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LE COQ SPORTIF – COMO VIRAR O JOGO?

por Idel Halfen

Quem assistiu aos Jogos Olímpicos de Paris 2024 e ficou atento aos fornecedores de material esportivo, percebeu que todos os atletas franceses vestiam uniformes da Le Coq Sportf nas cerimônias de premiação e alguns também o faziam nas competições de modalidades, como voleibol, hockey e rugby, por exemplo. Um investimento de tal magnitude certamente envolveu cifras significativas, daí ter causado estranheza para muitos a notícia de que a marca francesa, fundada em 1882 e agora controlada pela Airesis, – gestora suíça de private equity -, anunciou que entrou em recuperação judicial. Todavia, para quem acompanha a evolução dos resultados das marcas esportivas, a notícia já era esperada diante dos sucessivos prejuízos registrados, as dívidas acumuladas e as dificuldades de fluxo de caixa.

Antes de passarmos às causas que contribuíram para que a empresa chegasse nesse ponto, vale narrar que no seu histórico a marca já foi controlada pela adidas e esteve presente em eventos como Tour de France, além de uniformes de atletas como os tenistas Yannick Noah e Artur Asche, o ciclista Bernard Hinault e times como o Fluminense e as seleções vencedoras das Copas do Mundo em 1982 e 1986 – Itália e Argentina.

Mas vamos à análise sobre a gestão da Le Coq Sportif.

O fato de terem optado por produzir na França, embora, de alguma forma fortaleça a imagem do país, fez com que os custos ficassem mais elevados, o que, evidentemente, deixou seus produtos menos competitivos quando comparados às marcas globais. Daí derivou-se para a forte dependência em relação ao mercado doméstico, limitando assim a capacidade de geração de receitas.

Podemos ainda incluir entre as causas, uma menor atenção ao consumidor final, o que trouxe prejuízo à renovação de clientes e à fidelidade dos remanescentes.

A falta de uma proposta de valor mais clara, prejudicou o posicionamento, deixando-a oscilando entre ser uma marca de lifestyle (moda casual) e esportiva de alto rendimento. 

A própria qualidade dos produtos também foi afetada, fruto dos baixos investimentos em inovação e tecnologia, postura diametralmente oposta a dos seus concorrentes.

No que tange à comunicação, a marca não acompanhou as mudanças que deixaram o digital como ferramenta de extrema importância para atingimento do público jovem, além do que, muitas das iniciativas de patrocínio tentaram remeter aos sucessos do passado, o que nem sempre é possível quando se fala para públicos diferentes.

Por fim, ainda que a logo remeta a uma marca icônica, o design das peças careceu de uma identidade visual mais atraente.

A correção desses pontos, evidentemente, não é garantia de reversão, mesmo porque as falhas citadas vieram desacompanhadas de soluções. Não basta simplesmente admitir que a identidade visual das peças não estava atraente, é preciso encontrar uma que seja. Da mesma forma que não adianta falar em tecnologia, se essa não for inovadora o suficiente.

A recuperação judicial permitirá a empresa respirar, ainda que por aparelhos e, quem sabe, permita sair desse mau momento como Texaco, GM e Apple, por exemplo saíram, mas para que isso aconteça, uma boa gestão de marketing será mandatória.

FOME DE TÍTULOS

por Elso Venâncio

No Fla-Flu decisivo do Campeonato Estadual, o Flamengo buscou o gol até o fim, mesmo necessitando apenas do empate para ser bicampeão. Sua forma corajosa de jogar é incomum há algum tempo no futebol brasileiro, principalmente com um clube tendo a vantagem de dois resultados numa final. O elenco rubro-negro é o melhor do América? Sim! Mas, à exceção do português Jorge Jesus, os treinadores se preocupavam demais com a marcação, fosse por não conhecerem o Flamengo, por terem medo de perder o emprego ou por gostarem de uma retranca.

