A BOCA FALA E AS MÃOS ESCREVEM
por Marcos Vinicius Cabral
“Era 2015 e o Barcelona e Neymar comemoravam o título da Champions League pela última vez. Foi no dia 6 de junho de 2015, em Berlim, que o Barça ganhou da Juventus por 3 a 1, conquistando o quarto europeu em dez anos. Neymar fez o terceiro gol, já nos acréscimos, selando a vitória. Mas não para por aí. Aquele gol, o décimo dele na competição, colocou o brasileiro no topo da lista de artilheiros da Champions, ao lado de Messi e Cristiano Ronaldo. Feito raríssimo. Naquele primeiro semestre de 2015, assistíamos, impávidos, pela primeira vez, Neymar chegar onde todos esperavam que ele chegasse: ao nível dos dois.
A partir daquele momento, Neymar entrava na mesma conversa, se colocava na prateleira mais alta dos grandes nomes do futebol mundial. Certo? Sim. O mundo todo apostava muito que Neymar, que estreou no Santos, em 2009, aos 17 anos, seria o melhor jogador do mundo. Certo? Errado… naqueles oito anos atrás, um jornalista chamado Rodrigo Mandarini escreveu no Facebook que Vini Jr. (nem titular do Flamengo era) seria eleito melhor jogador do mundo antes de Neymar.
A boca fala e as mãos escrevem! Declaração polêmica à parte, o fato é que, apesar de achar estranho a afirmação e como não sou de debater com ninguém – ainda mais em se tratando de futebol, paixão nossa todo dia – a profecia jornalística do nosso ‘hors concours’ esportivo está perto de se cumprir.
Neymar sempre foi um craque. No Santos, principalmente no Barcelona, na Seleção Brasileira e no PSG. Mas, apesar de ter tido a oportunidade de se colocar entre os cinco maiores jogadores de futebol de todos os tempos, preferiu desfocar a carreira. No lugar do profissionalismo, saídas noturnas. Ao invés dos treinos para aprimorar o talento que Deus lhe deu, preferiu se envolver em confusões dentro e fora de campo.
Daqui a um mês, Neymar vai completar um ano sem atuar e, para quem, em setembro do ano passado, superou Pelé e se tornou o maior artilheiro da Seleção Brasileira em jogos oficiais, isso não é nada bom.
No entanto, se antes, tinha lá minhas dúvidas, hoje não tenho mais: Vinicius Jr, meu conterrâneo de São Gonçalo, caso seja eleito pela FIFA o melhor jogador do planeta no próximo 28 de outubro, servirá também como termômetro do que será essa nova geração que está chegando. Traduzindo: será, disparadamente, o melhor jogador do mundo com uma das piores safras de jogadores brasileiros da história.
Pecado que a bola comete. Mas Mandarini, não!”.
“NÃO SOMOS MODINHA: MULHERES ENTENDEM DE FUTEBOL E GOSTAM DE TORCER”
Fundadora da Nação Empoderada, Monalisa Matos conta como a torcida do Fla formada só mulheres impõe-se ao machismo e à violência renitentes
por Gabriella Pereira, Luísa Fernandez e Manoelle Monteiro
Cansada de ir sozinha aos jogos do Flamengo, Monalisa Oliveira Matos convidou seguidoras do Instagram para acompanhá-la. A empreitada deu tão certo que se desdobrou numa torcida organizada. “Também entendemos de futebol, também gostamos de torcer, e por isso estamos ali na arquibancada”, enfatiza a fundadora da Nação Empoderada. Desde 2018, dezenas de rubro-negras transformam a torcida formada só por mulheres num movimento contra o machismo, o assédio, e demais violências sofridas no ambiente esportivo. Monalisa conta, num papo descontraído, como iniciativas assim ajudar a incrementar a participação feminina no futebol e em outras modalidades.
Como nasceu a ideia de fundar uma torcida só de mulheres?
A Nação Empoderada surgiu em maio de 2018, logo após eu conhecer duas outras torcedoras num evento de despedida do goleiro Júlio César, na Barra. Ao conversarmos, percebemos algo em comum: às vezes, deixávamos de ir a alguns jogos por sermos mulheres e estarmos sozinhas. Desde então, viramos três. Depois de irmos ao estádio juntas, tive a ideia de criar um grupo com mais meninas. Postei no Instagram e fui chamando meninas que me seguiam. Reunimos uma quantidade grande de torcedoras antes da pandemia. O intuito era juntar o máximo de mulheres que tinham medo ou que não tinham companhia para ir aos jogos do Flamengo. Há integrantes até fora do Rio.
