Escolha uma Página

STJD ANALISA EM 2024 O USO DA GRAMA SINTÉTICA

por Irineu Tamanini

No início do próximo ano (2024) o Pleno do Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) deverá julgar o uso de gramado sintético no futebol brasileiro. Atualmente, apenas três clubes utilizam o gramado artificial: Athletico Paranaense, Botafogo e Palmeiras. Há possibilidade de um quarto clube aderir ao gramado sintético, o Clube Atlético Mineiro.

Dois clubes de peso, Flamengo e Fluminense, preparam um dossiê contra os gramados sintéticos no futebol brasileiro. A ideia é proibir o uso do campo artificial a partir de 2025 ou 2026. Os clubes envolvidos preparam uma “força-tarefa” com um dossiê de argumentos contra o gramado sintético. O alto risco de lesões é um dos principais pontos citados pelo relatório.

Opiniões:

Fernando Diniz – treinador interino da Seleção Brasileira, treinador campeão da Libertadores pelo Fluminense e ex-jogador de futebol – Eu acho que oferece mais risco [o gramado sintético]. Eu não gosto do advento do campo de grama sintética. Não é o melhor para os jogadores e eu sou a favor do que é melhor para os jogadores. Eu acho que não favorece o jogo, muda o jogo, não é o mesmo jogo jogar em grama sintética e eu acho que os riscos aumentam de lesão. Tem uma corrida no mundo para que os campos de grama sintética sejam abolidos de alguns campeonatos, muitos na Europa não tem esse tipo de gramado e eu sou a favor de que a gente tenha um campeonato jogado somente em campo de grama natural

Abel Ferreira – treinador português do Palmeiras – A grama sintética do estádio palmeirense: o gramado do Allianz Park tem que ser trocado urgentemente. Não quero saber quem vai pagar, se a WTorre ou o Palmeiras. O gramado não está em condições de continuar a jogar futebol, neste momento é um risco para lesões de jogadores.

Sérgio Pugliese – jornalista – No meu ponto de vista de peladeiro profissional acho ruim porque cada campo instala um modelo diferente e algumas são muito finas, duras. Outras são bem fofas e lembram até as gramas originais. Mas a verdade é que se for feita uma enquete os peladeiros preferirão os bons e praticamente extintos campos de terra batida.

Luiz Antônio Vieira – renomado médico ortopedista do Rio de Janeiro que já operou, por exemplo, os atacantes Breno Henrique e Pedro, do Flamengo – No início da grama sintética operei muita gente de ligamento, por causa da grama, hoje em dia não vejo isso…

obs: Pedro foi operado quando era jogador do Fluminense

Edu Coimbra, ex-craque do América do Rio de Janeiro e irmão do Zico: Sou totalmente contra jogos oficiais em campo sintético. O número de lesões aumentam e uma série de mudanças acontecem em relação a grama natural.

José Murilo Procopio- advogado e vice-presidente do Atlético Mineiro – Acredito que o melhor seria o híbrido. É o que devemos optar.

Renato – ex-goleiro da Seleção Brasileira, Fluminense, Flamengo, Atlético Mineiro e Bahia – Não conheço esses novos tipos. Joguei na Arábia Saudita e nos Emirados. Eram péssimos. Pareciam com uma lona de caminhão. Tirava um bife se raspasse alguma parte do corpo.

Paulo Sérgio – ex-goleiro da Seleção Brasileira, Fluminense e Botafogo – Nada contra os gramados sintéticos, porém vale a pena uma análise: nos principais países que praticam o futebol, TODOS os estádios são de grama natural. Se a questão dos estádios brasileiros que adotaram a grama sintética foi por causa dos shows , então por favor invistam (assim como nos estádios de diversos países) em mecanismos que protegem os gramados naturais.

Ernani Buchmann – advogado, jornalista, escritor, ex-presidente da Academia Paranaense de Letras e ex-presidente do Paraná Clube – Sobre a questão, o enrosco está no conceito de arena multiuso. Os clubes cedem seus estádios para shows, levantam um dinheiro respeitável e, não fosse a grama artificial, não poderiam usar os respectivos campos em curtíssimo prazo, como o calendário brasileiro exige. Há ainda o fato de que, no caso do Athletico Paranaense, o local não favorece o crescimento homogêneo da grama natural. Minha convicção é de que a Fifa deveria investir em tecnologia aplicada ao desenvolvimento de gramados artificiais menos lesivos aos atletas. Enquanto isso não ocorrer, a grama artificial deveria ser banida, pelos riscos que apresenta atualmente.

