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CHAMPIONS LIGAY

A equipe do Museu da Pelada marcou presença no animado sorteio dos grupos da 1ª edição da Champions Ligay, o inédito Campeonato Brasileiro de Futebol Gay, que acontece amanhã, no Complexo Esportivo Rio Sport Center, na Barra da Tijuca. Quem nos ajudou a contar essa história foi Bárvarah Pah, a mestre de cerimônia e nossa repórter por um dia.


Tudo começou em maio deste ano com uma pelada no Só 5 – Futebol Sem Parar, em Botafogo. A cada semana, o grupo dobrava e o organizador André Machado, do BeesCats, viu que era a hora de promover um torneio.

– O nosso grupo é bem heterogêneo e o mais importante é o respeito que temos um pelo outro. Tem um pessoal que não gosta de jogar, mas está sempre aqui assistindo. É proibido brigar – explicou o “capitão” André Machado. 

Com o intuito de quebrar preconceitos e mostrar que não há distinção para a prática do esporte mais popular do Brasil, a competição vai das 13h às 19h e vai reunir oito times de diferentes cidades: Beescats e Alligaytors (RJ), Futeboys e Unicorns (SP), Bharbixas (BH), Bravus (DF), Magia (RS) e Sereyos (SC). A expectativa é que 600 pessoas compareçam ao torneio e assistam ao campeonato.


Vale destacar que depois das partidas haverá uma premiação e os organizadores vão promover uma grande festa, a partir das 20h, com direito a show do grupo Candybloco, praça de alimentação, pista de dança, performances musicais de drag queens, DJs, entre outras atrações.

O ingresso para a festa de encerramento custa R$ 30,00 e deve ser adquirido pelo site https://goo.gl/tV1NVM ou pelo telefone e Whatsapp (21) 99801-2211. 

– Apesar de ser um campeonato de futebol envolvendo times gays, o evento é para todos, sem distinção! – ressaltou André Machado.

SERVIÇO

Champions LiGay – 1ª Edição

Quando: 25 de novembro de 2017


Horário: Campeonato das 13h às 19h. Festa das 19h à 1h

Onde: Rio Sport – Av. Ayrton Senna, 2541 – Barra da Tijuca, Rio de Janeiro

Ingressos: Gratuita entrada para o campeonato das 12 hs às 19hs. 
Festa de encerramento: a partir das 20 hs, valor inicial de R$30,00 (1º lote). R$40,00 (2º lote) e R$50,00 (no dia)

Redes sociais: @ligaybr e https://www.facebook.com/events/114852155891744/?ti=cl

 

GEOVANI E ADÍLIO

por Rubens Lemos


Quando o tema é meio-campo, nem pensar em meio-termo. Os retranqueiros do Brasil assassinaram o sarau literário de um time de futebol. A estrada por onde enchemos os olhos do mundo com luminosos craques e arquitetos, planejadores e cérebros de uma partida de futebol.

Me causa tanto desânimo o futebol patropi que voltei ao redemoinho dos anos 1980. Da minha década. Do meu tempo. Do brilho dos jogos a cada trama de categoria e talento criativo. Fixei minha saudade em dois exemplares preciosos do dom de fazer feliz um amante da arte sepultada: Geovani, camisa 8 do Vasco, Adílio, camisa 8 do Flamengo.

Geovani e Adílio nunca disputaram Copas do Mundo. São dois injustiçados incríveis. Geovani poderia ter ido em 1986 e em seu lugar jogou Alemão. Geovani seria o titular mais aclamado em 1990, na insossa equipe de Sebastião Lazaroni e não viajou para a Itália. Alemão novamente, com Tita aos pedaços na reserva, foram convocados.


Adílio surgiu com a morte de outro solista, Geraldo Assobiador, de choque anafilático em operação para retirada de amígdalas. Adílio, juvenil nascido na Cruzada São Sebastião, conjunto de apartamentos para pobres, criado por Dom Hélder Câmara em plena área nobre do Rio de Janeiro, foi o companheiro perfeito de Zico.

Adílio de Oliveira Gonçalves era o típico carioca de morro. Negro, pernas arqueadas, andar gingado, malabarista com a bola. Criava no meio-campo e, se o treinador quisesse, driblava até a sombra de Nelson Rodrigues, deslocado para a ponta-esquerda. Teria vaga em 1978, seguiram Chicão e Batista, em 1982, na vaga de Renato Pé-Murcho, do São Paulo. Adílio jogou uma só partida pela seleção brasileira, em março de 1982 e foi excepcional diante de 150.289 pagantes.

