AGUENTA QUE É PENTA
por Matheus Rocha
Acabei de chegar do Mineirão. São 2 da manhã e ainda corre nas veias o sangue azul cheio de adrenalina.
Não sei nem por onde começar a contar. Se do início para o fim, do fim para o início… São muitas emoções, já dizia Roberto Carlos!
O Mineirão teve hoje uma final espetacular, desde o lado de fora, com as torcidas entrando juntas, shows no entorno. Faltando menos de uma hora, começaram os shows pirotécnicos, com projeções no gramado, luzes e a torcida do Cruzeiro cantando. A abertura e o espetáculo em si, não deixa nada a desejar para grandes finais na Europa. Foi coisa de primeiro mundo. Voltando a torcida, é bom lembrar que os guerreiros azuis mostraram para o Brasil no primeiro jogo da final sua capacidade de empurrar o time e o calar a torcida flamenguista em pleno Maracanã. Eu fui tanto no primeiro, quanto no segundo jogo da final. E, assim como no primeiro jogo, estou também sem voz após o segundo…
Depois de todo show, o Cruzeiro mostrou porque é dos maiores times do Brasil e muito distante do segundo time de Minas – que aliás, nem sei se é grande. Vamos ressaltar que, em Minas os cruzeirenses dizem que o Atlético Mineiro é um time pequeno, mas os atleticanos nem ousam dizer isso do Cruzeiro, afinal reconhecem a nossa grandeza. Nos últimos 20 anos, foram 2 Copas do Brasil e 3 Brasileiros, enquanto a outra “força” de Minas tem tão somente 1 Copa do Brasil e 1 Brasileiro nos últimos 100 anos. Mas isso é outra história.
Coincidências na Copa do Brasil 2017
O Cruzeiro até então havia ganhado 4 Copas do Brasil: 1993, 1996, 2000 e 2003, contra Grêmio, Palmeiras, São Paulo e Flamengo, respectivamente. Em 2017, quem foram os 4 últimos adversários do Cruzeiro? Exatamente São Paulo, Palmeiras, Grêmio e Flamengo. Não tinha como escapar essa taça. Outra coincidência ocorreu nas finais contra o Flamengo: no primeiro jogo da final de 2003, assim como no primeiro jogo da final de 2017, ambos no Maracanã, ambos terminaram em 1 a 1, ambos com gol irregular do Flamengo. Mas isso nós não guardamos, nós simplesmente jogamos contra tudo e contra todos.
Recorde
Não poderia esquecer que o Cruzeiro já possuía o recorde de público do Mineirão de todos os tempos na final do Campeonato Mineiro de 1997 contra o Vila Nova, de Nova Lima, com 133 mil pessoas (nem precisa dizer que eu estava lá!).
Ontem, o Cruzeiro bateu o recorde do “novo” Mineirão com 61 mil pessoas.
Minhas premonições
Essa última parte da coluna é egocêntrica, pois foi tudo dito por mim na arquibancada do Mineirão durante os jogos e só tenho uma testemunha: meu amigo de arquibancada Guilherme Almeida. Se você, leitor, quiser acreditar, pode acreditar!
O jogo contra o Palmeiras foi sofrido (como todos os outros), mas ainda nas quartas de finais. Quando o Diogo Barbosa, lateral esquerdo, marcou aquele gol de cabeça, onde ele mesmo disse: “no lugar errado, na hora certa”, do modo que foi o jogo eu disse: “esse foi o jogo de campeão!”.
No jogo contra o Grêmio, o Guilherme disse no momento do escanteio: “observa o Léo” e eu retruquei: “O Léo não, fique de olho no Hudson!”. Exatamente naquele escanteio, Hudson foi mais alto que a zaga gremista para marcar. Ainda no jogo contra o Grêmio, eu não tive uma premonição, mas sim uma lembrança. Quando Luan – o melhor jogador do Grêmio – pegou a bola nas disputas de pênaltis para sua cobrança, eu falei: “Se o Alex errou um pênalti a nosso favor nas oitavas de 2004, por que o Luan não perderia?”. Dito, feito e classificado.
(Foto: Agência 17)
E por último, a melhor de todas. Sem prever o resultado, quando o Paolo Guerrero pegou para a primeira cobrança, bati no ombro do Guilherme e falei: “O Fábio só vai pegar o pênalti do Diego!”. Foi o pênalti do título, com o Thiago Neves cobrando na sequencia e fechando a Copa do Brasil 2017.