O mestre de FIlipe Luis é Jorge Jesus. Isso ajuda a explicar o estilo de jogo intenso do atual Flamengo, pressionando o adversário em seu campo, adiantando o meio. Até o goleiro fica atento para jogar com os pés fora da área. Com fome de conquistas, o treinador rubro-negro consegue começar a carreira tendo mais títulos do que derrotas. Tem se mostrado um técnico atualizado, ambicioso e sincero nas declarações. “É difícil ganhar da gente”, declarou após o título.

Depois de ter conquistado a Copa Rio sub-17 e o Campeonato Mundial sub-20, Filipe Luis traça um ótimo início no comando do time profissional. Em 27 jogos, faturou quatro troféus, com retrospecto de 19 vitórias, sete empates e só uma derrota. Suas conquistas foram da Copa do Brasil, da Supercopa e do Campeonato Carioca, além da Taça Guanabara, que também é um título oficial. Inclusive, a Taça Guanabara tem o Flamengo como único tetracampeão (em 1978, 1979, 1980 e 1981), com o maior time da sua história, liderado por Zico.

Um profissional que faz sucesso num clube de massa como o Flamengo é naturalmente lembrado para a Seleção Brasileira, que atualmente não convence nas Eliminatórias da Copa do Mundo. Hoje na quinta colocação, o Brasil de Dorival Júnior terá dois jogos fundamentais: contra a Colômbia, na próxima quinta-feira (20), em Brasília, e a Argentina, atual campeã do mundo, dia 27, em Buenos Aires. O torcedor continua distante e descrente da Seleção, saudoso das formações que jogavam no ataque, vencendo e convencendo.

Após o recente título estadual do Flamengo, dois momentos foram marcantes. Em um deles, o ídolo maior, Zico, reverenciou o atual elenco ao entregar e erguer o troféu, que leva o seu nome. Também é emocionante um vídeo que viralizou nas redes, com o grande benemérito rubro-negro George Helal chorando em frente à TV, aos 93 anos, enquanto vibrava com mais um título. Ex-presidente do Flamengo, ele foi quem apoiou e apostou na formação profissional de Zico. Além disso, adquiriu o terreno em Vargem Grande onde se construiu o Ninho do Urubu, que oficialmente (e merecidamente) leva o seu nome. Foi uma aquisição visionária, no início dos anos 1980, por Cr$ 300.000.000,00 (trezentos milhões de cruzeiros), possibilitando ao clube ter hoje o seu centro de treinamento.

NEM SEMPRE ZICO ACERTA

por Luis Filipe Chateaubriand

Este signatário é um grande admirador de Arthur Antunes Coimbra, o Zico. Mas não concorda com tudo que ele diz.

Em um evento em Campinas, há poucos dias, o “Galinho” afirmou que o principal problema do futebol brasileiro era o excesso de jogadores estrangeiros atuando no país.

Curioso que, quando foi jogar na Itália para ganhar muito dinheiro, não reclamou.
Curioso que, quando foi jogar no Japão para ganhar muito dinheiro, não reclamou.

Na América do Sul, a economia brasileira é muito forte. Apenas as economias uruguaia e chilena são comparáveis. Assim, é natural que os clubes brasileiros busquem jogadores sul-americanos, pagando preços acessíveis e oferecendo salários competitivos. Trata-se de uma boa relação custo-benefício, indubitavelmente.

Além disso, Zico tem razão ao dizer que os bons jogadores formados na base não são mais aproveitados, mas por outro motivo. Os clubes continuam formando talentos, porém, os melhores são transferidos para o futebol europeu cada vez mais jovens, desfalcando os times brasileiros.

Os “gringos” que jogam aqui não são culpados…

Por fim, o futebol inglês é um exemplo claro de que a grande quantidade de jogadores estrangeiros melhora o nível do jogo local. As seleções inglesas, em diversas categorias, têm elevado seu desempenho.