Deu o passe medido para Júnior fazer o gol da vitória de 1×0 sobre a Alemanha Ocidental. É ela sim, a Alemanha que hoje põe na roda os pernas-de-pau de camisa amarela. Recebeu nota 10 da imprensa e Telê Santana o preteriu. Adílio também tinha vaga em 1986, Copa do Mundo em que foram passear Valdo e o falecido Edivaldo.


Geovani ganhou o Mundial de Juniores de 1983 pela seleção brasileira sub-20. Foi artilheiro e melhor jogador. Nasceu no tempo errado. Deveria ter surgido antes. A síndrome dos brucutus se alastrava e o seu estilo elegante, cadenciado, imperial na armação de jogadas era considerado lento e em desuso.

Geovani foi o jogador que conquistou o maior número de títulos cariocas pelo Vasco juntamente com Roberto Dinamite: Foram cinco, todos vencendo ao Flamengo. Geovani foi o melhor jogador das Olimpíadas de Seul em 1988. Tomou um cartão amarelo na semifinal contra a Alemanha (coincidência lamentável) e o Brasil perdeu a final contra a URSS. Neto ocupou o seu lugar e nada fez.

O capixaba Geovani foi o melhor jogador da América do Sul em 1988 e em 1989, venceu a Copa América pela seleção de Lazaroni, já na reserva, vítima do esquema de cinco zagueiros e menos um inteligente no meio e sobrou da lista porque Lazaroni tinha um compromisso de camaradagem com o seu “compadre” Tita.


Nos jogos entre Vasco e Flamengo na década de 1980, Geovani e Adílio coadjuvavam, ainda que tão brilhantes quanto às estrelas. A Geovani, Romário deve muitos dos seus gols, recebendo livre na área lançamentos de 40 metros, fita métrica na chuteira do Pequeno Príncipe, assim batizado o regente cruzmaltino.

Adílio destruía adversários quando Zico era anulado por três marcadores. Até dois ele resolvia fácil, fácil. Adílio, tendo mais atrás Andrade, ritmava o sensacional Flamengo campeão da Libertadores e do Mundial Interclubes de 1981.

Geovani e Adílio se respeitavam. Geovani, embora mais novo, aparentava a maturidade de um Gerson, mais toque e passes longos do que rapidez. Raciocínio genial na antevisão dos lances. Adílio, manhoso, balançava o corpo e se sobrepunha a qualquer marcador, desnorteado com tanta beleza afro-carioca.

Geovani e Adílio, observando emocionado o velho jogo – tenho muitos no acervo para me encantar mais adiante , pouco se encontravam, nunca trombavam um no outro. Eram clássicos, sutis, desconcertantes. Eles pensavam, traziam do ventre de suas mães, a intelectualidade boleira que desapareceu para sempre.

Geovani e Adílio jogavam num tempo de sábios: Havia Sócrates, Pita, Zenon, Delei, Silas, Mário Sérgio em fase vinho puro, Raí começando. Sobravam virtudes.

Lamentáveis do baixo nível atual, naquele tempo, com muito esforço, disputariam a quarta divisão de Ariquemes em Rondônia. Meninos de hoje, se vocês tivessem visto Geovani e Adílio, falar em Renato Augusto, Lucas Lima, seria blasfêmia. Penso em Geovani e Adílio. Com saudade e revanche.

FUTEBOL MECÂNICO

por Walter Duarte


Dia desses, em uma dessas intermináveis resenhas no “escritório” (bar do Vicente), debatemos sobre os talentos do futebol cada vez mais raros, apesar de toda estrutura disponível e campos sintéticos espalhado país a fora e as famosas “escolinhas”. Aliás, é um tema recorrente nos dias de hoje, onde a quantidade de jogadores revelados e com muito mercado não traduz necessariamente em qualidade, pelo menos para aqueles que entendem o futebol como uma arte, além do esporte.

Saudosismos à parte, falamos sobre o Zico, PC Caju, Adílio, Didi, Amarildo, Rivelino, Maradona, Pelé e tantos outros craques, como exemplos de jogadores diferenciados e que pensavam o jogo com muita classe. Muitas destas feras começaram seus primeiros dribles e passes, certamente, nas ruas de terra e campos de várzea em uma época em que a cada esquina deparávamos com um campinho de futebol.


Não poderia afirmar categoricamente que fatores genéticos e sociais determinam a formação do craque, ou pelo menos facilita, entendendo que a maioria deles têm origens humildes e enxergam o futebol como possibilidade de melhores dias, diante de um contexto de exclusão social. Acho, porém que algum estudioso das ciências sociais ou da Antropologia deverá ter alguma tese sobre o tema (quem sabe??) e tecer comentários mais fundamentados, longe da mesa de bar.