Quantas participam hoje?
Somos 63 mulheres, atualmente. Mas já tivemos muito mais antes da pandemia, como eu disse. Depois, algumas engravidaram, outras casaram, outras se mudaram para outro estado. Isso diminuiu a quantidade de participantes no nosso movimento. Além do mais, como o preço dos ingressos subiu, muitas deixaram de ir ao estádio.
Como funciona a organização?
Sou a presidente, responsável por tudo, mas divido a administração com duas partticpantes. Uma responde pelas redes sociais. A outra se encarrega de prestar informações e esclaracer dúvidas sobre o grupo responsável. Eu idealizo os projetos que serão feitos. Penso em retomar, ainda neste ano, ações sociais como doação de alimentos e de roupa. Elas sempre foram o nosso forte, desde o começo. Vamos retomá-las, o que nos une mais.
Qual a importância dessa organizada para a participação feminina no esporte?
A importância da Nação Empoderada sempre foi motivar o público feminino a frequentar a arquibancada e outros eventos que envolvam o Flamengo, inclusive além do futebol. Hoje vemos a arquibancada cheia para acompanhar o vôlei feminino, por exemplo. Esperamos que isso aconteça com o futebol feminino. A nossa ideia também é acompanhar, apoiar, as modalidades femininas. Muitas vezes, é de graça.
Como é a relação com o machismo na arquibancada?
Até que sofremos pouco com o machsimo na arquibancada. Falo por nós do grupo. Sempre fomos fortes, sempre editamos as canções que estavam ali na hora do jogo (para extrair trechos machistas). Sempre mostramos que a gente está ali para torcer pelo nosso time, sem nenhum outro propósito. Os homens têm que entender que mulheres também gostam do futebol. Gostam dos esportes, gostam de empurrar o time, e por isso estamos ali. Não somos, como já falaram, “modinha”. Também entendemos de futebol.
Quais atitudes devem ser tomadas para combater o machismo?
Nós, mulheres empoderadas, estamos sempre dispostas a quebrar esse ciclo de machismo. Temos sempre mostrar, para os homens, que estamos ali também, no poder. Por exemplo, a [presidente do Palmeiras] Leila Pereira, hoje na CBF (chefe de delegação), mostra o posicionamento que nós mulheres temos no futebol. Ela fala por nós. A importância dela é enorme. A quebra do machismo no esporte, principalmente no futebol, se dará quando tivermos mais mulheres em posições altas, em posições nas quais os homens precisam nos respeitar. Assim, vão ver que somos iguais.
Que dificuldade é enfrentada pela torcida feminina além do machismo?
A única coisa que a gente enfrenta, além do machismo, é a falta de segurança. Ainda é muito difícil ser mulher e ir para um jogo de futebol sozinha, especialmente num clássico. Às vezes, um bando de meninos aborda agressivamente a torcedora no meio da rua: quer a camisa dela, quer agredi-la. Por isso, a gente procura ir em grupos ao estádio, agrupando meninas da mesma região. A gente nunca deixou nenhuma torcedora sozinha. Procuramos proteger nossa integridade física.
SOBRE A SELEÇÃO
por Paulo-Roberto Andel
Pensando bem, são muitos os motivos que explicam a queda de padrão do futebol brasileiro, e que naturalmente desaguam nos caminhos da Seleção. Muitos, muitos. Passam por dirigentes escroques e tenebrosas transações. E dão um livro grosso.
Contudo, o maior deles se repete inclusive noutros esportes, mas foi uma espécie de guilhotina cortando a excelência que, um dia, já povoou nossos gramados: o desprezo que o talento passou a receber em troca da atenção absoluta da parte físico-tática.
Em pouquíssimo tempo, o futebol no Brasil virou uma verdadeira febre. Quando o Brasil conquistou sua primeira grande colocação, o terceiro lugar na Copa de 1938, já tínhamos super craques como Domingos da Guia, Leônidas, Romeu Pelicciari e outros. Vinte anos depois, encantamos o mundo com Pelé e Garrincha. Dali, até 2006, com grandes colocações e quase sempre entre os cinco maiores do mundo, sempre tivemos grandes jogadores aos montes, a ponto de todo treinador da Seleção ser cobrado por ausências em sua lista de convocações.
De onde vinham esses craques todos? De milhares e milhares de campinhos Brasil afora. Éramos uma verdadeira fábrica de craques em larga escala. Campinhos de terra, de areia batida, de pedra inclusive. Milhares e milhares de garotos enlouquecidos pelo jogo em vielas, favelas, vilas, praças, na praia, onde desse pra jogar. E dessa multidão tiramos, durante décadas, dezenas de craques que inundaram o mundo com dribles, passes e jogadas geniais, descobertos por olheiros dos clubes. Foi o que fez a fama do futebol brasileiro, não necessariamente aliado ao rigor tático, mesmo tendo treinadores competentes e especializados.