Juca Kfouri – jornalista – Não gosto, mas prefiro aos pastos que infestam o país.

Eraldo Leite – jornalista – O gramado sintético só vingou no Brasil por causa da péssima qualidade dos gramados naturais. E isso tem duas causas: o clima tropical no Brasil, com muita chuva na maior parte do ano, e o calendário massacrante do futebol, com 80, 90 jogos pra cada time. O Maracanã, por exemplo, tem dois usuários (às vezes três), que jogam ao mesmo tempo até três competições paralelas. O gramado vive no sufoco, sem tempo pra respirar. Assim como o jogadores precisam do intervalo de 66 horas entre um jogo e outro, os gramados naturais também deveriam ter respeitado um certo intervalo (com a palavra os engenheiros agrônomos). Entre jogar num campo esburacado, cheio de “montinhos artilheiros” ou num gramado sintético, a segunda opção é melhor. E fora os shows. Estádio de futebol é pra jogar futebol.

Cícero Melo – jornalista – Sempre fui contra o gramado sintético no futebol profissional. Sempre achei que futebol profissional tem que ser jogado em gramado natural. Essa história de gramado sintético começou nas “peladas”. Eu mesmo joguei muitas “peladas” com amigos em gramado sintético. A FIFA permitiu o gramado sintético em em jogos de Copa do Mundo. Os clubes passaram adotar esse tipo de gramado porque facilita a recuperação após os shows e a manutenção é muito mais barata. O gramado do Maracanã, por exemplo, já passou este ano por várias reformas. O custo é grande porque o maquinário é importado. Acho muito difícil a FIFA voltar atrás e proibir o uso da grama sintética. Mesmo assim, sou contra o gramado sintético.

Terence Zveiter – advogado e presidente da Academia Nacional de Direito Desportivo (ANDD) – Gramado sintético e gramado natural tem uma diferença. O gramado sintético gruda mais na chuteira. Com relação às contusões dos atletas não é nada de excepcional em termos de números. Qual é a grande vantagem do gramado artificial. É que você pode usar o gramado do jeito que lhe convier. Por exemplo, o Botafogo colocou a grama artificial no Engenhão. No ano passado ele alugou o estádio para dois shows. Este ano já foram mais de vinte. Com isso, criou um ecossistema ao redor do estádio nunca antes visto, trazendo um benefício enorme para a população limítrofe gerando emprego, receita, além de você gerar para o Rio de Janeiro muitos recursos. Em um país como o nosso onde muita gente morre de fome, você não pode impedir o clube de futebol de exercer uma atividade econômica rentável.por isso, vejo o uso da grama sintética nos estádios como muito mais vantagens.

Wellington Campos – jornalista – A FIFA está estudando proibir. EUA estão fazendo muita pressão devido as lesões. Na copa do Mundo de 2026 todos os gramados serão naturais.

BAIANINHO

por Zé Roberto Padilha

Baianinho foi jogador do Corinthians durante um ano e meio. A despeito do que posso ter acontecido em sua passagem pelo Parque São Jorge, jogando bem ou mal, sendo campeão ou não, o fato de ter vestido uma camisa tão carismática o credenciava a ir jogando Brasil afora. Bastava na apresentação ao seu novo clube dizer: “Eu joguei no Corinthians”. Na pior das hipóteses, conseguiria uma semana de testes para suprir a curiosidade ante tal credenciamento.

Dessa maneira, ele se apresentou ao Goytacaz FC e meio fora de forma, 28 anos de luta, conseguiu autorização para mostrar seu futebol em dois coletivos. Cobra criada se saiu muito bem. Porém, melhor do que ele se saiu seu empresário. Vocês lembram como se apresentava um vendedor de aspirador de pó? Era o próprio, terninho tão claro quanto sua pele, maleta 007 fase Sean Connery, cinto com as suas iniciais e um estilo inovador de vender seu produto.

Em vez de manter a classe que todo empresário deveria ostentar, sentar nas cadeiras ao lado da diretoria para mostrar seu jogador, foi para as arquibancadas torcer e misturou-se aos fanáticos, desocupados e aposentados que todas as 4ª e 6ª assistiam aos coletivos. Quando Baianinho pegava na bola, o grupo todo batia palmas. E desculpava seus passes errados com um “Valeu, Baiano!” bem nítido.