Pois bem, o bate papo se desenvolvia e colocávamos novas questões à mesa e o objeto da nossa resenha começou a derivar ou “viajar” para outras vertentes e todo mundo se sentindo um pouco dono da verdade. Certamente o craque não se fabrica em laboratório, ou se PROCESSA numa fábrica como um sorvete, apesar de podermos aperfeiçoar o talento com técnicas já conhecidas pelos “professores”, onde a parte física, e mecânica do jogador (movimentos repetitivos) são exploradas à exaustão.

Me veio em mente um paralelo com organização científica do trabalho, iniciada lá no início do século passado (Taylorismo e Fordismo) que promoveram mudanças significativas na produção industrial, diante das necessidades cada vez maiores de consumo de países do primeiro mundo e, por conseguinte, maximizar o lucro. Sem nenhuma conotação política e ideológica imagino que com a passar do tempo e com as “novas“ estratégias de jogo, as pressões de não perder dinheiro, bem como o mercantilismo do futebol, fizeram o jogador a se“despersonalizar”, e corromper sua criatividade, tal como o trabalhador das fábricas de automóveis na linha de produção em seus movimentos repetitivos e cadenciados.


Ao se mecanizar e acreditar que é apenas um dente da engrenagem, o jogador, em tese, perderia aquilo que é mais instintivo e natural, ou seja, a essência do futebol “moleque”, tal como um trabalhador robotizado no seu modo operatório. Ao final dessa teoria maluca muitos devem estar pensando – esse cara está inventando moda, suspende o chopp dele!!!

Chegamos a algumas conclusões um pouco alinhadas e de senso comum, e parafraseando o mestre e craque PC Caju (me permita Caju!!!), “engessaram a nossa arte”, motivo de entender aquele filme clássico do Charles Chaplin “ Tempos Modernos”, que antevia os efeitos da divisão do trabalho intelectual e de quem realmente executa, ou seja,  o jogador, que poderia induzir a alienação…


Imaginemos Garrincha, o próprio Neymar ou Messi inibidos a apresentar dos seus instintos criativos, do imponderável não combinados nas frias táticas de jogo. Até mesmo a temida Laranja Mecânica (Holanda de 74) tinha algo de especial, e por que não dizer anárquico para conduzir aquela permutação contínua e irresistível em campo sem posições definidas. O futebol mecânico e pouco criativo,me parece ter origens na praticidade e na imposição de produtividade, sem nenhum pudor e compromissos com o encantamento. A estatística de jogo tornou-se uma grande ferramenta de avaliação de performance (não se pode excluí-la), porém virou quase que uma compulsão por números.

As seleções de 70 e 82 representaram uma MAGIA e algo que me parece intangível nos dias de hoje, tornando o clássico futebol brasileiro uma UTOPIA para os europeus, e a algum tempo copiado. É claro que grandes treinadores como Guardiola e outros com a mente mais arejada e que possuem talentos “a peso de ouro”, conseguem adaptar um estilo mais solto e de toque de bola, sobrepujando as retrancas jogando bonito.

Sem a menor pretensão de encerrar o assunto tão complexo para nós pobres mortais e “palpiteiros da bola”, repasso uma questão para vocês: o futebol mecânico, previsível, com ênfase na parte física, e de“resultado” é a nossa realidade??? Com certeza a polêmica alimentará nosso imaginário, pelo sonho do futebol que minha geração aprendeu a amar.

 

ALEMÃO, CRAQUE À FLOR DA PELE PELO FOGÃO

por André Felipe de Lima


Acostumado a grandes ídolos em seus times ao longo dos anos, o botafoguense viveu um angustiante começo de 1983. Deixara o clube Mendonça. Era ele o ícone de uma geração de craques alvinegra que tentava a todo custo acabar com tortuoso jejum de títulos que perdurava desde 1968. Quem recuperaria o único brilho daquele time? Questionava-se a torcida. Em março daquele ano, enfim a resposta: Alemão.

O ex-volante Ricardo Rogério de Brito, o “Alemão”, nasceu em Lavras, Minas Gerais, no dia 22 de novembro de 1961. Foi o pai quem lhe dera o apelido com o qual se consagraria no futebol mundial.

Pobres, morando em um casebre, ele os quatro irmãos ajudavam a família da forma que podiam. Como ajudante de pintor, cansou-se de ser explorado e começou a trabalhar por conta própria. Trabalhava bastante, mas em duas frentes. Se ganhava o pão, ora como engraxate, ora como garçom, por que não reservar tempo para a bola também? Sem vacilar, um intrépido rapaz tentaria a sorte no futebol.

O começo, em 1979, no Fabril Esporte Clube, time de sua cidade natal, foi tímido. Afinal, era jovem e o clube, pequeno, não lhe abriria um horizonte promissor. Decidira que seu destino seria outro: “Mãe, estou indo para o Rio de Janeiro jogar bola, ganhar dinheiro e lhe comprar uma casa”.