Não sou Mãe Dinah, mas que eu disse tudo isso, eu disse!!!
Agora é só esperar amanhã para ver e ouvir o Chico Pinheiro, atleticano declarado, dizendo que o Cruzeiro é o novo Penta Campeão da Copa do Brasil!!!!
O SCRIPT DA REDENÇÃO
por Victor Escobar
Existem algumas perguntas que são insuperáveis, que conseguem atordoar as pessoas ao longo da existência e que parecem nunca ter resposta. Uma delas, sem dúvidas é: quem veio primeiro, o ovo ou a galinha? Parece coisa de estudante do primário, mas encafifa até o pHD em física quântica. Não existe parecer científico que elimine todas as dúvidas! E, não, não estou aproveitando esse animal para fazer alguma referência ao herói dessa nossa crônica.
Uma outra questão é se a arte imita a vida ou vice-versa. Nessa eu não vou nem me arriscar. Vou usar a velha estratégia daquela eterna candidata à Presidência da República, que parece estar sempre dormindo na rede, e ficar em cima do muro para dizer que nem um, nem outro. Arte e vida caminham lado a lado!
Mas pra que bodegas estou falando disso tudo? Porque o resultado final da Copa do Brasil já está traçado.
Não sei se vocês perceberam, mas o “caso Muralha” é a ficção se confundindo com a realidade o tempo todo – e hoje é o desfecho da epopeia. Poderia ser uma história digna do realismo mágico de Fellini ou um romance psicológico de Doistoeviski, mas é só futebol. Homero que me desculpe, mas olha só que história:
1 – Um menino nascido numa cidadezinha do interior que, assim como muitos outros, sonhava em ser jogador de futebol.
2 – Começa a carreira em um time minúsculo e passa por vários outros também pequenos – Olé Brasil, Votoraty e Comercial de Ribeirão Preto.
3 – Na época de Comercial, ganhou o apelido de Muralha da torcida, após defender dois pênaltis na mesma partida – essa é a grande tirada da história.
4 – Por conta das boas atuações, foi parar no futebol Japonês, em um time de nome impronunciável que nem vou me arriscar em escrever.
5 – Volta ao Brasil, disputa a série A2 do Campeonato Paulista pelo Mirassol e se destaca positivamente mesmo na péssima campanha do time.
6 – Ganha oportunidade de chegar à elite do futebol brasileiro jogando pelo Figueirense.
7 – Tem um início difícil no time, mas, meses depois, consegue alcançar a titularidade. Como em todo time ruim, quem se destaca sempre é o goleiro. Com isso, Muralha foi um dos destaques do Figueira.
8 – O bom campeonato fez com que Muralha fosse contratado pelo Flamengo, um dos maiores times do país.
9 – Momento “On the Road”: viaja de Santa Catarina para o Rio de Janeiro num Opala!
10 – Começa na reserva do Flamengo. Após a lesão do titular, ganha a titularidade e se firma como um grande personagem na campanha que, depois de muitos anos, disputou o título brasileiro.
11 – As boas atuações e o excelente momento da equipe lhe renderam convocações para a SELEÇÃO BRASILEIRA.
12 – Virando o ano, começa a derrocada do goleiro: insegurança, péssimas atuações e falhas constantes. Começou a ser perseguido pela torcida e foi responsabilizado pelo fracasso do time em competições importantes.
13 – Amargurou a reserva do goleiro recém-promovido ao profissional e depois foi para a reserva definitiva com a chegada de um grande goleiro.
14 – Em uma partida que foi titular, o Flamengo foi eliminado em uma disputa de pênaltis onde Muralha sequer acertou o canto – olha o gancho que falei!
15 – O escracho público: humilhado pela própria torcida e chacota dos rivais, um jornal de grande circulação crucificou o goleiro num editorial na capa, que ganhou muita repercussão e críticas.
16 – Por ironia do destino, no meio de um dos piores momentos da carreira, Muralha vai ser o goleiro da partida final da Copa do Brasil, que pode render o tetracampeonato para o Flamengo – justamente em uma das a partidas mais importantes do ano do clube.
