruzada de demanda – influência da modificação do preço de um produto sobre a demanda de outros -, pois, para isso precisaríamos nos deter mais detalhadamente nas diferenças entre bens substitutos – aqueles que podem substituir outro que tenha os preços majorados – e bens complementares, que ao terem seu preço reduzido aumentam a demanda de outro sem ter seu consumo abalado. Além do que, tal profundidade pouco agregaria para a avaliação do preço do ingresso.

Vale assim focar a análise da elasticidade do ingresso considerando ser esse um produto em que há limitação de oferta, afinal é finito o número de assentos, o que faz o produto se diferenciar daqueles cuja disponibilidade é maior. 

Em jogos de importância menor, podemos até vir a concluir que o ingresso é um produto elástico, vide as promoções que acontecem em algumas partidas. No entanto, no caso de uma final como será a da Libertadores 2023, aditivada por acontecer no estádio mais emblemático do mundo e por colocar frente à frente clubes que formam uma das maiores rivalidades da América do Sul – Fluminense e Boca Juniors -, não há dúvida de que o ingresso se trata de um bem inelástico, principalmente no curto prazo onde há uma corrida desenfreada pela compra assim que as vendas começam.

Essa condição de escassez, quando aplicada a qualquer outro segmento, inclusive em ingressos para eventos culturais, costuma levar os gestores de marketing a decidirem que a adoção de uma estratégia de preços premium seja a mais apropriada, uma vez que, dessa forma consegue se obter um nível máximo de receitas com taxa de ocupação dos assentos tendendo a 100%.

Porém, estamos falando de futebol que, por mais que necessite ser gerido de forma profissional, não pode prescindir dos torcedores, visto serem eles atores de vital importância tanto no que diz respeito à atmosfera do espetáculo, como também como fator influenciador de motivação aos jogadores.

Portanto, o grande desafio do gestor de marketing no que tange à precificação é encontrar um valor que contemple a lucratividade e atenda os objetivos mercadológicos, necessitando, no caso do futebol, uma atenção redobrada ao desempenho esportivo, o qual costuma sofrer influência da torcida. Para isso, a utilização de conceitos econômico-financeiros não pode jamais ser negligenciada, tampouco o profundo conhecimento acerca do mercado em que está atuando.

A FALTA QUE UMA PELADA FAZ

por Zé Roberto Padilha

Zé Mário, que jogou ao nosso lado na Máquina Tricolor, foi um dos maiores especialistas na difícil arte de proteger uma “cabeça de área”. Incaível, com uma noção absurda de cobertura e passes precisos, quando parou foi um baita treinador.

No domingo, percebeu do Rio o mesmo que nós tricolores, espalhados pelo país, sentimos diante do Bragantino: por que perdendo de 1×0 e faltando poucos minutos, o time do Fluminense tem que insistir em sair jogando bonito?

Cadê aquele tiro de meta batido pelo goleiro e a zagueirada lá na frente disputando a bola com a zaga adversária pra bola sobrar para o Cano?

Lembrei das peladas. Sem juiz ou juízo, tínhamos as nossas regras. E uma delas era “jogar pro abafa” como último recurso para não perder a pelada. Porém, com os campos de terra batida em extinção, as novas gerações já começam nas escolinhas contidos em sua livre criação.

Em Xerém, no Ninho do Urubu, na Toca da Raposa já tem um discípulo de Fernando Diniz a catequizar um garoto para sair jogando bonito. Correndo mais riscos dentro da sua grande área do que na do seu adversário que precisava acuar.

Faltando 5 minutos, perdendo para o Bragantino e não recorrer às sábias lições de uma boa pelada, é mais preocupante do que perder para o Uruguai. Porque o improviso, a superação, o desejo ardente de empatar está dando lugar a Inteligência Artificial.

Quando você recua seu melhor jogador, e deixa um David Braz no banco, e ele, André, é quem dá o ritmo e marca velocidade e temperatura em campo, o adversário, e a tabela, já sabem aonde não queremos chegar.

Nada se cria, tudo se copia. E o talento natural, nosso maior diferencial, vai desaparecendo nas cinzas de um Carnaval.