Em pleno carnaval de fevereiro de 1980, o rapaz, de apenas 18 anos, aceitara o convite de um olheiro para um teste no Botafogo do Rio. Foi aprovado. Poderia ter, no entanto, largado o sonho para trás. Afinal, não foi fácil os primeiros meses no clube, cuja sede era no suburbano e distante bairro Marechal Hermes.

O calor era incomum e os mosquitos, seus algozes. Faltavam roupas de cama e até comida na concentração. O Botafogo era um simulacro do glorioso do passado.
Alemão sofrera humilhações que por pouco não o fizeram largar tudo e voltar para Lavras.

Uma vez teve de operar o rosto no Hospital Miguel Couto, na zona sul da cidade. Após receber alta dos médicos, voltou sozinho para a longínqua concentração de Marechal Hermes, sem dinheiro, como pingente em um trem.

Outra história dimensiona a triste situação do Botafogo naquela época: Alemão estava sem treinar por conta de uma forte gripe. Pedira a um diretor uma pequena quantia para o ônibus. O camarada sovina negou-lhe o dinheiro.

As coisas só melhoraram para Alemão em 1981, quando, enfim, conseguira estrear entre os profissionais em um amistoso contra o Fluminense de Feira de Santana.
Félix, o goleiro do “tri” mundial no México e técnico interino do Botafogo, mandou que se aquecesse. Alemão teria de entrar no lugar do ídolo Mendonça.

Tremeu, mas entrou em campo. Ali, começara a trajetória que o faria ídolo daqui e, anos depois, na Europa.


Após a estreia, demoraria um pouco para firmar-se como titular. Quando Jorge Vieira assumiu o time, manteve-o na reserva. A oportunidade veio com Ernesto Guedes. E com ela, o sucesso imediato. Alemão não deixaria mais o time titular e seus contratos passaram a ser os mais valorizados do elenco.

Mas Alemão estava escolado. Ainda lhe estavam vivos na memória os infortúnios que vivera na concentração de Marechal Hermes anos antes de assumir o posto de ídolo deixado por Mendonça. Tinha, portanto, os pés no chão. “Não vou ser um novo Mendonça. Se as coisas um dia virarem, eu saberei o momento certo de deixar o clube. Evitarei humilhações. Mendonça, coitado, queimou sua imagem por amor ao Botafogo”. E as “coisas”, infelizmente, “viraram”.

Em março de 1984, o Botafogo devia a Deus e ao mundo. A crise econômica iniciada no final dos anos de 1970 parecia ter chegado ao ápice. O técnico na época era Didi. Ele mesmo, o mestre Didi. Os jogadores, que há meses não viam a cor do salário, só não pararam de jogar por respeito ao ídolo dos anos de 1950 e 60.

Um empréstimo ali, outro acolá e os caras iam vivendo aos trancos e barrancos.
Como tirar o Botafogo de um jejum de títulos sob aquelas condições? Alemão estava cansado e sem contrato. Deixar o Botafogo seria sua salvação. Quitaria dívidas e jogaria com mais segurança.

Alemão repetia Mendonça. Justamente o que não desejava. Mas seu amor pelo Botafogo prevalecera e ele, impoluto como sempre, permaneceria no clube. Até quando, ninguém sabia.

Foi no período em que esteve no Botafogo que casou com Cláudia Loureiro, filha do famoso ator e botafoguense Oswaldo Loureiro, e com ela teve a primeira filha, Carolina.

Tinha de promover uma reviravolta em sua vida para não deixar a família na mão. O Botafogo, por sua vez, esforçava-se para mantê-lo. Ou, pelo menos, alguns verdadeiramente preocupados botafoguenses. Conseguiram um empréstimo vultoso [100 milhões de cruzeiros] para quitar as dívidas com as estrelas do time, principalmente com Alemão.

Mas como resistir ao assédio dos clubes europeus? Alemão encontrou Falcão no Maracanã e este lhe disse que o empresário Roberto Rosselini, o mesmo que encaminhara o próprio Falcão para o futebol italiano, tentava levá-lo para a Itália ou Inglaterra. Uma transferência que salvaria o combalido Botafogo e o vazio cofre do clube. Far-se-ia justiça ao futebol de Alemão. Um craque… mas à flor da pele.

ÍDOLO SOB UM ATAQUE DE NERVOS

No dia 10 de novembro de 1985, o Botafogo perdeu para o Vasco [gol de Roberto Dinamite] e Alemão, a cabeça.

