SELEÇÃO SEM RUMO
por Elso Venâncio
O técnico Dorival Jr. não encontrou o rumo certo a seguir para recuperar a Seleção Brasileira. Já foram relacionados 46 jogadores, em quatro convocações. O início da escalação já indica a mesmice de sempre: Alisson? Danilo, Marquinhos? No meio-campo, novamente Paquetá? Com as convocações de Endrick e Igor Jesus, o esquema muda, voltando a ter um centroavante. João Gomes, que aparecia como titular, é esquecido.
Em meio a tantos problemas, Dorival não é culpado sozinho, como também não foram os antecessores, sempre criticados. Nos últimos dois anos, registrou-se a maior dança de treinadores da história da Seleção. O gaúcho Tite perdeu uma Copa e, inexplicavelmente, foi mantido na seguinte. Após a demissão dele, vieram Ramon Menezes, Fernando Diniz e Dorival Jr. Não será surpresa se surgir um quinto nome, diante da pífia campanha nas Eliminatórias.
O alerta do lateral Danilo não deve passar em branco. Independente financeiramente, ele afirmou que falta organização, planejamento, enfim, que a gestão na CBF é precária em relação à Europa. Lamentou a perda de tempo aguardando Ancelotti. Falcão, que jogou com Ancelotti na Roma, ouviu do italiano que a prioridade dele sempre foi o Real Madrid. Rodrigo Caetano, diretor de Seleções da CBF, demonstra estar pouco à vontade no cargo.
O Brasil sofre com o quinto lugar na classificação das Eliminatórias. Vai para um jejum de 24 anos sem vencer uma Copa do Mundo, enquanto a Argentina é a atual campeã, e os uruguaios estão em ascensão e conquistaram a Copa América. A Associação Uruguaia de Futebol (AUF) acertou contratando “El Loco” Marcelo Bielsa, que teve coragem para renovar a equipe. Com isso, o Uruguai vai forte para o próximo Mundial.
Não bastassem todos os problemas propriamente da Seleção, ainda temos o racha entre os clubes nas Séries A e B do Campeonato Brasileiro. Tem a Libra, que se uniu à TV Globo, e a Liga Forte, que está com a TV Record e o YouTube.
Não adianta apenas criticar os jogadores que se calam, mesmo expostos a mais de 20 jogos por ano em relação aos times europeus. Ou será que Vinícius Jr., Endrick e Rodrygo não seriam bem-vindos em outras seleções? Segundo o site especializado Transfermarket, o trio vale 350 milhões de euros.
Surgiram Luiz Henrique, Estevão… Neymar está voltando. Mas, perdemos a confiança e o respeito dos adversários. Além disso, o torcedor se afastou de sua maior paixão. Você, hoje, sente prazer em ver um jogo da Seleção Brasileira?
COMEMORAÇÃO
por Wesley Machado
Escrevo esta crônica menos de 12 horas após a classificação do meu Botafogo às semifinais da Libertadores.
Ainda sem saber se o nosso adversário será o Flamengo ou o Peñarol do Uruguai, que jogam nesta quinta-feira.
Se o adversário for o Flamengo, será um confronto inédito na Libertadores.
Se o adversário for o Peñarol, será o reencontro dos finalistas da Conmebol de 1993.
Botafogo e Peñarol também se enfrentaram na primeira fase da Libertadores de 1973.
De toda forma, esta classificação do Fogão é uma volta no tempo.
Em um tempo de ditadura militar no Brasil.
Minha filha de 10 anos já é politizada.
Comemorou muito a vitória de Lula em 2022.
Agora em 2024 meu pai é candidato a vereador.
Política e futebol, que dizem não se deve misturar.
Mas foi com a conscientização proporcionada pelo texto sobre Gonzaguinha aqui, que eu digito no cata milho estas mal traçadas, caro leitor.
Faltam 10 dias para a eleição.
Voltemos ao futebol.
Falta menos de um mês para o primeiro jogo da semifinal da maior competição da América do Sul.
E por mais que este título pareça algo inalcançável, não custa nada sonhar, mesmo sendo “aquele que sabe o sufoco de um jogo tão duro”.