Enquanto o treino corria ele dissertava para a galera seus feitos. Do passe que deu para o Sócrates fazer um gol decisivo. Do gol que ele próprio marcou contra a Juventus, na Rua Javari.

E quanto ao Zé Maria? Quem não conhecia o lateral da seleção brasileira, o Super Zé, ficou sabendo do carinho pelo Baianinho. No Corinthians, eram como irmãos E o azar que ele deu? Moço bom, família para criar, o fato é que com 20 minutos de treino a arquibancada o queria não só vestindo camisa 7 do Goytacaz FC, como na semana seguinte o queriam na TV ao lado de J Slvestre, no seu comovente “Essa é a sua vida”.

Com 30 minutos de treino o Baianinho meteu um gol e eu, dentro de campo, por mais acostumado que estivesse com a extensão daquele burburinho, fiquei assustado com tanta gritaria. Como era seu primeiro coletivo achei que tinha trazido consigo a família inteirinha, o que era até a válido, mas como os comentários surgido antes do segundo falavam apenas do empresário e seu inovador estilo, eu tive que me render ao talento de ambos.

Pois mesmo contando com dos pontas direitas nosso presidente se viu no obrigação de atender ao clamor da massa, que já ganhava as rádios e jornais, e o contratou por um ano. Até que não foi mal o Baianinho. Pena que sua intimidade com a bola não ficasse apenas na habilidade e no domínio, ela ia além e ambos se confundiam no formato.

Mesmo quando atingiu o melhor da sua forma a balança marcava dois acima. E era uma luta sem trégua com o peso que foi cedendo a favor da Fililizona à medida que foi se desmotivando. Preterido pelo treinador Pinheiro, foi se acomodando e nós acabamos sem poder contar com o seu grande futebol. Eu, particularmente, era um apaixonado pela maneira como protegia a bola, a facilidade como conseguia, a despeito de sua bagagem lateral, estar sempre bem colocado e driblar sem usar a velocidade. Ele driblava era com o talento mesmo.

Mas não foi apenas por suas autuações, dele e do seu empresário, que descrevo sua passagem por Campos. Foi por uma entrevista concedida a TV Norte Fluminense em horário nobre. Indagado se a interrupção do campeonato poderia ou não trazer benefícios ao time, Baiano respondeu que o problema seria o “Relaxismo: que poderia causar a perda de entrosamento da equipe.

Se fosse jornalista do Pasquim, passava, poderia ter seu neologismo assimilado pelo próximo Aurélio. Mas foi proferido num clube de futebol onde o regime sobrecarregado de homens convivendo juntos nâo é capaz de perdoar tais deslizes. Pegaram no pé do Baiano é ficou um tal de relaxismo pra cá, Baiano você calado é um autêntico descendente de Castro Alves pra lá que, desesperado, recorreu em última instância à sua mulher. Que era professora.

Ela fez o que pôde, recorreu até a Barsa do vizinho, e só encontrou relaxado, relaxante, relaxismo que era preciso para relaxar seu tenso marido, nada.

Porém, sugeriu que alegasse ser uma força de expressão comumente usada em sua terra natal. Dia seguinte ele pirou ainda mais as coisas tentando se explicar. O clima era de deboche e melhor teria sido que aceitasse e não apelasse incluindo a mãe alheia diante de cada revide. Mas não o fez.

De gozador a brincalhão, se fechou. Seu comportamento introvertido em nada ajudou e seu futebol se encolheu também. Foi pro fundo do ônibus e se instalou na última poltrona e pouco queria conversa.

Só voltamos a ouvir sua voz em itaperuna, após um Goitacaz 2×2 seleção local. Um vendedor de picolé, atendendo seus insistentes apelos pois sua sede era maior que a de todo mundo, se instalou debaixo da sua janela. Jorge Luis, nosso goleiro, quatro poltronas adiante pediu para ele comprar um picolé. E o Baianinho, em péssima fase literária, foi gentil mas antes de comprar perguntou : ” De que marca?” Jorge Luis nem deixou quicar ” “Fiat”. Novo caos. Alguém disse para ele continuar com seu relaxismo que era melhor e doia menos aos ouvidos.