O craque enfureceu-se com o juiz Wilson Carlos dos Santos e o empurrou. Em julgamento de três horas, no dia 19, o Tribunal de Justiça Desportiva da Federação de Futebol do Rio de Janeiro, que poderia ter aplicado uma pena pesadíssima, de seis meses a um ano fora dos gramados, optou por apenas quatro jogos de suspensão.

Alemão estava uma pilha de nervos. Até reconhecia seu lado temperamental, mas sentia-se maltratado por todos. O Botafogo queria fazê-lo feliz, mas faltava recursos ao clube. Faltava, sobretudo, jogo de cintura… e dinheiro.

Se faltava isso tudo ao Botafogo, esgotara-se a paciência de Alemão. O jogador brigara com cartolas e com dois ícones da história do Botafogo: Nílton Santos e João Saldanha. O primeiro chamou-o de mercenário, o segundo, em sua coluna no Jornal do Brasil, escreveu uma resposta a Alemão, que teria dito que o Botafogo não o merecia. Em depoimento à revista Placar, concedido em dezembro de 1985 à repórter Débora Chaves, Alemão desabafou:

“O que não aceito é a mentira, como a que espalharam por aí, partida de João Saldanha, de que eu disse que o Botafogo não me merece. Foi uma grane invenção que ele espalhou e os outros copiaram. Tudo por causa de uma notícia de que o Flamengo estava interessado em mim. Foi falta de assunto, eu jamais falaria isso porque sou consciente e não um burro. Apesar de sua má fase, foi o Botafogo que me consagrou. Afinal, o que eu tenho ganhei no clube, jogando no time que eu amo, eu me faz sofrer tanto quanto seus torcedores. As críticas de Nílton Santos — de que eu era mercenário — também me surpreenderam. Um cara que jogou só no Botafogo, que se consagrou no Botafogo, é um cara que tem um nome a zelar pelo resto da vida, histórias a contar para seus netos. Então é um cara que tem de refletir bem ao dar uma entrevista, principalmente sobre um clube que o projetou como a ‘biblioteca’… como é que eles falam? Enciclopédia do Futebol. Pois é. Ele foi outro teleguiado, tirou isso do artigo de Saldanha. Aliás, ele é desses que só falam, falam, mas não ajudam nada. Quando ele foi diretor, junto com o ex-jogador Gérson, em vez de auxiliar o presidente, tumultuava. É um cara muito coisinha. Chegava, botava seu shortinho, ficava tomando sol, ia embora, e sobre treino ou jogada, que é o que interessava, nem uma palavra. Ficava de bico calado.”

Bate-boca com ídolos do clube, casos extra-campo…. Alemão enveredara pela polêmica e tornou-se chamariz do jornalismo sensacionalista.

A notícia de que esteve preso por porte de arma atraiu curiosos pela vida alheia e desdobrou-se em uma onda de comentários maldosos.

Alemão nunca escondeu que andava com uma Bereta no porta luvas do carro para defender-se de assaltantes. Afinal, o caminho pela Avenida Brasil até Marechal Hermes sempre foi um risco para motoristas desavisados. Mas Alemão foi parado em uma blitz. Estava sem dos documentos do carro e foi levado à delegacia. Ao revistarem o carro, encontraram a arma. Segundo ele, o delegado era “botafoguense” e seu “amigo” e, por isso, o teria liberado.

A relação com o Botafogo só piorava, mesmo assim Alemão foi levando, mas sabe-se lá como conseguia. A fama de temperamental consolidara-se na imprensa, mas o que desejava era apenas que o Botafogo pagasse a ele o que devia.

Em abril de 1986, a péssima situação entre o jogador e clube parecia irreversível. Alemão estava sem contrato e sem salário desde fevereiro. A imprensa especulava que Corinthians e Vasco tentavam contratá-lo. Alemão mantinha-se discreto. “Quando eu acertar meu futuro, vou rir desse tempo de vacas magras”.

Ele permaneceu no Botafogo. Se com o Alvinegro andava às turras, não podia reclamar da bajulação na seleção brasileira do técnico Telê Santana, da qual era tido como uma das estrelas mais fulgurantes. Com atuações seguras, nenhum outro tomava-lhe a posição na meia cancha da seleção. O cartaz superara até mesmo o de bastiões como Sócrates e Zico.

O ano era de Copa do Mundo e Alemão, apesar de estar desmotivado e sem contrato com o Botafogo, não desapontou. Com o seu companheiro de clube, o lateral-direito Josimar, foi a revelação do escrete no Mundial do México.

A França eliminara o Brasil, mas a Copa do Mundo acalmou Alemão, que acreditava piamente levar o Botafogo ao tão almejado título que não via desde 1968, apesar dos salários atrasados. A intenção era boa, mas o bolso falou mais alto. A partida para o futebol Europeu mostrava-se irreversível.