17 – Muralha, psicologicamente arruinado, ganha apoio incondicional do elenco e da torcida e vai confiante para o jogo – “os humilhados serão exaltados”, chega a ser bíblica a parada, para os mais religiosos, claro. O grand finale todo mundo já sabe. Muralha vai ser o nome do jogo que renderá título para o Flamengo – provavelmente num lance de pênalti. Pelo menos é o que a história se encarregou de escrever. E se não for, meus amigos, podem me cobrar! (Mentira! Como todo bom torcedor, vou ficar pistola se o Flamengo perder o título a ponto de mandar todo mundo que der um pio pra casa do chapéu!)
SEM ROSTO
:::::::: por Paulo Cezar Caju ::::::::
(Foto: Nana Moraes)
A convocação de Diego, do Flamengo, é a maior comprovação do marasmo vivido por nosso futebol. Mas o que podemos esperar se no Brasileirão a artilharia vem sendo disputada pelos rodados Ceifador (é Ceifador, Gladiador, Pitbull, Hulk, He Man… estamos perdidos), Jô e Roger?
Reparem nos ídolos dos principais clubes. Ricardo Oliveira continua comandando o Santos, Fred e Robinho o Atlético, Nenê e Luis Fabiano são os ídolos do Vasco, Zé Roberto ainda disputa vaga no Palmeiras, Rafael Sóbis continua fazendo seus golzinhos no Cruzeiro, e Léo Moura e Cortês são titulares no Grêmio. Vão jogar até os 100 anos porque as bases desses clubes não são aproveitadas como deveriam.
Pouquíssimas novidades surgem. Santos e Fluminense ainda nos dão algumas surpresas e mesmo assim rapidinho se mandam para algum time de fora. Me digam, recentemente, qual o garoto fez sucesso ao sair do Brasil: Gabigol? Gerson, do Fluminense, daquela venda que virou empréstimo, uma confusão danada? Douglas, do Vasco? Agora vai o Wendel, do Flu, Vinícius Júnior, do Fla, e uma penca de tantos outros, que vão botar uma graninha para dentro e cair no esquecimento.
Gente, o Diego não está jogando mais do que o Everton Ribeiro, por exemplo. Sem qualquer tipo de provocação, mas ele não teria vaga, nesse momento, nem na seleção carioca. A convocação é para ficar bem com a torcida do Mengão? Porque com a do Corinthians nosso técnico está em dia, afinal até o Fagner tem tido chance.
Resumindo, o Diego vai juntar-se a Renato Augusto, Fernandinho e os Casemiros da vida e vamos em frente torcendo para uma seleção sem rosto.
PS: E o Rogério Micale, hein! Me engana que eu gosto….
MICHEL, O LEÃO DA ARENA
por Anderson Gonçalves
Considerado uma das principais peças do time comandado por Renato Gaúcho, o gremista Michel, de 27 anos, precisou lutar muito para alcançar os dias de glória. Órfão de mãe, abandonado pelo pai, o craque passou a ser criado pelos avós maternos Ivonete e José.
Assim como os grandes talentos do futebol brasileiro, nasceu na cidade do Rio de Janeiro, na Favela da Kelson’s, no Complexo da Maré e desde novo teve que aprender a driblar as dificuldades e marcar gols contra a desistência. Vale destacar, no entanto, o apoio dos avós, principais responsáveis por manter aceso o sonho do pequeno de se tornar um daqueles homens que tanto acompanhava na televisão.
Seus primeiros chutes na bola foram no próprio campo de terra batida na Kelson’s, onde aos 15 anos já jogava no meio dos adultos, enfrentando entradas violentas nas peladas que rolavam todos os domingos pela manhã. Vestia a camisa do Renegado, por onde conquistou seu primeiro e inesquecível título, e como em todo campeonato que se preze, os campeões levaram uma quantia em dinheiro e converteram em uma churrascada com refri e cerva.
Diferente dos tempos atuais, no Grêmio, nos campos de terra batida na Kelson’s, Michel gostava de atuar como meia-atacante.Sua referência era o Berg (exjogador da Portuguesa-RJ) e o Nem (outro peladeiro bom de bola).
Hoje, com o sonho realizado, Michel é quem ajuda a família a ter uma vida melhor. Tirar os avós da comunidade da Penha, onde cresceu, é tarefa praticamente impossível. Mas orgulha-se em dar conforto para aqueles que fizeram de tudo por ele, porque a realidade era complicada. O jogador não esconde que os recursos eram parcos e, por vezes, chegava a treinar com fome.