Essa expressão, que ele mesmo criou, parecia descontrolar o Baiano, que voltou a xingar a sede do clube. Que era, segundo ele, pequena e só podia abrigar gente pequena e sem respeito.

Nova introspecção. Baianinho deixou o Goitacaz tres meses depois. Fez muitos amigos, mas não conseguiu apagar do placar do Ary de Oliveira e Souza sua adversidade maior: Relaxismo 1x Baianinho 0. Placar final.

* crônica do livro “Futebol: a dor de uma paixão!”, 3* edição.

FORA DA COPA

por Rubens Lemos

Misturar racionalidade com ufanismo em futebol seria mais ou menos juntar russos e ucranianos, judeus e terroristas árabes em imenso parque de diversão, sentadinhos, ouvindo a história do Lobo Mau. Impossível. Pelo critério do bom senso, o melhor para a seleção brasileira será ficar fora da Copa do Mundo de 2026.

O time é lastimável e, até se ficar em sétimo lugar na repescagem, não irá favorito à disputa na degola. A seleção brasileira morreu. Pavorosos equilibrando as canelas sobre chuteiras fazem pior que o amadorismo. Nos tempos em que se jogava por malandragem e amor, havia quem soubesse tratar a bola. Hoje, ela pode dar queixa por feminicídio.

Fora de uma Copa do Mundo pela primeira vez terá para o Brasil o efeito de uma bomba atômica sobre o cipoal de corrupção em loterias clandestinas, eliminará o jogo copiado da Europa em costumeira adulação nacional. Desde que Pelé começou, o Brasil mandou. Desde que o Rei parou, todo mundo ficou nivelado.

O Brasil de hoje é o sexto melhor time da América do Sul e, a perder de goleada na primeira fase do mundial, venha Ancelotti, Guardiola ou fique o bovino Fernando Diniz, é melhor nem participar da festa e reconstruir a filosofia da arte como ponto inquestionável.

Nossas pernas de pau serão desvalorizadas, aposentadas e algumas, do naipe do abominável Emerson Royal, quem sabe, deportadas para a Faixa de Gaza.

O Brasil desmoronou. Diga, você que discorda, quem é nosso craque. Quem é? Neymar é ex-jogador, preocupado com os petrodólares das Arábias. Vini Júnior pensa que joga mais do que efetivamente joga. Rodrygo com a 10 é a mesma consequência de me vestirem com a nobre camisa.

Já que por analfabetismo solene não aceitam naturalizar para jogar pela CBF – já pensou Arrascaeta na meia? que se proíba a convocação de jogadores atuando no exterior. Nos três primeiros títulos mundiais do Brasil, quem atuava fora, fora permaneceu.

Agora feche os olhos, abra e vá lendo os titulares de 1958: Gilmar; Djalma Santos (só jogou a final e foi o melhor em campo); Bellini, Orlando e Nilton Santos; Zito e Didi; Garrincha, Vavá, Pelé e Zagallo. Perderíamos, se Bellini, Didi e Zito não impusessem Pelé e Garrincha – sobrenaturais – entre os titulares.

Em 1962, machucado Pelé no segundo jogo, na decisão contra os checos jogaram Gilmar; Djalma Santos, Mauro, Zózimo (Orlando perdeu a vaga ao sair para o Boca Juniors) e Nilton Santos; Zito e Didi; Garrincha, Vavá, Amarildo e Zagallo.

Em 1970, ninguém no estrangeiro: Félix; Carlos Alberto Torres, Brito, Piazza e Everaldo; Clodoaldo e Gerson; Jairzinho, Tostão, Pelé e Rivelino.

No fracasso de 1974, Zagallo simplesmente desconhecia a fabulosa Holanda que eliminou o Brasil(2×0), depois de equilibrado primeiro tempo. Começava a contaminação. Após a Copa da Alemanha, o zagueiro Luís Pereira e o meia-atacante Leivinha, do Palmeiras, foram vendidos ao Atlético de Madrid. Paulo César Caju sairia para a França, mesmo destino de Jairzinho.

O cara cheio da grana, de mulher a escolher com a colher, tem lá patriotismo, que, aliás, é dicionário de guerra? De jeito nenhum. Veio 1978, terceiro lugar invicto e os jogadores, sem exceção, atuavam no Brasil.