Quatro meses após a Copa de 86, Alemão, que ganhava 70 mil cruzados por mês, pediu alto para renovar o contrato com o Botafogo. Queria 1,5 milhão de cruzados e 100 mil por mês. Não retiraria sequer um centavo da proposta.

Dias depois de apresentar a proposta para que renovassem seu contrato, sem que o Botafogo esboçasse o mínimo esforço para manter o ídolo, Alemão concedeu entrevista bombástica à revista Placar na qual defendeu a volta do clube para General Severiano, o que, segundo ele, seria a única forma de o clube voltar a ser grande:

“Não consigo explicar o que acontece com o Botafogo. Mas acho que, ao sairmos de General Severiano, perdemos o que tínhamos de mais importante: a tradição de um clube que só teve glória no passado […] Voltar a General Severiano seria como tirar esse azar que paira sobre nossas cabeças. Estou há sete anos aqui e falo de nossa situação com tristeza. Por isso não admito ser maltratado por pessoas da diretoria. Outro dia, Luís Affonso [dirigente das divisões inferiores] me culpou por uma derrota. Não agüentei e dei um chute nele […] Hoje, pelo menos, nós temos uma diretoria competente. O pagamento está em dia e, se eles saírem, poucos jogadores continuarão em Marechal Hermes. Ninguém vai querer ficar quatro meses sem receber salário e até ter de comer em pensão, como já ocorreu aqui. […] Tenho uma ligação afetiva muito grande com o Botafogo, mas não vai dar para renovar contrato. Antes da Copa do Mundo, fiquei quatro meses sem vínculo, ou seja, sem receber salário. Foi uma barra. […] Adoro o Botafogo, choro e vibro como o maior dos torcedores. Outro dia, ao sair do Maracanã depois de uma derrota, uma pessoa me parou, irritada, querendo saber se não me sentia envergonhado. Respondi que sim, pois era tão apaixonado pelo time quanto ele. Após um resultado negativo tenho até vergonha de sair de casa. […] As pessoas não me encaram como um cidadão comum, só enxergam o jogador, na maioria das vezes, derrotado. Poucas pessoas encaram o atleta como um ser inteligente. Ninguém me pára na rua para falar sobre política, economia ou Carnaval. É só futebol. […] Poucos sabem que sou diretor de Relações Públicas do Sindicato dos Jogadores, eu tenho idéias e planos para nossa classe.”

Alemão e o Botafogo ainda arrastaram as negociações até março de 1987. De um lado, o craque garantia que o Atlético de Madrid queria levá-lo a qualquer custo. Do outro, o vice-presidente do Botafogo, Aurito Ferreira, dizia o contrário, que ninguém apresentou oferta pelo passe do jogador e que Alemão era “inegociável”. Bobagem. Além do time espanhol, o Torino também ventilara um interesse por Alemão para que ocupasse a vaga de Júnior, que brigara com o técnico Radice.

ADEUS, BOTAFOGO

No dia 6 de março, uma sexta-feira, o cartola espanhol Vicente Calderón [que morreria duas semanas depois] consumou a transferência de Alemão para o Atlético de Madrid, em uma negociação, que embora não tenha sido revelada, teria chegado a 12 milhões de cruzados.

Mal chegara à Espanha, Alemão despertara a cobiça de clubes italianos. Sampdoria e Juventus assediavam-no com uma incomum voracidade. Os cartolas aceitariam, sem dor na consciência [e no bolso] pagar os 7,8 milhões de dólares [cerca de 1,1 bilhão de cruzados] pedidos pelo Atlético de Madrid.

Mas Alemão estava confortável no clube madrileño. Com o fim da temporada 1987/88, foi eleito, pela Rádio Exterior, de Madrid, o melhor jogador ibero-americano do campeonato. O prêmio era de encher os olhos: um Mercedes-Benz e a promessa de aumento salarial. A rede de comunicação EFE também o premiou com o título de melhor jogador sul-americano da temporada. Alemão estava com a bola toda. Reconhecimento que só reforçava as suspeitas de que clubes italianos o levariam de qualquer forma para o Calcio e antes mesmo de os dirigentes do Atlético esboçarem qualquer reação contrária.

Numa sexta-feira, dia 8 de julho, os cartolas do Napoli, onde jogavam Careca, companheiro de Alemão na Copa de 1986, e Maradona, estrela maior do futebol da época, foram à Madrid e depositaram na conta do Atlético 2,5 milhões de dólares, o equivalente a meio bilhão de cruzados. Alemão realizara, assim, o sonho de jogar no futebol italiano.