Cristão, Michel reconhece que toda glória conquista até aqui é permissão de Deus. Para quem não acompanha e acha que a vida sempre lhe sorriu, precisa conhecer a trajetória do menino que superou uma série de desafios para se firmar. Hoje ele colhe os frutos plantados anos atrás.
Da Kelson’s para o Grêmio, Michel, o Leão da Arena!
ODE A MARCIO, O 10 DO BONSUCESSO
por Marcelo Mendez
Era sábado à tarde e eu não sabia exatamente o que iria encontrar ao cobrir meu primeiro jogo de veteranos pela Liga de Santo André.
Na verdade, assuntos e emoções não faltavam, era a volta do time do Bonsucesso, lendário na várzea de Santo André, após 24 anos de inatividade, o jogo seria no campo do Nacional, onde cheguei para jogar futebol com seis anos de idade no longínquo 1977, por lá reencontrei amigos de longa data e tudo mais.
No entanto, dentro de mim senti algo diferente, aquela velha sensação que habita o peito do cronista na hora em que um grande fato está prestes a acontecer de maneira fulgorosa. Não errei na previsão:
Naquela tarde, um craque habitaria o campo e a tarde dos incautos na Várzea de Santo André.
Marcio…
Marcio é o camisa 10 do Bonsucesso, como de fato sempre foi ao longo de toda sua vida. Me recordo dele menino com a 10 do Rhodia, me lembro dele ainda garoto com a 10 do Bonsucesso e depois com a mesma camisa 10 rodou por Andradas, pelo Mauaense e afins. Por onde passou, ele e sua camisa 10, Marcio fez muito mais do que apenas jogar futebol lindamente.
Um jogador refinado de passos de Nijinski, e olhar de fúria. Em campo com a 10, Marcio sempre foi intenso, sempre foi rock and roll. Jogou futebol da mesma forma que Baudelaire escreveu seus versos. Marcou gols com o gosto da chicotada de lírios que o poeta francês deu em seus versos. Em campo, Marcio tinha a mesma grandiosidade de um Rolling Stones tocando Midnigth Rambler. Sempre foi um espetáculo vê-lo jogar e no sábado não foi diferente.
O garoto agora tem 39 anos e é pai. Carrega em seu rosto a paz que a idade e as realizações pessoais dão ao sujeito. Joga bola por encanto, por gosto, para rever amigos, para trazer de volta a ativa o seu amado Bonsucesso. Dá sorrisos, me abraça antes do jogo e vai a campo. Uma beleza.
Márcio já não tem mais a mesma velocidade, mas o que importa isso? Quem está com pressa? Não… Marcio não joga, desfila. De seus pés não saem passes, saem paletadas de multicores. Marcio joga bola como um Ticiano, um Monet, um Rembrandt. Jogava com fleuma.
Caminhava com calma, observava do alto de sua condição de habitante de um outro Olimpo e inebriava quem o via. Antevia tudo, as jogadas, os sonhos, os amores. Porque tudo que Marcio fazia por aquele campo era poesia pura. A bola o agradecia
Das arquibancadas de onde eu assistia a tudo isso, consegui ver um sorriso pleno de amante realizada nela, a bola. A pelota procurava por Marcio pelo campo, tal e qual um apaixonado procura por uma rosa improvável pela noite boêmia para presentear a sua amada. A síntese de tudo que acontecia era esta:
Todos ali estavam totalmente apaixonados por Marcio.
Um craque pleno, no melhor momento de sua vida a realizar o que melhor sabe; Encantar-nos. Vos digo caros leitores:
Não há no mundo dos homens, obra de arte maior do que a camisa 10 de um time de futebol envergada por um craque.
O craque de bola é um semideus que faz eventuais concessões a nós pobres diabos, de habitar o mesmo espaço que o nosso vez por outra, para nos encher de alegria, de beleza, de festa, de alegria. Por 90 minutos de jogo, Marcio fez isso.
Enquanto a bola rolou, ele, o 10, regeu todos os nossos sonhos. Nos alegrou e fez da vida, algo muito menos duro do que às vezes ela é. Pelo tempo que a bola rolou o mundo segundo os pés de Marcio foi algo bem mais bacana. Que siga assim, Marcio.
Jogue por mais 100 anos…