Em 1982, o timaço de Telê treinou dois anos com Cerezo, Zico, Sócrates com Paulo Isidoro pela direita para mudar na Copa. Claro, Falcão, Rei de Roma, teria de jogar. Saiu o menos famoso, Paulo Isidoro, quando a lógica impunha Cerezo para Isidoro ajudar Leandro a conter ofensivas adversárias.

Avacalhou. Venderam Zico, Sócrates, Cerezo, Júnior, e em 1986, apenas Júnior e Sócrates, dos titulares de 1982, atuaram no México. Em 1990 foi a palhaçada de Lazaroni. Romário deslumbrou o mundo em 1994. Ronaldo em 2002. A última seleção de foras de série atuou em 2006 apesar de tomar vareio na França.

Leia na coluna ou nos almanaques de todos os mundiais. Verás maravilhas. Olhe agora para a lateral-direita e tente não chutar o sofá com Emerson Royal de titular do Brasil. Saíram os baixinhos, habilidosos. Saiu o esporte fenomenal. Entrou Royal. Copa não, recomeço, sim.

UMA COISA JOGADA COM MÚSICA – CAPÍTULO 38

por Eduardo Lamas Neiva

A música de Marco Ferrari atraiu a atenção de grande parte do público e de nossos amigos. Após o burburinho dos comentários, Zé Ary manteve o tema e lançou a bola na área.

Garçom: – Não foi naquele mesmo Campeonato Brasileiro, em 88, que o Gaúcho defendeu dois pênaltis contra o Flamengo?

Idiota da Objetividade: – Sim, o Flamengo perdia para o Palmeiras, por 1 a 0, quando o goleiro Zetti se machucou gravemente após choque com o atacante Bebeto. O time paulista não podia mais fazer substituições, então Gaúcho, falecido em 2015, vestiu a camisa de goleiro e levou o gol de empate, marcado pelo próprio Bebeto. Na disputa de pênaltis, no entanto, ele virou herói ao defender os chutes de Aldair e Zinho.

Sobrenatural de Almeida: – Dei uma grande ajuda pro Gaúcho naquela noite. Não foi Gaúcho?

O artilheiro se levanta e não deixa barato.

Gaúcho: – Que nada, eu sempre fui bom goleiro.

Ceguinho Torcedor: – Assombroso!

Todos riem muito.

Gaúcho: – Na primeira bola eu levei o gol, mas consegui depois pegar os dois pênaltis que ajudaram o Palmeiras naquela noite no Maracanã.

Todos o aplaudem. Ele agradece e se senta novamente.

João Sem Medo: – Zetti, Bebeto, Aldair e Zinho foram campeões mundiais em 94.

Garçom: – E o Gaúcho, um dos heróis do Flamengo no Brasileiro de 92.

Idiota da Objetividade: – Foi sim, mas o grande nome daquele time de 92 foi o Júnior, que além de Maestro, foi o artilheiro do Flamengo, com 9 gols. Um a mais que o Gaúcho.

Gaúcho se levanta de novo.

Gaúcho: – Eu deixei essa pra homenagear o Maestro.

Risos na plateia.

João Sem Medo: – É, mas o Flamengo teve muito mais time no início dos anos 80.

Idiota da Objetividade: – Aquele time comandado por Zico foi campeão brasileiro em 1980, 82 e 83. Ainda venceu a Libertadores, o Carioca e o Mundial Interclubes em 81.

João Sem Medo: – Em Tóquio, Zico, Adílio, Júnior, Leandro, Andrade e Lico ficaram bem à vontade e puseram o Liverpool na roda. A vitória de 3 a 0 foi muito justa.

Garçom: – E a festa da torcida varou aquela madrugada, o bar em que eu trabalhava na época não fechou de sábado pra domingo. Se já era ídolo, Zico virou Rei.

Músico: – Merece música, né? Zico tem muitas pra contar e cantar.

Garçom: – Verdade! Vamos ouvir, então, uma do Carlinhos Vergueiro, aqui no som, que se chama “Zico”.

Todos aplaudem a música, e Geraldo, muito amigo do Galinho de Quintino, aplaude de pé e é seguido por seu Antunes, dona Matilde e Tunico e por outros ex-companheiros de Flamengo e seleção brasileira, como Figueiredo, Zé Carlos, Rodrigues Neto, Sócrates.