Um golpe violento veio com a Copa de 1982. A derrota para a Itália levantou o argumento de que o “futebol arte” era inútil e deveria ser substituído pela força. A nova onda perversa dominou o Brasil, mas nosso petróleo da bola era tão farto que ainda aguentamos 25 anos com as reservas técnicas. E tome Romário, Geovani, Bebeto, Ricardo Gomes, Branco, Valdo, Raí, Leonardo, vários desses tetracampeões em 1994. E tome Amoroso, Edilson, Djalminha, Marcelinho, Kaká, Ronaldinho Gaúcho, Roger, Alex, Felipe…
A Lei Pelé deu alforria aos jogadores. Em compensação, espatifou os clubes, saqueados por dirigentes e empresários. Em paralelo, os garotos passaram a ser formados para o combate em vez da criação. Veio a era dos volantes brucutus. Enquanto isso, os campinhos foram desaparecendo, os garotos descalços foram desprezados, os empresários tomaram o lugar dos olheiros e a indústria exige porrada e força em vez de destreza. E nós, que antigamente tínhamos vinte ou trinta jogadores para escalar onze, chegamos à Era Neymar, a do time de um talento só que seria responsável por resolver tudo em campo. Como se viu, não deu certo.
Há trinta e poucos anos, o sonho da Venezuela era marcar um gol no Brasil. Apesar da tradição, fazer seis gols no Paraguai e cinco no Uruguai não era difícil em 1979. O futebol mudou e muitos evoluíram em seus cenários. Nós, não: abrimos mão do melhor que tínhamos – nossa habilidade, capacidade de improvisação e perspicácia – para nós tornarmos inferiores às seleções que, um dia nós invejavam. Jogamos fora o principal combustível do nosso protagonista, o talento. Em compensação, temos uma indústria de marcadores.
O problema maior não está numa derrota para o Paraguai, hoje normal. Até segunda ordem, a classificação para a Copa do Mundo ainda não parece ameaçada. O problema mais grave é que, se conseguirmos confirmar o passaporte para o Mundial, ele será o de coadjuvantes. O problema é verdade que, nesta derrota de quarta, o Brasil não tem um único desfalque expressivo – o time que está lá é o que temos e só. Quem ali realmente faz diferença do ponto de vista da qualidade técnica?
Alguém espera por Neymar? Quem ainda acredita em sua volta ao futebol profissional de excelência?
O Brasil precisa refundar suas divisões de base e valorizar o talento, se não quiser se tornar de vez um centro inexpressivo do futebol. Precisamos voltar a fabricar craques em série e recuperar a identidade do nosso futebol.
Peço a compreensão dos mais jovens, não se chateiem comigo. Não é saudosismo, mas apenas meu olhar de criança como torcedor. Se naquele tempo alguém falasse de um camisa 10 (ou 8) talentoso e importante, você poderia lembrar facilmente de Dicá, Ailton Lira, Renato, Zenon, Pita, Adílio, Cléber, Zico, Rivellino, Guina, Palhinha, Sócrates, Jorge Mendonça, Falcão, Mendonça, Enéas, Douglas e outros.
Hoje falamos de quem?
@p.r.andel
O CALENDÁRIO DO FUTEBOL BRASILEIRO E OS LIMITES DO FUTEBOL PROFISSIONAL
por Luis Filipe Chateaubriand
Em relação ao calendário do futebol brasileiro, pode-se afirmar que é necessário criar um modelo de agendamento dos jogos que contemple 128 clubes de futebol no Brasil, jogando a temporada inteira.
Mais do que 128 clubes jogando a temporada inteira é inviável, pois clubes de porte menor, quanto mais jogam, mais dinheiro perdem.
Menos do que 128 clubes jogando a temporada inteira é desperdício, geraria desemprego de jogadores de futebol e de toda a cadeia produtiva do futebol desnecessariamente.
O “número mágico” de clubes de futebol, no Brasil, que deve jogar ao longo de toda a temporada é, assim, de 128 clubes.
Entre os 128 clubes eleitos, há os grandes, que jogam muito, mais do que devem.
Entre os 128 clubes eleitos, há os pequenos, que jogam pouco, menos do que devem.
Fazer com que clubes grandes joguem menos, e com que clubes de menor investimento joguem mais, é imperativo.