Zico precisa se convencer de que, entre os inúmeros problemas do nosso futebol, a presença de jogadores estrangeiros não é, nem de longe, o maior.

Problemas sérios são o calendário e a disfuncionalidade da liga, nessa ordem.

O resto é “conversa para boi dormir”.

FLA X FLU: ONDE A CORUJA DORME

por Paulo-Roberto Andel

Num campeonato vapt-vupt que poderia ter sido muito melhor se houvesse vontade política, chega a hora do capítulo final em dois episódios, nesta quarta e no próximo domingo: a grande decisão. E como de praxe nos últimos anos, vai ter Fla x Flu.

É curiosa essa repetição de finais com o clássico imortal, até porque ela sucede uma seca: desde o apoteótico título do Centenário em 1995, que o mundo inteiro conhece por “gol de barriga”, uma nova decisão entre Flamengo e Fluminense só voltou a acontecer 22 anos depois, em 2017.

Então é isso: lá vem o Fla x Flu cheio de histórias, lembranças e referências. O jogo que nunca termina, a paixão que se renova há mais de um século, o clássico que é o maior do Brasil por se distinguir de todos os outros num detalhe de nascença: nenhum outro clube do país tem a relação umbilical que o Flamengo tem com o Fluminense. O adversário que é mais do que um rival, mas um membro da mesma família, que compartilha a mesma mesa. Uma história tão fascinante que só um gênio como o tricolor Nelson Rodrigues poderia defini-los: os irmãos Karamazov do futebol brasileiro, baseado no romance de Dostoiévski que, para ninguém menos do que Sigmund Freud, é o maior romance de toda a história.

Como quase sempre acontece, boa parte da imprensa esportiva crava o Flamengo como favorito, o que muitas vezes já foi bom para o Fluminense, que predomina nas decisões de títulos. Mas a verdade é que, independentemente de elencos e craques, os dois times entram em campo com quase 113 anos de história nas costas. É claro que a qualidade técnica conta, mas ela não é a única variável na decisão de um campeonato. E no Fla x Flu tudo pode acontecer, de jogadas espetaculares a gols no último minuto e até de barriga, desde os tempos das ruas Guanabara e Paissandu, passando pelo 1941 na Gávea e desaguando no terreiro imortal do Maracanã.

E tome Barthô, Valido, Domingos da Guia, Batatais, Dida, Didi, Castilho, Evaristo, Gerson, Waldo e mais dezenas e de nomes que escreveram a história do Fla x Flu. Tome Edinho, Pintinho e Rivellino contra Júnior, Zico e Tita. Nunes fez gols pros dois lados, Cláudio Adão também, Renato Gaúcho também, mas… deixa pra lá.

A cidade vai parar. O Rio vai ficar de olhos arregalados. Nos camarotes do céu, Adílio vai abraçar Assis e Washington, Cláudio Coutinho vai rir com Seu Pinheiro e muita gente boa vai lembrar os melhores anos de suas vidas na Terra. Aqui embaixo nós, pobres mortais, ficaremos de olhos e ouvidos atentos ao jogo que, de tão rico em história, nasceu 40 minutos antes do nada.

Na arquibancada a gente já sabe: nós de um lado, eles do outro. A gente sabe do que eles são capazes e a recíproca é verdadeira. Tem muito grito, canto e celebração, mas em alguns momentos vai ter até silêncio, típico de adversários que pavimentaram o futebol brasileiro e sabem do respeito que merecem.

Dois times, um roteiro de cinema e a briga pelo título: somente um vencerá. O que tiver de ser, será. Mas aí é a hora de me intrometer como parte minúscula dessa história: o Flamengo é um gigante, mas na hora da decisão o Fluminense vira Mike Tyson e Muhammad Ali numa só pessoa. Por isso, com todo respeito ao adversário, eu confio no que meu coração tem visto há mais de meio século. Portanto, dá Flu. E se não der, azar dos fatos.