“Eu acredito na rapaziada” do Glorioso!
De ser campeão e comemorar comendo pão.
De açúcar que é para compensar o café sem.
Como diz a letra do por muitas vezes censurado Gonzaguinha em Se meu time não fosse o campeão: “Hoje eu só quero saber da comemoração / E nem quero pensar: se meu time não fosse campeão / Sorrindo ele me segredou: nós fazia uma revolução”!
O DECISIVO GABIGOL
por Elso Venâncio
Adenor Leonardo Bachi, o Tite, sofre pressão pelos resultados negativos e demonstra, em boa hora, esquecer o passado de mágoas, rancores e vaidades. Após um longo e turbulento período, ele resolveu levar o decisivo Gabigol para enfrentar o Peñarol, no Uruguai, pelo jogo de volta das quartas de final da Libertadores. O atacante nunca teve uma chance real com o treinador. Foi titular em apenas 3 dos 35 jogos do Flamengo sob comando de Tite. Se começava jogando, saía no intervalo. Quando começava no banco, entrava faltando 10, 15 minutos.
Nenhum técnico tem poderes para desprezar um ídolo sem a cumplicidade da diretoria. Goleador indiscutível, carismático, protagonista em títulos históricos, Gabriel Barbosa chegou a alcançar um status só superado por Zico. Ainda assim, vem sendo preterido por Tite desde 2019, quando teve início a era vitoriosa do Flamengo com o português Jorge Jesus. O então treinador da Seleção Brasileira convocava o reserva Pedro, que foi à Copa do Catar. Gabigol, em grande forma, ficou de fora.
Em 2022, comemorando após ser novamente decisivo em outra conquista da Libertadores, o artilheiro teve como alvo o comandante derrotado em duas Copas seguidas. “Tite, vai se fu…, o meu Flamengo não precisa de você”. A torcida reagia em coro “Tite, vai se fu…, o Gabigol não precisa de você”. Tite, por sua vez, demonstrou sua mágoa ao assumir o Flamengo.
A relação do Gabigol com os dirigentes rubro-negros ficou difícil após um contrato, acertado por cinco anos, ter sido vetado pelo presidente Landim, que só admitia renovar por um ano. Novo ruído causou indignação a alguns torcedores, insatisfeitos com o fato de o jogador ter sido fotografado, em casa, usando a camisa do Corinthians. O atacante foi multado, perdeu a camisa 10 e passou a vestir a 99.
Simultaneamente, Pedro seguiu se destacando em campo. Fez gols, assistências, e conquistou a artilharia do Brasileiro, deixando Gabigol cada vez mais ofuscado. A falta de ânimo do herói de 2019 e 2022 passou a ser notada nos treinos e jogos. Eis que Pedro sofreu séria contusão no ligamento cruzado e, operado, ficou sem previsão para voltar. No fim das contas, Bruno Henrique é quem foi improvisado no lugar do artilheiro, que ficou abaixo do indolente Carlinhos.
A crise chegou ao ponto de o departamento médico rubro-negro negar uma contusão que Gabigol alegou ter. O Flamengo acabou prejudicado por nunca ter dado limites ao jogador. No jogo mais importante da temporada, o certo seria Tite começar o jogo com Gabigol e não deixá-lo como opção no banco. A presença dele impõe respeito ao rival e aumenta a confiança. Time o Flamengo tem, para virar o confronto e seguir na Libertadores.
GONZAGUINHA, COMPOSITOR DA VIDA, DO AMOR E DO FUTEBOL
por Pedro Tomaz de Oliveira Neto
Em 29 de abril de 1991, o Brasil amanhecia chocado com a notícia de um trágico acidente de carro ocorrido no sudoeste do estado do Paraná. Morria ali um dos grandes expoentes da Música Popular Brasileira (MPB), o cantor e compositor Luiz Gonzaga do Nascimento Júnior, o Gonzaguinha, que, estaria completando, nesta semana (precisamente, em 22 de setembro), 79 anos de idade.