CENTENÁRIO DO FLAMENGO

por Elso Venâncio, o repórter Elso

O futebol do Flamengo viveu no seu centenário um dos momentos mais turbulentos da história do clube mais popular do Brasil. O centroavante Romário, repatriado no auge, logo após a conquista do tetracampeonato mundial pela seleção brasileira, chegou não como a grande personalidade do futebol, mas sim do país. Famoso, poderoso e intocável, o ‘Baixinho’, eleito o ‘Número 1’ do planeta, fez um pedido. Queria a seu lado Edmundo, do Palmeiras, melhor atacante em atividade no país. Surgiu uma forte e influente corrente contrária à contratação, devido à profunda identificação do ‘Animal’ com o Vasco, mas a vontade do camisa 11 prevaleceu.

A Nação Rubro-Negra lotou as ruas para receber Romário em janeiro de 1995 e repetiu o feito quatro meses depois, parando o Rio para celebrar a chegada de Edmundo. O craque chegou de jatinho, encontrando um Santos Dumont invadido por torcedores. Da pista, precisou entrar em um helicóptero que o levou direto à Prefeitura, onde recebeu as ‘chaves’ da cidade.

O Circo Garcia, em plena atividade na Praça XI, cedeu alguns de seus animais para desfilarem no carro aberto que conduziu Edmundo, atrás da viatura do Corpo de Bombeiros. O bicampeão paulista e brasileiro pelo Palmeiras acenava feliz da vida para todos os cariocas. Ao passar por Copacabana, surgiu no calçadão um barrigudo, de bermudas e camisa rubro-negra, dançando, gritando e fazendo gestos de vitória com as mãos. Era ninguém menos que Bussunda, estrela do ‘Casseta & Planeta’, que no ano anterior apresentou seu programa televisivo direto da Copa dos Estados Unidos para a TV Globo.

O valor do passe de Edmundo? Seis milhões de dólares. Na época o nosso real estava forte, pareava com o dólar. O consórcio Plaza forneceu o dinheiro em troca de um Shopping Center na Gávea, mas este nunca foi construído. Na Justiça, mais de vinte anos depois, o Flamengo fez um acordo. Porém, teve de pagar R$ 60 milhões.

Na estreia, Edmundo fez gol no empate em 1 a 1 com o Guarani, de Campinas, no Estádio José Fragelli, em Cuiabá. Jogou com a camisa 11 do ‘Baixinho’, que vestiu a 100, em homenagem ao Centenário do clube. Sávio vestiu a 10 de Zico. Estava formado o ‘Ataque dos Sonhos’, logo chamado de ‘Melhor Ataque do Mundo’.

O Flamengo seguiu para uma excursão à China. Antes de uma atividade de dois toques, Romário e Edmundo bateram o par ou ímpar para escolherem as equipes. De repente, acabaram discutindo feio e partindo para a briga. Foram separados pelo assessor de imprensa Rodrigo Paiva. Tal discórdia entre os astros começou a afetar o rendimento do time em campo. Se alguém passasse a bola a Edmundo desagradava Romário, e vice-versa. Resumindo, a guerra de egos engoliu o ‘Ataque dos Sonhos’.

Depois de perder o Campeonato Carioca para o Fluminense naquele mítico gol de barriga marcado por Renato Gaúcho, competição que Edmundo não pôde jogar por ter perdido o prazo de inscrição, o Brasileirão começou com ele já legalizado para honrar o manto sagrado. Apesar dos diversos investimentos, por pouco o clube não foi rebaixado. Para se ter ideia, apenas com Romário, Edmundo e Bebeto, que retornou à Gávea em 1996, o clube movimentou mais de dez milhões de dólares.

O vai-e-vem era intenso. Ao chegar Bebeto, Romário, que queria reinar sozinho, voltou à Espanha. Quando seu ex-parceiro de ataque no tetra deixou o clube, o Baixinho retornou. Campeões do mundo, como Branco e Ronaldão, vinham e iam embora. Sávio aceitou proposta do Real Madrid e Edmundo se mandou para o Corinthians antes de voltar à cidade para se consagrar no Vasco.