O começo no Napoli foi muito bom, mas em outubro de 1988 o jogador contraiu uma hepatite viral que o afastou dos gramados durante dois meses. A doença agravou-se e o jogador, que repousava em casa, teve de ser internado em um hospital policlínico de Nápoles. Recuperado, voltou ao time onde jogou até 1993. Lá, foi campeão da Copa da Itália [1989], italiano [1990] e da Copa da UEFA [1989].


Alemão, ao lado craques como Maradona, Careca e Carnevale, ajudou a escrever a página mais importante da história do Napoli.

Na Itália, o craque também atuou pelo Atalanta, de Bérgamo, na temporada de 1993-94. Era o fim da esplêndida passagem pelo futebol europeu.

Alemão retornou ao Brasil em 1994 para jogar pelo São Paulo comandado pelo treinador Telê Santana, que sempre demonstrou afeição por ele e, sobretudo, pelo futebol que jogava. “Foi uma volta importante. Fiz o que queria e só não parei porque recebi um convite para jogar no Volta Redonda, em 1996”. Ficou no São Paulo até o final de 1995 para ser campeão da Recopa e da Copa Conmebol, torneios disputados em 1994. Participou de 77 jogos, venceu 31, empatou 23 e marcou dois gols. E no clube do sul-fluminense Alemão terminou, no mesmo ano em que lá chegou, sua brilhante e inesquecível carreira nos gramados.

Decidiu voltar a Lavras para administrar sua fazenda e a fábrica de laticínios. Foram dois anos longe do futebol e voltado exclusivamente para seus empreendimentos.
Em 1998, a saudade do futebol tocou-lhe. Um amigo convidou-o para investirem em uma empresa de marketing esportivo. Alemão aceitou a oferta e nasceu a Player Empreendimentos Esportivos e Culturais, que logo fechou um contrato de longo prazo com o XV de Piracicaba.

Na contramão da maioria dos ex-jogadores, Alemão tentaria ser cartola e não treinador, ficando a frente do XV e, anos depois, do Tupi, de Minas Gerais. Mas não obteve sucesso.

SELEÇÃO E RUSGA COM TEIXEIRA

Pela seleção brasileira, Alemão disputou duas Copas do Mundo [1986, no México, e 90, na Itália] e a Copa América de 1989, conquistada pelo Brasil. Até hoje muitos o acusam de ter sido o responsável pelo erro de marcação no meio-de-campo da seleção que possibilitou a jogada de Maradona, seu colega de Napoli, que culminou no gol de Cannigia, que eliminou o Brasil do mundial de 90. Disputou 39 jogos pela seleção, obteve 25 vitórias e seis empates e marcou seis gols. Mas arrumou um desafeto de peso: Ricardo Teixeira, então presidente da CBF [Confederação Brasileira de Futebol].

A postura questionadora de Alemão não se restringiu aos tempos de Botafogo. Na seleção, ele brigou com a CBF por exigir que os cartolas cumprissem o prometido e pagassem o valor integral dos prêmios.


A troca de farpas entre ele e Teixeira foi parar na Justiça até que, em julho de 1993, o presidente da CBF decidiu retirar o processo que movia contra Alemão por este tê-lo acusado de receber, como comissão, parte do dinheiro de contratos de patrocínio da CBF. Alemão sempre exerceu liderança nos grupos pelos quais passou, seja no Botafogo ou na seleção.

Logo após a Copa de 86, encabeçou a lista dos jogadores descontentes com a premiação. Ali, conquistou o respeito de todos e de quem acompanhou o episódio pela imprensa.

Foi um jogador exemplar que merecia uma chance como treinador. Ela viria somente em 2007, após deixar de lado a carreira de procurador de jogadores. Começou no Tupynambás Futebol Clube, de Juiz de Fora, interior de Minas Gerais. O time disputava a segunda divisão do campeonato mineiro. No ano seguinte, teria a primeira oportunidade em um clube de expressão. Com o América Mineiro, disputou o módulo II do campeonato mineiro. Após essa experiência, treinou o Nacional, de Manaus, o Iguaçu, do Paraná, e chegou ao Central, de Caruaru, em Pernambuco, em 2012. Para aprimorar-se, estagiou no Napoli e no Reggina, da Itália.

Fora dos gramados, há anos participa do “Atletas de Cristo”, grupo de jogadores evangélicos batistas, e apóia a “Casa de Transformação Betânia”, em Lavras, instituição de recuperação de dependentes químicos. Em várias oportunidades, Alemão alegara ter se convertido evangélico em 1991, quando voltava de uma viajem a Lavras.

Igualmente a Heleno de Freitas, outro grande ídolo da história do Botafogo, jamais levantou uma taça pelo seu clube de coração, onde brilhou intensamente. Seu único prêmio foi individual: a “Bola de Prata” do futebol brasileiro, concedido em 1985 pela revista Placar.