Filho de uma lenda chamada Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, Gonzaguinha era um apaixonado pelo futebol. Torcia para o Vasco da Gama e tinha manifestas simpatias pelo Cruzeiro de Belo Horizonte, cidade onde morava desde o início dos anos 1980, por ocasião do seu terceiro casamento. Cultivava várias amizades com os craques da bola de sua época, como Reinaldo e os saudosos Sócrates e Roberto Dinamite. Sempre que sua agenda permitia, Gonzaguinha ia aos estádios para prestigiar grandes jogos do futebol brasileiro. Além de torcedor, era um peladeiro e gostava de participar com outros artistas de partidas beneficentes ou em prol de causas políticas, integrando o famoso Trem da Alegria, time criado em 1975, por iniciativa do então ex-jogador Afonsinho, reunindo nos gramados jogadores de futebol sem contrato e grandes nomes da MPB.
Luiz Gonzaga Jr. levou para suas composições essa intimidade que tinha com o futebol, mostrando que dentro das quatro linhas do campo de jogo, junto com a bola, rolava uma síntese da vida no mundo lá fora. Vítima contumaz da tesoura afiada da censura do regime militar instalado em 1964, o compositor se valia de metáforas alusivas ao futebol para driblar as proibições e os cortes impostos às letras de suas músicas. É o caso de “Arquibaldos e Geraldinos” (1974), com a qual denunciava os mecanismos de restrição das liberdades, situação que deveria ser enfrentada com inteligência e cautela, principalmente quando se estava no “campo do adversário”.
Já em “E Por Falar no Rei Pelé…” (1978), Gonzaguinha exaltava a força do povo brasileiro, que considerava um verdadeiro craque ao encarar no dia a dia a marcação dos homens de cima, tornando a vida uma “pedreira” ou uma “rinha sem gol”. Por sua vez, em “Se Meu Time Não Fosse Campeão” (1979), mostrava como o futebol pode ser uma válvula de escape para o trabalhador esquecer, ainda que temporariamente, as dificuldades financeiras e os problemas pessoais e como um gol tem o dom de encobrir o cansaço dessa luta diária que é a vida.
Infelizmente, Gonzaguinha partiu muito cedo, aos 45 anos de idade. Nos deixou quando vivia a plenitude de sua produção artística e intelectual, prometendo muito mais além da riquíssima discografia que acumulava desde o início da década de 1970. Uma obra recheada de canções marcadas pela beleza da melodia e pela força poética de suas letras, seja para exaltar a vida, o amor e a luta dos mais humildes em busca da alegria de viver, seja para dissecar, em versos espirituosos, o cotidiano e as condições sociais e políticas do seu tempo e, por que não dizer?, do nosso tempo, num merecido reconhecimento da atualidade de seu repertório musical. Salve, Gonzaguinha, o compositor da vida, do amor e do futebol!
FRANCISCO HORTA, 90 ANOS
por Paulo-Roberto Andel
Muito já se disse sobre o aniversariante deste 23 de setembro. Ousado, corajoso, carismático. Certo é que, ao completar 90 anos, Francisco Horta é o maior presidente vivo do Fluminense, o mais emblemático e só fica atrás de Arnaldo Guinle porque este, tão genial quanto Horta, teve a chance de sedimentar o Tricolor e colonizar o futebol brasileiro de vez. Contudo, o maravilhoso Flu de Guinle foi até reconhecido mundialmente com o tempo, mas o governo de Horta teve uma projeção mundial tamanha que nem a chegada do Flu à decisão do Mundial de Clubes 2023 teve a mesma repercussão.
Há quase meio século, a Máquina Tricolor misturou sonho e realidade. Até então, o Fluminense era uma potência e já tinha sido inclusive campeão mundial, mas com Francisco Horta o Tricolor se tornou uma referência internacional permanente. Ganhou o Bayern Munchen, base da Alemanha campeã mundial de 1974, com o Maracanã em êxtase. Alinhando craques de todos os jeitos, a equipe aproveitava feras da casa como Edinho, Pintinho, Cleber e Rubens Galaxe. Quando o campeonato carioca era o mais importante do país, o Flu conquistou o bicampeonato que não via desde os anos 1930. Dava um show de goleadas, inclusive nos rivais, e faturava torneios de grande expressão no exterior.