Na época, o Flamengo não estava estruturado para receber e cumprir seus compromissos com o então melhor jogador do mundo. O clube deveria ter lhe proporcionado um time e elenco mais forte, com o qual poderia tirar melhor proveito da sua genialidade em campo.

O MOTIVO DA SAÍDA DE ROMÁRIO DO BARCELONA

por Luis Filipe Chateaubriand

Em 1995, uma notícia surpreendeu o mundo do futebol.

Romário, melhor jogador do mundo e no melhor de sua forma física e técnica, resolveu sair do Barcelona, da Espanha, para voltar a jogar no Brasil, pelo Flamengo.

Se ficasse na Europa, Romário tinha tudo para ser o melhor jogador do mundo por ainda alguns anos e marcar seu nome no panteão dos maiores jogadores da história.

Ao voltar para o Brasil, optou por menor projeção.

Segundo o próprio Romário afirmava, na época, a opção de voltar ao Brasil seria decorrente do fato de que estava há mais de seis anos fora do país, e tinha vontade de voltar a estar com sua gente, jogar o seu futevôlei, aproveitar as praias carioca e, por que não dizer, conviver com as mulheres brasileiras.

Pode até ser.

Mas um fator, que não é lembrado, possivelmente também influenciou esta volta.

Quando a Seleção Brasileira conquistou a Copa do Mundo de 1994, os jogadores vieram de férias para o Brasil.

Romário havia combinado, com o Barcelona, que ficaria um mês em terras brasileiras.

No entanto, nosso craque se entusiasmou, e ficou dois meses por aqui.

Quando voltou a Barcelona, foi chamado para uma reunião, pelos demais jogadores.

Os outros jogadores cobraram Romário pelo atraso na reapresentação.

Aí, Romário, impolido, foi “detonando” um a um, mostrando como cada um deles foi eliminado na Copa e como alguns nem tinham ido nela, enquanto ele era campeão.

O clima pesou.

Romário ficou sem ambiente para continuar jogando no clube catalão.

O próprio percebeu isso.

E resolveu aceitar a proposta do Flamengo, para ser repatriado.

Se não tivesse havido o desentendimento entre Romário e os demais jogadores do Barcelona, possivelmente ele ficaria mais alguns anos no futebol europeu.

SIR ROBERT CHARLTON

por Paulo-Roberto Andel

Morreu Sir Robert Charlton.

Foi o maior jogador da Copa do Mundo em 1966, aquela que se intromete em nosso período maior de glórias, que vai de 1958 a 1970.

E foi justamente em 1958 que, meses antes do Brasil encantar o mundo, Bobby Charlton sobreviveu ao maior desafio de toda a sua vida: o desastre aéreo que vitimou oito jogadores do Manchester United. Bobby tinha 20 anos de idade e, refeito da tragédia, ainda escreveria muitas histórias do futebol.

Não bastasse sua trajetória monumental no English Team, Bobby foi um nome lendário do Manchester United na década de 1960, jogando 758 partidas, marcando 249 gols e ganhando nada menos do que dez títulos com a não menos lendária camisa vermelha. Os números são incontestáveis: Bobby foi um monstro.

A única Copa vencida pela Inglaterra sempre gerou especulações, desde o fato de ter sediado a competição até a polêmica envolvendo a final do Mundial de 1966, com o terceiro gol inglês marcado pelo artilheiro Geoff Hurst. Melhor dizendo, um gol onde a bola não entrou mas que, uma vez validado, derrubou de vez os alemães e consagrou o título inglês diante de quase 100.000 torcedores em Wembley.

Se a conquista inglesa foi controversa e deixou dúvidas é fato, mas, se naquela competição houve uma certeza, ela responde: entre tantos craques e craques, a Inglaterra teve o melhor de todos naquela disputa. Naquele tempo, até nós, brasileiros, supremos no esporte, podíamos sonhar com Bobby Charlton ser brasileiro – num país de Garrincha, Pelé, Didi, Gérson e tantos outros gênios.

Por mais que fosse inevitável porque o tempo é implacável, esse é o tamanho da perda do Sir.