Se alguns não o compreenderam fora de campo, decerto reconheceram que, nas quatro linhas, Alemão foi um dos melhores do seu tempo.

***

A biografia do Alemão está no primeiro volume (a Letra “A”) de “Ídolos – Dicionário dos craques do futebol brasileiro, de 1900 aos nossos dias”, com lançamento previsto para o mês que vem. A enciclopédia, que consiste em 18 volumes, está sob a edição da Livros de Futebol.com.

O ARTILHEIRO DO TIO SAM

por Rafytuz Santos


Hoje iniciamos a série “Era Uma Vez, No Futebol” com personagens do nosso tão querido e amado esporte!

Na matéria de hoje, tivemos uma conversa bem leve com Pinho, centroavante que vem fazendo o seu nome no famigerado “Soccer”. Acompanhe na íntegra a resenha:

O que te influenciou a jogar futebol?

Meu pai foi jogador profissional, jogou pelo Cruzeiro, Figueirense, entre outros. Tenho uma família de jogadores, então acho que está no sangue.

Como eram as peladas na sua infância? Você sempre foi o melhor entre a molecada? Como foi a sua passagem pelo Fluminense? Você acha que não foi aproveitado o suficiente?

Era futebol, escola, futebol, futebol e dormir… Eu tenho minhas qualidades! Da rapaziada da pelada eu fui o único que segui a carreira. Minha passagem pelo Fluminense teve altos e baixos, mas acho que conseguir fazer o meu papel na base, esperei tanto por uma oportunidade no profissional e ela nunca veio, paciência, vida que segue… Tenho carinho enorme pelo clube passei quase nove anos da minha vida!

Logo depois você foi emprestado para o Guaratinguetá! O que você destaca nessa passagem?

Foi mais de aprendizado, foi para me fortalecer. Aprendi muita coisa lá que levo para a vida toda.


Na sequência teve outro empréstimo, só que para o Madureira! Como foi atuar por lá?

Foi um pouco melhor que o primeiro, mas ainda não tinha chegado meu momento, foi bom pelas amizades, por poder fazer alguns jogos e adquirir um pouco mais de experiência!

Você também teve uma passagem pelo Mypa, da Finlândia! Como era o futebol praticado por lá? Aconteceu alguma situação engraçada por lá?

Na Finlândia eu comecei a me encontrar, foi um ano muito bom pra mim, o futebol lá é mais força, velocidade e muita obediência tática e isso ajudou a aprimorar meu jeito de jogar. Teve uma situação que eu achei que seria preso. estava na rodovia que que a velocidade máxima era 60 km/h e meus amigos falaram para eu ultrapassar um carro. Aí acelerei um pouco mais, passou um tempo e a polícia estava nos esperando um pouco mais a frente. Me colocaram na viatura pra checar endereço essas coisas só que a gente não sabia. Então, o pessoal e eu achávamos que eu estava sendo preso.


Você jogou pelo time do Strikers, clube administrado por Ronaldo Fenômeno na época! Existia algum tipo de pressão do brasileiro, pelo fato de você jogar na mesma posição em que ele atuava?

Não tinha, tinha muita brincadeira, rapaziada falava que se ele resolvesse jogar eu nunca mais ia para os jogos etc. Ainda bem que isso não aconteceu porque nesse ano fui o artilheiro e o melhor jogador da liga!

Você tem como treinador o italiano Alessandro Nesta, um dos maiores zagueiros da história do futebol mundial! Como é a sua relação com ele?

A gente se dá super bem, é um cara gente boa, é um típico italiano, né? Meio da lua, mas é engraçado.

Como é atuar pelo Miami FC? Como é a sua relação com a torcida, com a cidade?

Aqui é muito bom, me sinto em casa, clima, praia, restaurantes brasileiros, o futebol está crescendo e a torcida comparece nos estádios. Minha relação é muito boa com a torcida e com todos aqui do Miami FC!

Qual foi o maior momento da sua carreira?


Esse ano tiveram muitos! Quebramos muitos recordes aqui, acho que um dos mais importantes foi a vitória contra o time do Kaká que eu fiz os três gols da partida, mas espero que não pare por aí, porque estou concorrendo a melhor jogador de novo e posso me tornar o primeiro jogador a ser artilheiro e melhor jogador em uma temporada duas vezes.

Escala para a gente o time dos sonhos? Do goleiro ao atacante!

Buffon, Dani Alves, Sérgio Ramos, Thiago Silva e Marcelo; Kanté, Iniesta, Kroos, Cristiano Ronaldo, Messi e Neymar (da atualidade).

Para terminar, aonde você deseja encerrar a carreira?

Queria terminar no Brasil, mas não vou revelar o time!