O Fluminense virou símbolo pop. Sua camisa era vestida até em fotos dos Rolling Stones. Cruyff quase veio para o Flu, imaginem. Um fenômeno mundial num tempo sem internet, apenas com rádio, TV e jornais. Em casa, o clube conquistou a maior média de público numa temporada, em 1976. Sem patrocinador, investidor, mecenas ou dinheiro público. O troca-troca sacudiu o futebol brasileiro duas vezes.
Reparem que a Máquina nunca foi chamada de “time do Rivellino”, “time do Paulo Cezar” ou “time do Carlos Alberto Torres”. Não. É uma unidade. Um projeto. Uma força da natureza concebida por seu arquiteto, o maquinista Francisco Horta. Uma força tão grande que supera a ignorância de seus detratores, que insistem em tratar como “menor” o time que ganhou “pouco”, numa comparação desequilibrada dos anos 1970 com os 2020. Mas poucos haters são honestos em admitir que só com Horta o Fluminense teve em seu elenco 1975-1976 cinco campeões mundiais de 1970 no México: Félix, Carlos Alberto Torres, Marco Antônio, Rivellino e PC Caju. Assim como ninguém se esquece do Brasil de 1982, da Holanda de 1974 e da Hungria de 1954, não dá para discutir a excelência do futebol brasileiro sem falar da Máquina.
Tudo bem, a cada ano a Invasão Corintiana de 1976 tem mais torcedores no borderô, mas deixa estar. A magia de um dos maiores confrontos da história do futebol brasileiro é também marcada pelo time que o Fluminense tinha, digno do Olimpo do nosso futebol, no mesmo salão de festas da Academia do Palmeiras, do Santos do inigualável Pelé, do Botafogo nos anos 1960 e do Flamengo de 1981.
Tudo isso tem o roteiro e a direção de Francisco Horta, que já deveria ter uma estátua no clube e o título de grande benemérito. O Fluminense já tinha nome nas ruas do mundo, mas foi Horta quem colocou a grafia tricolor nos letreiros à altura da Broadway.
Aos 90 anos, plenamente ativo e lúcido, o eterno presidente do Fluminense conduz a Santa Casa da Misericórdia há mais de uma década. Tida como incurável, a Santa Casa começou a respirar sem aparelhos e, aos poucos, vem retomando sua vida normal. Dá para dizer que o maquinista não tem poderes de cura?
A Máquina Tricolor alimentou corações e mentes, fez história e arrematou uma multidão de crianças para sempre – que eram jogadas para o alto em toneladas de vitórias, gols e grande futebol. Hoje, são os cinquentões que sentem o brilho nos olhos quando se fala de Miguel dos saudosos Rodrigues Neto, Dirceu, Carlos Alberto Torres, Félix, Toninho, Félix, Cafuringa, Doval e Mário Sérgio (craçaco que somente na Máquina ficou no banco de reservas), de Roberto Rivellino, de Paulo Cezar Lima, de Renato, Pintinho, Edinho, Rubens, Zé Roberto, Búfalo Gil e tanta gente. De Didi, Parreira e Paulo Emílio e Mário Travaglini, entre outros. De José Carlos Villela, o maior advogado tricolor de todos os tempos. De Ximbica. São muitos e muitos nomes, que todos se sintam representados aqui.
Tomara que meu pai consiga ler estas linhas. Ele me jogou para o alto muitas vezes no Maracanã. Eu era criança e ali, em meio à nuvem de pó de arroz, aprendi o que era uma festa. O ano de 1976 foi um dos mais difíceis da vida de Helio Andel. Sofremos literalmente o pão que o diabo amassou. Sua única alegria era o Fluminense, o Fluminense da Máquina, o fenômeno de popularidade. Obra e graça eternas de Francisco Horta, a quem declaro meu apreço, admiração, respeito e agradecimento a quem ofereceu alegria ao meu pai. Vivi para contar essa breve história.
Viva Francisco Horta, o eterno presidente do Fluminense!
Viva a Máquina imortal!
@p.r.andel