Isso pode ser obtido com os 128 clubes jogando as divisões do Campeonato Brasileiro a temporada toda, cumprindo objetivos palpáveis em relação à divisão que disputem.
Clube grande jogando menos significa menos lesões, melhor qualidade do jogo e redução de gastos operacionais, pois se elimina os jogos deficitários.
Clube de investimento moderno jogando mais significa fluxo de caixa ao longo de toda a temporada, empregos na cadeia produtiva do futebol também ao longo de toda a temporada e maior chance de exposição desses clubes.
Nem mais, nem menos.
Para 128 clubes do Brasil, calendário ao longo da temporada inteira é a solução!
MARCAS ESPORTIVAS NO FUTEBOL – 2024 – 2025
por Idel Halfen
Baseado na 11ª edição – temporada 2024-2025 – do estudo elaborado pela Jambo Sport Business acerca das marcas que vestem os clubes da 1ª divisão de 20 principais países, apresentamos a seguir alguns pontos dignos de destaque, lembrando que o estudo pode ser acessado através do link https://www.linkedin.com/posts/halfen_marcas-esportivas-nas-ligas-mais-valiosas-activity-7236310772581056512-PIQP?utm_source=share&utm_medium=member_desktop
Ao todo foram analisados 380 times – um a menos do que na temporada anterior – e sessenta e cinco marcas, considerando a Jordan como Nike e agrupando todas as marcas próprias em uma. Vale notar que cinco times estão sem fornecedor de material esportivo e trinta e nove vestindo uniformes de fornecedores diferentes dos que usaram na temporada passada.
O acréscimo de cinco times manteve a Adidas na liderança, dentre as equipes que passaram a vestir a marca alemã, as mais representativas são: Aston Villa e Newcastle (ambos ex-Castore). Outro fato positivo foi a conquista da liderança isolada entre os 30 clubes mais ricos.
Na Nike, a perda de duas equipes não foi suficiente para ameaçar sua vice-liderança. Entre as perdas destacam-se as do RB Leipzig e do Galatasaray, que passaram a usar uniformes da Puma. Já o Toulouse, ex-Craft, passou a usar Nike.
A Puma se manteve na 3ª posição, agora com sete times a mais do que na temporada passada, diminuindo assim sua diferença para a Nike. Vale mencionar que passou a ser a marca líder quando se considera o somatório dos times das cinco principais ligas. As conquistas do RB Leipzig e do Galatasaray, ambos ex-Nike, como citado acima, são indícios de uma atuação mais agressiva.
Foi identificado um movimento em relação às marcas próprias, que vale ser observado mais de perto. Além da diminuição da quantidade delas na série B do campeonato brasileiro (de sete para cinco), vimos também uma diminuição na série A, o que se deveu principalmente à mudança ocorrida no Fortaleza, o qual trocou sua marca própria a Leão 1918 pela brasileira Volt. Esse movimento, caso se confirme, não significa que as marcas globais voltariam a aportar verba nesse formato de patrocínio. Na verdade, mais parece uma tentativa das marcas regionais se estabelecerem nesse mercado.
Na segmentação que se restringe à análise das 30 equipes que mais faturaram, vemos a Adidas voltar à liderança de forma isolada. Esse corte é um bom indicativo do esforço e capacidade de investimento das marcas, pois, em tese, tais times possuem maior poder de barganha e exigem das marcas melhores condições contratuais.
Quando se foca apenas os clubes que atuam nas cinco ligas mais valiosas: Premier League (Inglaterra), Bundesliga (Alemanha), La Liga (Espanha), Serie A (Itália) e Ligue 1 (França) – a principal mudança se deu na liderança, onde a Puma, pela primeira vez desde que o estudo é realizado assumiu a posição ao desbancar a Nike.
Já entre os times que compõem a amostra europeia – treze campeonatos – a Nike, como vem acontecendo desde a 1ª edição do estudo, se manteve na liderança, porém, agora empatada com a Puma, que acrescentou oito times ao seu portfólio.
Na América do Sul, que contempla três países no estudo, a Adidas é a marca mais presente pela terceira temporada consecutiva. Vale notar que se reuníssemos todas as marcas próprias em apenas uma, essa ocuparia a 4ª posição de forma isolada.
Considerando apenas o Brasil, a marca das três tiras também é líder ao vestir quatro times. Dos vinte clubes no campeonato brasileiro, treze vestem marcas globais, três próprias, três regionais e um está sem fornecedor.
Não houve alteração no que tange ao fornecimento das seleções, todavia, segundo especulações, a partir de 2025 ocorrerão mudanças em seleções tradicionais.