Que venha a grande decisão! Viva o Fla x Flu!

@p.r.andel

A MAGIA DO FLA-FLU

por Marcos Vinicius Cabral

Pode ser que o Gre-Nal seja o clássico de maior rivalidade no futebol brasileiro. Talvez o Ba-Vi, o mais apimentado. Grandes são as chances do clássico mineiro entre Atlético e Cruzeiro arrastar multidões aos estádios e o Derby Paulista mexer com as emoções afloradas de torcedores apaixonados. Pode ser.

A única confirmação que tenho, desculpem-me os paulistas, os mineiros, os gaúchos e os baianos, é que nada se compara ao Fla-Flu. Incomparável a ponto de Nelson Rodrigues (1912-1980) dizer que o confronto “surgiu quarenta minutos antes do nada.”

Fla-Flu de sonhos e pesadelos. De paixão e ódio. De heróis improváveis e de gols inesquecíveis. Fla-Flu foi, é, e sempre será o maior clássico do futebol brasileiro.

Fla-Flu que, naquele domingo, 7 de julho de 1912, na Rua Guanabara, nas Laranjeiras, deu início ao que chamamos de “rivalidade” e que vai completar 113 anos neste 2025.

Fla-Flu de jogos históricos. De craques como Carlos Alberto Torres, Edinho, Rivellino e Paulo Cézar Caju, lá. De Leandro, Junior, Andrade e Tita, cá.

E cá entre nós: Fla-Flu dos ídolos, dos mais conhecidos aos menos falados.

Fla-Flu de Zico, maior artilheiro da história do clássico em competições oficiais, com 14 gols marcados entre 1974 e 1989. De Hércules pelo Tricolor, que fez 14, ou do inglês Henry Welfare (1888-1966), o estrangeiro com mais gols no duelo: sete!

Fla-Flu, ah, Fla-Flu… mil vezes Fla-Flus! Jogo que me fez chorar em dezembro de 1989, quando Zico – sempre ele! – no Estádio Municipal de Juiz de Fora, pelo Campeonato Brasileiro, mandou na gaveta de Ricardo Pinto naquele 5 a 0.

E me fez sorrir, três anos antes. Era estreia de Sócrates pelo Flamengo, e Zico ouvia a torcida tricolor gritar “Bichado!, Bichado!, Bichado!”, na arquibancada do Maracanã. O resultado foi um hat-trick do Galinho. Bebeto fechou a goleada. O Magrão sorriu também.

Seria preciso um texto inteiro para citar todos os Fla-Flus inesquecíveis na minha vida. Nele, lágrimas de alegria como no gol de Leandro marcado aos 45 minutos, em 85. E no Fla-Flu do final do Carioca, em 91, aula de Junior. Mas teve lágrimas de tristeza, pelos gols de Assis em 83 e 84.

Mas seria necessário escrever tanto para tanta gente boa de bola. Escrever sobre os Adrianos, Assis, Castilhos, Didas, Ézios, Gersons, Pinheiros, Renatos Gaúchos, Romários, Zagallos e demais craques que ajudaram a escrever essa história.

Fla-Flu da Máquina Tricolor de um lado, que dominou o futebol carioca na década de 1970. Do outro, o Fla-Flu de Zico e companhia que levaram o Mais Querido ao topo do mundo, em 1981.

Fla-Flu que não faltaram confrontos memoráveis. Um deles é o mítico Fla-Flu da Lagoa de 41. Outro é o inesquecível gol de barriga de Renato Gaúcho no centenário do Flamengo. Um mais recente que me veio à mente é o da intervenção do “Sobrenatural de Almeida” no pênalti cobrado por Cássio na final da Taça Guanabara de 2001.

A história do clássico continua a ser escrita, ano a ano, em uma rivalidade mais que centenária, que começou 40 minutos antes do nada.