Idiota da Objetividade: – O Flamengo foi o primeiro time brasileiro a conquistar o Mundial Interclubes depois do Santos, que foi bicampeão, em 1962 e 63.

Ceguinho Torcedor: – O Santos de Pelé deu grandes exibições de futebol. Foi assim no título mundial de 62, quando goleou o Benfica, no Estádio da Luz, por 5 a 2. Só Pelé fez três gols. O Santos destroçou o Benfica de Eusébio. O Santos não, Pelé. Só o Negro Divino existiu naquela noite diante de uma multidão uivante de 80 mil pessoas, sem contar os caronas espectrais, os infantes, os Camões, o túmulo de Inês de Castro. Houve em Lisboa um silêncio de catástrofe, de estourar os tímpanos, como em 50, aqui. Ao terminar o jogo, a garotada invadiu o campo e Pelé foi caçado. Estraçalharam sua camisa, e os portugueses levaram os seus farrapos como se fossem trapos radiantes de um santo.

João Sem Medo: – Pelé foi o maior que vi jogar.

Garçom: – Falando no Rei…

Músico: – É, sem dúvida, o jogador que mais homenagens musicais recebeu até hoje.

Ceguinho Torcedor: – O Rei merece, por tudo o que fez pelo Brasil.

Garçom: – Então, vamos ver no telão, uma apresentação especial da Orquestra Sanfônica Balaio Nordeste tocando “A ginga do Pelé”, de João do Pife?

Todos respondem em coro um “sim” em alto e bom som.

Garçom: – Então, vamos lá!

Todos aplaudem muito.

Garçom: – Ainda falaremos muito de Pelé e ouviremos muitas músicas sobre ele, que virá aqui, com certeza.

Fim do capítulo 39

Quer acompanhar a série “Uma coisa jogada com música” desde o início? O link de cada episódio já publicado você encontra aqui (é só clicar).

Saiba mais sobre o projeto Jogada de Música clicando aqui.

“Contos da Bola”, um time tão bom no papel, como no ebook. 

Tire o seu livro da Cartola aqui, adquira aqui na Amazon ou em qualquer das melhores lojas online do Brasil e do mundo.

Um gol desse não se perde!

ENTRE O SAPATO E A CHUTEIRA

por Zé Roberto Padilha

Meu neto, Gabriel, faz aniversário. Completa 7 anos. Fui lhe visitar e perguntei se estava jogando bola. “Estou estudando, vovô!”

Por mais orgulhoso que ficasse pelo futuro brilhante que lhe aguarda, fiquei um pouco triste, confesso, por ver ali encerrado o ciclo de jogadores de futebol da família. Eduardo e Felipe, meus outros netos, tambem estudam mais do que jogam futebol.

Meu pai era de origem muito simples e jogava muito, segundo Osvaldo Canelas, a enciclopédia do nosso futebol. Ele escreveu, em suas memórias, que ele e o Fabinho, de Paraíba do Sul, foram os dois maiores craques de toda a nossa história.

Certa feita, meu pai fez aniversário e meu avô mandou escolher o presente. Diogenes Padilha era radiolegrafista e vivia modestamente. Meu pai disse que precisava de uma chuteira e de um sapato. Já namorava a minha mãe. A resposta foi: “Ou um ou outro!”

Tinha a missa no domingo de manhã e América X Entrerriense à tarde.E ele, por opção, foi com minha mãe na Igreja calçando chuteiras.

Toc, toc, toc…toda vez que ele contava essa história ficava pensando no vexame que provocava ao entrar na igreja. E o orgulho que dava a todos pisando mais tarde no gramado.

Meu primeiro bolo foi em formato de uma bola de futebol. O primeiro presente, uma bola de futebol. Não tinha televisão, Internet ou Playstation. Era pelada o dia inteiro e ia ao Colégio Entre-Rios cumprir tabela. Não poderia ter seguido outro caminho.

O que recebia de bolas, minha filha o abastece com livros.

Estou indo comprar o presente do Gabriel. Pela história, deveria ir ao Planeta Gol dar sequencia à saga dos Padilhas. Mas vou na Mr Cat. buscar seu sapato.

Não vai ter mais toc.toc.toc… a marcar os novos passos da família. Sao a bola, entram os livros. Que a sabedoria o leve a ser tão feliz na universidade quanto eu fui no Maracanã.